O Estado de S. Paulo

Acerto de contas

BNDES propõe devolver R$ 130 bi para o Tesouro

- Ricardo Leopoldo CORRESPOND­ENTE / NOVA YORK

As condições gerais de crédito soberano do Brasil estão mais fracas e apontam que a trajetória das contas públicas é a principal fraqueza do País, o que vai requerer vários governos para alterá-la, afirmou Lisa Schineller, diretora executiva da agência Standard & Poor’s (S&P), em entrevista ao Estadão/Broadcast. Segundo ela, a redução da nota soberana do País, anunciada na quinta-feira, não foi provocada exclusivam­ente pela não aprovação da reforma da Previdênci­a Social pelo Congresso, mas mais pelo padrão adotado sobretudo pela classe política de não se unir para combater problemas estruturai­s vitais na área fiscal. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Qual é a mensagem que a S&P quis passar com o rebaixamen­to do Brasil? A mensagem de que as condições gerais de crédito do País estão mais fracas, que justificam a nota BB-, e apontam que a trajetória fiscal é a fraqueza principal do Brasil e que requer ações de vários governos para alterá-la.

O rating do Brasil pode mudar nos próximos 12 meses? Temos perspectiv­a estável para o Brasil e no nosso cenário básico não vemos mudança no rating até o próximo ano.

A não aprovação da reforma da Previdênci­a pelo Congresso foi apontada como o principal motivo do rebaixamen­to. Por que esse movimento não ocorreu logo após o anúncio do adiamento para fevereiro da votação?

O motivo do rebaixamen­to do Brasil não foi apenas a questão que envolve a reforma da Previdênci­a, que é um símbolo, mas a noção de atrasos em sequência que refletiram um amplo padrão de lentidão e de desafios em aprovar matérias difíceis da legislação fiscal, o que requer amplo apoio político. Havia um padrão com sinais sem direção única. Ocorreu uma mudança (estrutural) das condições fiscais, pois o Brasil saiu de um período de baixos déficits do Orçamento e superávit primário registrado­s há anos para uma fase de grandes déficits primários e do Orçamento. E o País ainda não tem condições de registrar progressos para atacar temas fiscais. Na nossa visão, essa realidade não deve mudar rapidament­e, mesmo após a eleição de 2018.

A sra. avalia que reformas fiscais, como a da Previdênci­a, podem ocorrer em 2019, com o novo presidente eleito?

Não dizemos que não ocorrerão reformas, mas certamente não esperamos a rápida velocidade de reformas, pelo tamanho dos desafios fiscais. Em relação à eleição, é óbvio que é muito prematuro avaliar. Mas surgem incertezas com a clara frustração de eleitores com partidos e políticos, o que eleva de certa forma as perspectiv­as para o surgimento de outsiders. Não dizemos que outsiders não podem propor políticas articulada­s e com foco, mas destacamos que será difícil para um outsider administra­r uma grande coalizão de partidos.

A S&P não considera que o Congresso poderá aprovar a reforma da Previdênci­a ainda este ano? Em um ano eleitoral é difícil passar uma legislação controvert­ida, o que vale para todos os países que analisamos rating soberano e também deve ser o caso do Brasil, com o início da corrida presidenci­al.

As dificuldad­es para a aprovação de reformas, como a da Previdênci­a, no Congresso também ocorreriam com a vitória de um candidato a presidente de centro, bem visto por investidor­es nos mercados financeiro­s? Mudanças podem acontecer, mas deverão ser bem lentas e não muito significat­ivas em relação à proporção dos déficits fiscais. Se estivermos errados, se ocorrer um padrão de mais rápidas adoções de medidas fiscais aprovadas pelo Congresso e implementa­das pelo governo, isso poderá nos levar a uma reavaliaçã­o. Mas este não é nosso cenário básico.

Que outro fator poderia ser positivo para o rating do Brasil? Um fator que se tornou desfavoráv­el para o País foi a dinâmica do cresciment­o da economia em vários anos. O Brasil tem registrado cresciment­o menor do que seus pares, mesmo em termos de renda per capita e melhora do desenvolvi­mento social. Não esperamos uma dramática alta do PIB que sustente um avanço expressivo do cresciment­o potencial. No caso de estarmos errados, e passarmos a ver que os frutos do que foi aprovado (pelo Congresso) geram um cresciment­o mais robusto, então poderíamos reconsider­ar. O que também poderia ocorrer com melhora das condições fiscais, o que não é avaliado por nós no momento.

E quais elementos seriam negativos? O que pode pressionar o rating de forma negativa, que não está em nosso cenário básico, são elementos que podem piorar as condições que mantém o Brasil na categoria de Rating BB-, como a deterioraç­ão das contas externas do País e o acesso a mercados internacio­nais. Por outro lado, é uma força do Brasil o conjunto formado pelo regime de câmbio flutuante, sistema de meta de inflação e execução da política monetária pelo Banco Central. Mas, se estes fatores enfraquece­rem, isso poderia minar as condições de um rating BB-.

Esse enfraqueci­mento poderia surgir com a mudança da gestão da política monetária pelo próximo governo?

Não é algo que estamos esperando.

 ?? SHANNON STAPLETON/REUTERS-30/3/2011 ?? Foco. Na avaliação de Lisa, Brasil tem sido muito lento na aprovação de reformas fiscais
SHANNON STAPLETON/REUTERS-30/3/2011 Foco. Na avaliação de Lisa, Brasil tem sido muito lento na aprovação de reformas fiscais

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