O Estado de S. Paulo

João Domingos

- E-MAIL: JOAODOMING­OS56@GMAIL.COM TWITTER: @JOAODOMING­OS14 JOÃO DOMINGOS É JORNALISTA E ESCREVE AOS SÁBADOS

Jair Bolsonaro é um candidato reativo. Depende de Lula para se firmar entre os eleitores.

Faltam dez meses para a eleição presidenci­al e o quadro ainda é muito confuso. Mas já é possível antecipar que o desempenho do deputado Jair Bolsonaro na eleição presidenci­al e dos candidatos do PT a governador, senador e deputado dependerá do ex-presidente Lula, mesmo que estejam, como estão, em posições tão opostas.

Hoje Bolsonaro se vende para o eleitor como a antítese de Lula, o que o faz aparecer sempre em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, atrás do ex-presidente. Caso Lula seja enquadrado na Lei da Ficha Limpa pelo TRF da 4.ª Região, no julgamento do dia 24, e fique impedido de concorrer, Bolsonaro também será prejudicad­o. Não terá mais um adversário para atacar.

“Se o Lula cair fora, o Bolsonaro perde densidade eleitoral, porque ele não é propositiv­o. O que o segura até agora na posição que está é o fato de ser reativo a Lula e ao PT”, diz o cientista político Antonio Augusto de Queiroz, do Departamen­to Intersindi­cal de Assessoria Parlamenta­r (Diap), que desde a Constituin­te de 1987/88 acompanha as eleições para o Congresso e para presidente.

Da mesma forma, Lula depende de Bolsonaro para se apresentar ao mercado como uma alternativ­a mais confiável, que já passou pela experiênci­a de dois mandatos, e ao eleitor, como um candidato capaz de se opor ao conservado­rismo medieval do deputado.

Quanto aos candidatos do PT a todos os outros cargos, se Lula disputar a Presidênci­a, poderá garantir a eleição de bancadas parecidas com as atuais no Senado e na Câmara. Caso não seja candidato, a tendência é uma queda no número de eleitos.

Isso ocorrerá porque, mesmo nos Estados em que o PT tem condições de reeleger o governador, como Bahia, Ceará e Piauí, a aliança em torno do candidato é muito ampla. Deverá beneficiar mais outros partidos do que o próprio PT. No Ceará, por exemplo, ela vai do MDB ao PDT, que lançarão para o Senado Eunício Oliveira, presidente da Casa, atrás da reeleição, e o ex-governador Cid Gomes. O senador petista José Pimentel foi rifado. Na Bahia, o principal aliado é o PP. No Piauí até o PSDB poderá entrar na coligação.

Quanto ao candidato do PT à Presidênci­a, se não for Lula, dificilmen­te ele chegará ao segundo turno, avalia Queiroz. “O teto de votação de Lula é diferente do teto de votação do PT, que é de cerca de 20%. Nesse sentido, se Lula apoiar um candidato do PT (talvez o ex-ministro Jaques Wagner), esse deverá chegar a 20% dos votos. Não mais do que isso. Agora, se apoiar um de outro partido, esse provavelme­nte chegará ao segundo turno. Porque Lula conseguirá transferir os votos do PT, que se juntarão aos do outro candidato. Somados, poderão alcançar 30%, o que já é suficiente para garantir a passagem para o segundo turno.”

Na mais recente pesquisa Datafolha, em dezembro, Ciro Gomes, do PDT, ficou com 12% e 13%, em dois cenários sem Lula. Pelo raciocínio de Queiroz, se Lula conseguir transferir os votos do PT a Ciro, ele tem condições de chegar ao segundo turno.

São exercícios, claro. Porque Lula tentará tocar sua candidatur­a até o fim. Mesmo porque – e ele sabe disso muito bem – se não se candidatar condenará o PT a sofrer uma redução muito grande tanto no Senado quanto na Câmara. E redução de bancada tem reflexo no Fundo Partidário, tempo de TV e até espaço físico no Congresso.

Por isso mesmo é que Lula insistirá em tantos quantos recursos forem possíveis a tribunais superiores para manter a candidatur­a a presidente caso a condenação a 9 anos e 6 meses de prisão, aplicada ao ex-presidente pelo juiz Sérgio Moro, no caso do triplex do Guarujá, seja confirmada pelo TRF-4.

Bolsonaro é um candidato reativo. Depende de Lula para se firmar entre os eleitores

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