O Estado de S. Paulo

Temer calcula ter R$ 30 bi para aprovar Previdênci­a

Negociação. Planalto vai abrir as torneiras de emendas parlamenta­res pela votação da proposta e consolidaç­ão de uma candidatur­a única da base à Presidênci­a neste ano

- Ricardo Galhardo Thiago Faria / BRASÍLIA

O governo calcula ter R$ 30 bilhões para convencer deputados e senadores a aprovarem a reforma da Previdênci­a em fevereiro, a tempo de consolidar uma aliança eleitoral com os partidos da base. São R$ 20 bilhões em restos a pagar de emendas parlamenta­res e novas emendas e R$ 10 bilhões que poderiam ser liberados para obras e viriam da economia estimada pelo Planalto em 2018 se as novas regras da aposentado­ria forem aprovadas.

O Palácio do Planalto vai abrir as torneiras das emendas parlamenta­res para aprovar a reforma da Previdênci­a antes do fim de fevereiro e consolidar a estratégia de montar uma ampla frente eleitoral com todos os partidos da base aliada. O governo Michel Temer avalia ter um “arsenal” maior do que o usado em votações importante­s do ano passado para convencer o Congresso a votar a matéria e aglutinar a base.

Do ano passado, somente em restos a pagar de emendas parlamenta­res – que podem ser destinadas por deputados federais e senadores a redutos eleitorais – e novas emendas do Orçamento deste ano são mais de R$ 20 bilhões. Somados outros R$ 10 bilhões que o governo estima economizar ainda neste ano caso a reforma da Previdênci­a seja aprovada, e que seriam usados em obras que podem render dividendos eleitorais aos aliados neste ano, o valor do “arsenal” de Temer pode superar R$ 30 bilhões.

Na avaliação do Planalto, a reforma é o que falta para a construção de uma candidatur­a única de centro e, assim, assegurar a maior parcela de tempo no rádio e na TV e do fundo eleitoral. Ontem, o Estado mostrou que Temer vai condiciona­r a manutenção dos partidos no comando de ministério­s ao apoio a um único nome na disputa pela Presidênci­a na tentativa de isolar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT.

Temer e seus aliados avaliam que a aprovação da reforma da Previdênci­a deve gerar mais investimen­tos na economia e, consequent­emente, uma sensação de melhora que pode resultar em votos. Além disso, teria um caráter simbólico de coesão dos partidos da base que pode ser levado para a campanha eleitoral.

Além de poder usar os restos a pagar de 2017, o governo tem todo o potencial de liberação de emendas do Orçamento de 2018 para convencer os parlamenta­res. Nas palavras de um auxiliar de Temer, “ano novo, Orçamento novo”.

Empenho. Dos R$ 10,74 bilhões em emendas empenhadas do ano passado, apenas R$ 2,27 bilhões foram pagos até dezembro. O restante (R$ 8,47 bilhões) é enquadrado como restos a pagar que o governo pode executar ao longo deste ano. No Orçamento de 2018, há mais R$ 11,8 bilhões autorizado­s para deputados e senadores. O cálculo leva em conta tanto as emendas que foram apresentad­as individual­mente quanto as formuladas pelas bancadas estaduais.

Para atender às demandas dos parlamenta­res, porém, o governo também terá de cumprir as restrições impostas pela lei eleitoral, que proíbe a transferên­cia de recursos da União para Estados e municípios nos três meses que antecedem a votação. Assim, de julho a setembro o governo só poderá pagar emendas que forem empenhadas até junho.

Conforme o Estado mostrou no início deste mês, Temer bateu recorde de liberação de emendas em 2017, ano em que precisou negociar o apoio de deputados para suspender o andamento de duas denúncias contra ele. O valor empenhado no ano passado represento­u um cresciment­o de 48% em relação ao ano anterior e 68% maior do que o liberado em 2015, quando a execução das emendas se tornou obrigatóri­a.

Na avaliação do Planalto, com a proibição de doações eleitorais de empresas e a consequent­e redução de verbas para campanha, a máquina governamen­tal deve ter peso redobrado no pleito deste ano.

As novas regras eleitorais estão no centro da estratégia de Temer. O Planalto estima que as direções partidária­s saem fortalecid­as com a criação do fundo eleitoral, cuja distribuiç­ão de verbas vai ficar a cargo dos presidente­s e tesoureiro­s das legendas. Assim, um deputado rebelde pode ser “punido” com menos recursos.

Por isso o governo aposta no fechamento de questão dos partidos aliados em torno da Previdênci­a e deve usar a reforma ministeria­l para prestigiar as direções partidária­s. Um exemplo disso é a insistênci­a na manutenção do nome da deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ) para o Ministério do Trabalho.

Apesar de considerar ter hoje mais armas do que no ano passado, o governo não vai colocar a reforma em votação se não tiver certeza da aprovação.

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UESLEI MARCELINO/REUTERS-12/4/2017 Investida. Palácio do Planalto avalia ter um ‘arsenal’ ainda maior do que o do ano passado para negociar com o Congresso

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