Permanece o otimismo mesmo com rebaixamento do País pela S&P
O rebaixamento do rating soberano pela agência de classificação de risco Standard & Poor's, nesta semana, não desfez a visão otimista dos analistas para as ações em 2018. O entendimento é que a notícia era esperada desde o fim do ano passado e pode ter apenas um efeito marginal sobre o custo de captação de recursos pelas companhias no exterior.
“Primeiramente, acreditamos que o rebaixamento em si já era amplamente esperado pelos investidores, uma vez que o governo não teve sucesso em aprovar a Reforma da Previdência no ano passado, além de ser forçado a elevar o déficit fiscal esperado para 2017”, explicou Ricardo Peretti, analista do Santander. Em segundo lugar, ele destacou que o CDS brasileiro de 5 anos (medida de risco para um possível calote do Brasil) já negocia em linha com a média de países BB-, segundo a escala S&P (Costa Rica, Guatemala e Vietnã). “Ou seja, não enxergamos nenhuma mudança substancial de entrada e/ou saída de recursos do Brasil por conta disto.”
Carlos Soares, analista da Magliano, disse que, no geral, nada muda, pois os investidores estrangeiros ainda devem manter interesse no País. O indicador risco país se encontra em nível baixo há “muito tempo”, lembrou. Quanto aos setores, Soares afirmou que não visualiza um ou outro afetado, mas sim as empresas como um todo, principalmente aquelas que estavam estudando captar recursos no mercado financeiro no exterior.
Os analistas da XP Investimentos, por sua vez, mantiveram a perspectiva para a bolsa, uma vez que não esperam que isso desencadeie mudanças nos fundamentos das empresas. Felipe Silveira, analista da Coinvalores, corrobora com esta tese. Na sua opinião, o rebaixamento não muda a perspectiva para a bolsa, porque a expectativa de recuperação da atividade doméstica e a alta liquidez nos mercados internacionais têm se sobressaído e este cenário deve permanecer.
Também para o analista Vitor Suzaki, da Lerosa, no curto prazo, a perspectiva para a bolsa não terá grandes alterações. Ele lembrou que o rebaixamento do Brasil era um fator já precificado pelo mercado. “Além disso, cria um alerta importante ao Congresso para a urgência da votação de reformas fiscais necessárias, sendo a mais importante a da Previdência, mas também a reoneração da folha de pagamentos, a tributação de fundos exclusivos, entre outras.” Ele destacou ainda outro fator importante, que é a visão dos investidores estrangeiros, cujo forte ingresso de capital nos últimos tempos tem ajudado a impulsionar o índice Bovespa a máximas históricas.
“O estrangeiro, neste momento de elevada liquidez global, tem alocado capital em países emergentes de maneira geral e não importando muito o selo de grau de investimento do Brasil, porque já não o possuímos desde setembro de 2015”, afirmou. Suzaki não acredita que nem mesmo que, no curto prazo, a captação das empresas no exterior deva ter grandes alterações. “O ambiente global benigno ainda está favorável a emergentes e não tem algum fator no radar que possa se traduzir em maior aversão a risco no curto prazo”, disse, lembrando que os dois fatores importantes para este primeiro bimestre são o julgamento do ex-presidente Lula e a reforma da Previdência, que implicam em uma expectativa para o cenário eleitoral que é a chave para o médio e o longo prazo nos mercados financeiros.