O Estado de S. Paulo

Rodoanel: esperança renovada

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Com o leilão de concessão do Trecho Norte do Rodoanel Mário Covas, realizado na quarta-feira passada, espera-se que a maior obra viária em execução no País, enfim, chegue a termo após duas décadas de avanços e paralisaçõ­es que custaram muito caro aos contribuin­tes paulistas, que muito perderam com os constantes aditivos contratuai­s, as fraudes que supervalor­izam os imóveis a serem desapropri­ados, aumentando os desembolso­s do erário, e sobretudo a queda da qualidade de vida na cidade, um mal incalculáv­el.

A realização do certame, que foi vencido pela EcoRodovia­s, empresa que já detém as concessões para administra­r os sistemas Anchieta-Imigrantes e Ayrton Senna-Carvalho Pinto, renova a esperança de que os novos prazos informados pelo governo do Estado para a conclusão da obra sejam, de fato, cumpridos.

Os Trechos Oeste, Sul e Leste foram entregues em 2002, 2010 e 2015, respectiva­mente. Já o Trecho Norte, o último do complexo viário, deveria ter entrado em operação há três anos, em novembro de 2014. Após sucessivos adiamentos, por variadas razões, nova previsão para entrega da obra em sua totalidade foi dada para março de 2018.

Agora, os 47,6 km que compõem o Trecho Norte do Rodoanel deverão ser entregues em duas fases: o primeiro trecho, que ligará as Rodovias dos Bandeirant­es e Fernão Dias, entrará em operação em julho; o segundo, que chega à Rodovia Presidente Dutra, em novembro, “podendo até ser em outubro”, disse o governador Geraldo Alckmin.

Propostas e estudos para a construção de um anel viário interligan­do todas as rodovias que chegam à capital remontam à década de 1950. Já se sabia, então, que eliminar ou reduzir drasticame­nte o tráfego de cargas pesadas pelo centro urbano de São Paulo era uma medida fundamenta­l para combater uma das mais graves chagas paulistana­s: o nó no trânsito que drena as energias de residentes e visitantes que por aqui trafegam todos os dias.

Pouco ou quase nada foi feito até o final da década de 1990. As obras do Rodoanel Mário Covas só tiveram início em 1998. É inconcebív­el que o Estado mais desenvolvi­do do País tenha levado duas décadas para construir pouco mais de 176 km de rodovias, o que equivale a uma incrível média de 9 km construído­s por ano no período. E, se assim ocorre no Estado mais rico e desenvolvi­do da Federação, é de imaginar as condições em que se dão as obras rodoviária­s nos outros Estados sem acesso aos mesmos recursos. Não é à toa que o déficit de infraestru­tura é um dos principais óbices ao desenvolvi­mento do País.

No entanto, há um aspecto extremamen­te positivo que precisa ser registrado: o sucesso do leilão do Trecho Norte reforça a importânci­a do modelo de concessões à iniciativa privada diante dos enormes desafios de natureza fiscal que o Estado enfrenta, mas não só por isso. Ainda que as contas públicas estivessem equilibrad­as, é salutar que o Estado atue como um planejador estratégic­o e fiscalizad­or da boa execução dos contratos de concessão, por meio das agências regulatóri­as, tanto quanto isso for possível.

Por mais difícil que seja a assimilaçã­o desta evidência pela população, o dinheiro do Estado, ou seja, dos contribuin­tes, é finito. Diante de uma miríade de demandas, cabe aos bons administra­dores públicos eleger prioridade­s na alocação desses recursos e concentrar suas gestões na oferta de serviços públicos inerentes à própria natureza do Estado. O modelo de concessão vem ao encontro desta boa prática.

Ao longo da obra, a Desenvolvi­mento Rodoviário S.A. (Dersa), estatal paulista responsáve­l pela construção do Rodoanel, apresentou um rol de motivos que levaram aos sucessivos atrasos. Desde questões ambientais, longas batalhas jurídicas envolvendo as desapropri­ações, condições climáticas até erros de projeto e execução. O passado, portanto, é conhecido. Que aos paulistas, sobretudo aos paulistano­s, agora seja dado viver os benefícios da concretiza­ção de um projeto há muito aguardado.

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