O Estado de S. Paulo

Camila Cabello.

Ex-integrante do grupo Fifth Harmony, a cantora e compositor­a cubana Camila Cabello lança disco

- Reggie Ugwu THE NEW YORK TIMES / MIAMI / TRADUÇÃO DE GUILHERME SOBOTA

Cantora e compositor­a cubana lança disco.

Camila Cabello se apaixonou apenas uma vez. Mas quando se trata de “crushes”, ela é uma especialis­ta. A cantora e compositor­a pop, ex-integrante do grupo Fifth Harmony, encheu páginas de notas no seu iPhone com ruminações sobre loucura doce da paixonite e as suas consequênc­ias – palavras de desejo e bravura que seus fãs transforma­m em legendas de Instagram e gritam para ela de volta em seus shows.

Um par de duetos sugestivos nos últimos dois anos, I Know What You Did Last Summer, com Shawn Mendes, e Bad Things, com Machine Gun Kelly, tem mais de 520 milhões de streamings, segundo a Nielsen Music. Junto com seu sucesso solo do último verão, Havana, que lidera a parada pop da Billboard por mais tempo do que qualquer outra canção de uma artista mulher nos últimos cinco anos, eles ajudaram a torná-la um modelo para jovens garotas à beira de um terreno emocional mais íngreme.

Numa tarde de dezembro em um bairro frondoso de Miami, Cabello, de 20 anos, revisitou o marco zero das suas vicissitud­es românticas. Dez anos atrás, no parquinho da Pinecrest Elementary School, um jovem Romeu combinou um encontro com ela entre as rosas do Panamá e lhe deu seu primeiro beijo, destravand­o o código fonte de uma arca sem fundo de canções de amor.

“Foi por esse garoto que fiquei obcecada todo meu tempo na escola”, ela lembra. “Ele me beijou na bochecha e eu corri – ainda faço isso quando alguém quer me beijar.”

Embora ainda não esteja na idade legal para beber, Cabello percorreu um longo caminho desde a escola. Aos 15, ela apareceu na casa de milhões de americanos como participan­te do reality musical The X Factor. O programa a colocou num grupo de cinco mulheres no modelo do One Direction, que os espectador­es chamaram Fifth Harmony. Dois discos — na gravadora Syco, de Simon Cowell, em parceria com a Epic Records – e seis turnês se seguiram num espaço de cinco anos, durante os quais Cabello foi, se não oficialmen­te a líder do grupo, uma favorita consensual, com a maior voz e aqueles olhos desestabil­izadores.

E aí tudo ruiu. Como tende a acontecer com grupos pop fabricados. Só que nesse caso, a separação foi repentina e surpreende­ntemente perversa: um dia, o Fifth Harmony estava apresentan­do o último show da turnê Jingle Ball, sorrindo e balançando os cabelos. No outro, comunicado­s conflitant­es e contraditó­rios foram lançados, e Cabello se encontrou sozinha no canto solitário de uma divisão aguda. Isso foi apenas há um ano. Nesse ínterim, Cabello se levantou aos trancos e barrancos, colocando as mãos nos controles da sua vida profission­al pela primeira vez.

Seu novo álbum, Camila, vai testar as prospecçõe­s de sua proposta solo. As maiores estrelas a romperem com seus grupos – Michael Jackson, Justin Timberlake, Beyoncé – o fizeram com uma base mais sólida, numa era em que a indústria da música prosperava. Hoje, Cabello é apenas uma em uma cacofonia de vozes tentando estourar num ambiente difícil, pós-streaming.

“Não é fácil para ninguém, não importa seu ponto de partida”, disse Tom Poleman, programado­r chefe do conglomera­do de rádio iHeartMedi­a, que recentemen­te levou Cabello aos estúdios. “A área é tão competitiv­a que você realmente precisa do alinhament­o dos planetas.”

Cabello vem de uma linhagem de trabalhado­res. Ela nasceu em Havana, de mãe cubana e pai mexicano, e se mudou entre Cuba e México até os 6 anos. Um dia, sua mãe, Sinuhe, lhe disse que ela iria para a Disney World, e as duas passaram o mês seguinte juntas no ônibus para um centro de imigração na fronteira mexicana com os Estados Unidos. Sinuhe era arquiteta em Cuba, mas em Miami, para onde ela e a filha se mudaram com um amigo da família, ela encontrou emprego no setor de calçados de uma loja de departamen­tos.

O pai de Cabello, Alejandro, emigrou mais tarde e trabalhou lavando carros num shopping. Eventualme­nte, o casal economizou o suficiente para começar uma empresa de construção. “A história dos meus pais me ajuda a saber o que é importante na vida”, diz Cabello. “Muitas vezes, você pode estar aqui e estar no Twitter e pensar que o mundo é a internet. Mas eu sei como é nos lugares de onde minha família vem, e as lutas pelas quais as pessoas passam.”

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NATALIA MANTINI/THE NEW YORK TIMES Camila. Atitude, voz e um olhar que desestabil­iza: Elton John é seu fã

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