O Estado de S. Paulo

Auditoria detecta ação política na Caixa

Investigaç­ão contratada pelo banco encontrou casos de influência em quatro vice-presidênci­as; estatal diz que há erro de interpreta­ção

- Fabio Serapião / BRASÍLIA

Investigaç­ão independen­te contratada pela Caixa sugere influência política no banco em ao menos quatro vice-presidênci­as. O documento foi produzido pelo escritório Pinheiro Neto e será anexado aos processos relacionad­os ao banco para reforçar as denúncias contra políticos e exfuncioná­rios que atuariam em favor de grandes empresas.

Ontem, a Procurador­ia da República do Distrito Federal entregou à 10.ª Vara Federal em Brasília as alegações finais no processo sobre desvios na vicepresid­ência de Fundos de Governo e Loterias, responsáve­l pelo fundo de investimen­to do FGTS (FI-FGTS). O caso teve origem na Operação Sépsis, que prendeu o corretor Lúcio Bolonha Funaro, apontado como operador do ex-deputado Eduardo Cunha e do PMDB da Câmara.

O documento produzido pelo Pinheiro Neto é o mesmo cujo conteúdo embasou a recomendaç­ão do MPF para que a Caixa substitua os seus 12 vice-presidente­s e contrate uma empresa de recrutamen­to para selecionar os executivos do banco.

A solicitaçã­o foi encaminhad­a ao banco e ao ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, em dezembro de 2017. Em resposta, a Caixa negou a troca de executivos e afirmou ter um “sistema de governança adequado à Lei das Estatais, fazendo com que a maior parte das recomendaç­ões já estejam implementa­das, em implementa­ção ou em processo de estudo pelas suas instâncias decisórias, antes mesmo de qualquer manifestaç­ão do MPF”.

A Caixa é alvo das operações

Mais exigências Em junho de 2016, Michel Temer sancionou a Lei das Estatais, que estabelece regras rígidas para os dirigentes, como exigência de 10 anos de atuação em empresa do setor ou 4 em companhia similar.

Sépsis, que apura desvios no FIFGTS; Cui Bono?, sobre desvios em liberações de créditos a grandes empresas; e Patmos, que investiga desvios praticados por Geddel Vieira Lima e Fábio Cleto, ex-vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias. Personagen­s políticos como Cunha e o ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB) estão presos por causa dessas operações.

No documento encaminhad­o à Caixa, os procurador­es apontaram supostas irregulari­dades que teriam sido mapeadas pela investigaç­ão do Pinheiro Neto contra ao menos quatro vice-presidente­s do banco: vazamento de informaçõe­s privilegia­das para políticos sobre andamento de pedidos de empréstimo­s, negociação de cargo em estatal como moeda de troca para liberação de crédito e pedidos para atender a “demandas” de políticos como garantia para a manutenção da vaga de vice-presidente.

Em dezembro de 2016, o Estado mostrou que 11 dos atuais 12 vice-presidente­s foram indicados por sete partidos: PMDB, PSDB, DEM, PR, PRB, PP e PSB. Ainda na interinida­de, Temer anunciou que barraria o aparelhame­nto político nas estatais e fundos de pensão. Ele suspendeu as nomeações com o argumento de que só seria nomeado “pessoal com alta qualificaç­ão técnica”. José Henrique Marques da Cruz

Outro lado. Por meio da assessoria de imprensa, a Caixa informou que “não concorda com as interpreta­ções que vem sendo dadas às conclusões do relatório do Escritório Pinheiro Neto, elaborado a pedido da própria Caixa. Tais interpreta­ções vem gerando percepções equivocada­s em relação ao banco e alguns dirigentes”. O ministro Moreira Franco e o ex-ministro Marcos Pereira negaram que tenham influência na Caixa. As defesas do ex-deputado Cunha e do ex-ministro Geddel não respondera­m aos pedidos de posicionam­ento da reportagem. Antônio Carlos Ferreira Relatório interno apontou relações com Geddel Vieira Lima e Cunha, que tinham interesse sobre operações Marfrig/Seara e J&F. Eles esperavam sinalizaçã­o de pagamento da J&F em razão de operação do conglomera­do Roberto Derziê de Sant’Anna Troca de mensagem de Cunha e Geddel apontam Derziê como intermedia­dor de interesses de Henrique Constantin­o na Caixa. Joesley Batista afirma conhecer que ele está envolvido em “recebiment­o de pagamentos indevidos”

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ANDRE DUSEK/ESTADAO Defesa. Caixa diz que segue sistema adequado à Lei das Estatais para escolher executivos

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