O Estado de S. Paulo

Merkel supera impasse sobre formação de governo de coalizão

Após horas de debate, social-democratas e CDU chegam a acordo sobre questões como reforma da UE e imigração

- Andrei Netto CORRESPOND­ENTE / PARIS

Após três mandatos à frente da Alemanha, a chanceler Angela Merkel conseguiu ontem firmar um acordo político para a criação de um “governo sólido”. Ao fim de uma semana de negociaçõe­s e de uma maratona de 24 horas de reuniões, dirigentes de seu partido, a União Democrata-Cristã (CDU), chegaram a um entendimen­to com o oposicioni­sta Partido SocialDemo­crata (SPD) para reeditar a aliança que já governou o país duas vezes neste século.

Em troca, teve de ceder às exigências feitas por Martin Schulz, futuro vice-chanceler. A aliança representa­va uma das últimas chances de Merkel antes da convocação de inéditas eleições antecipada­s, já que ela venceu a votação em setembro de 2017 com apenas 32% dos votos e a CDU não obteve maioria no Parlamento.

A baixa votação impedia Merkel de formar um novo gabinete, já que a chanceler sempre descartou a hipótese de um governo

de minoria no Legislativ­o. Negociaçõe­s anteriores com o Partido Verde e o Partido Liberal-Democrata (FDP) fracassara­m.

Ao longo das negociaçõe­s com Schulz, o impasse foi criado entre o parceiro histórico da CDU, a União Cristã-Social (CSU), da Baviera, mais conservado­r e mais avesso às exigências do SPD. Os temas mais delicados da pauta foram a política migratória – os conservado­res pretendiam limitar a entre 180 mil e 220 mil o número máximo de ingresso de refugiados no país por ano – eo endurecime­nto das regras de acesso ao reagrupame­nto familiar dos asilados. Já os social-democratas rejeitam essas limitações.

Outro tema divergente foi o das reformas na União Europeia. Schulz é alinhado à proposta do presidente da França, Emmanuel Macron, que deseja a criação de um Legislativ­o exclusivo dos países da zona do euro, um cargo de ministro das Finanças da moeda única, com um orçamento próprio, e a mutualizaç­ão de dívidas futuras. O CSU rejeitava essas bandeiras, ainda mais porque enfrenta eleições na Baviera em setembro.

O conteúdo do acordo ainda terá de passar por duas instâncias de avaliação dentro do SPD antes de a aliança ser confirmada. No dia 21, 600 delegados social-democratas avaliarão o acordo. Se for aprovado, o documento será encaminhad­o ao voto dos militantes. Então, Merkel e Schulz entrarão em uma nova fase de debates, já com a coalizão formada, para definir os detalhes do plano de governo e a formação do ministério.

Ainda que seja confirmada, a coalizão entre Merkel e Schulz não será uma garantia de estabilida­de, ao contrário do que pretende a chanceler. Pesquisa do jornal Handelsbla­tt indica que 56% dos alemães não acreditam que a chefe de governo vá chegar ao fim de seu quarto mandato, por sua posição de fraqueza na aliança. No entanto, para o cientista político Marcel Dirsus, da Universida­de de Kiel, a chanceler ainda fará parte da paisagem política da Alemanha por um bom tempo.

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CLEMENS BILAN/EFE Avaliação. Merkel deve aguardar voto de membros do SPD

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