Questionário da PF
Em resposta a 50 questões feitas pela Polícia Federal no inquérito do qual é alvo, presidente negou ter beneficiado setor portuário
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Em resposta a perguntas feitas pela PF no inquérito do qual é alvo, Temer disse nunca ter autorizado Rodrigo Rocha Loures a fazer tratativas em seu nome.
O presidente Michel Temer afirmou à Polícia Federal que nunca autorizou seu ex-assessor especial e ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (MDB-PR) a fazer tratativas em seu nome. “Nunca autorizei que o sr. Rodrigo Rocha Loures fizesse tratativas em meu nome com empresários do setor portuário visando ao recebimento de valores em troca de melhores benefícios para aquele setor”, escreveu Temer no documento protocolado ontem no Supremo Tribunal Federal com suas respostas às 50 perguntas formuladas pela PF no âmbito de um inquérito que investiga suposto esquema de corrupção envolvendo a edição do Decreto dos Portos.
O presidente optou por prestar esclarecimentos à PF por escrito. No documento, Temer admitiu que conhece o presidente do Grupo Rodrimar, Antônio Celso Grecco, e que já o encontrou em uma festa de aniversário. A Rodrimar atua no Porto de Santos e foi beneficiada pelo decreto assinado por Temer em maio do ano passado, que ampliou de 25 para 35 anos as concessões do setor, prorrogáveis por até 70 anos. Temer, Grecco, Rocha Loures e Ricardo Conrado Mesquita, diretor da Rodrimar, são investigados no inquérito, relatado pelo ministro Luís Roberto Barroso, do STF.
No documento de 12 páginas, Temer criticou a “impertinência” e o “caráter ofensivo” de algumas questões “por colocar em dúvida” a sua “honorabilidade e dignidade pessoal”.
Sobre sua relação com o presidente da Rodrimar, Temer esclareceu que esteve com ele “rapidamente”, “em duas ou três oportunidades”, mas que não teria tratado sobre concessões para o setor portuário. “Encontrei-me com o sr. Antônio Celso Grecco em uma festa de aniversário de um amigo comum. Nenhum pedido me foi formulado por ele, nem nesta, nem em ocasião nenhuma”, responde Temer. Em uma das manifestações de Grecco durante o processo de investigação, a defesa do presidente da Rodrimar afirmou que não havia amizade entre ele e Temer. Procurada pela reportagem, a Rodrimar informou que não se manifestaria.
Assessor. Quando a PF questiona o porquê de representantes das empresas concessionárias do setor de portos terem procurado Rocha Loures em 2017, Temer reafirma que não determinou que o então assessor acompanhasse as questões das concessões das empresas.
Sobre um “contato intenso” entre Rocha Loures e Ricardo Mesquita, Temer afirmou que não foi informado. O presidente disse ainda que Loures foi seu assessor porque “depositava confiança quanto ao exercício das funções inerentes à sua assessoria”. Em depoimento à PF no ano passado, Loures negou que tenha recebido qualquer recurso por meio de doação eleitoral da Rodrimar ou de qualquer outra empresa ligada ao setor portuário.
Temer negou que o Grupo Rodrimar tenha sido beneficiado com a edição do Decreto dos Portos. O presidente ainda disse que não foi procurado por empresários do setor sobre a edição do texto e que não acompanhou sua tramitação.
O presidente disse ainda não conhecer Ricardo Mesquita nem Edgar Safdie. Os dois são apontados na denúncia oferecida pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot como supostos intermediários de repasses de recursos ilícitos. Janot também citou Grecco e dois amigos de Temer, o coronel João Baptista Lima Filho e o ex-assessor especial do presidente José Yunes.
Apesar de admitir ter relações mais próximas com Lima Filho e Yunes, Temer negou que tenha solicitado aos dois que recebessem recursos em seu nome em retribuição pela edição de normas contidas no Decreto dos Portos.
Temer também respondeu à PF que não recebeu pedido de executivos do Grupo J&F para entrar em contato com a direção da Companhia Docas do Estado de São Paulo, para resolver pendências das empresas ligadas ao grupo.
“Elas (perguntas) denotam absoluta falta de respeito e principalmente ausência das necessárias imparcialidade e isenção por parte de quem deve buscar a verdade real e não a confirmação de uma imaginada responsabilidade.”
Michel Temer
PRESIDENTE DA REPÚBLICA