O Estado de S. Paulo

Banco quer reter lucro total

Medida pode ajudar banco a cumprir regras internacio­nais sem socorro do FGTS

- Adriana Fernandes / BRASÍLIA Eduardo Laguna / SÃO PAULO

A Caixa e o governo estão em disputa sobre o lucro do banco em 2017. Há um acordo para que a instituiçã­o financeira fique com 75% do ganho, mas o comando do banco quer reter 100%, para se capitaliza­r.

Caixa e Ministério da Fazenda estão numa disputa sobre a parcela que cada um vai ficar do lucro do banco em 2017. Já há um acordo entre Tesouro Nacional e Caixa para que o banco fique com uma parcela de 75% do lucro do ano passado, mas o comando da instituiçã­o propôs que todo o lucro seja retido. Isso ajudaria no cumpriment­o das regras prudenciai­s de capital do Banco Central sem a necessidad­e da operação de socorro com recursos do FGTS.

Segundo apurou o Estadão/Broadcast, há uma regra que define um mínimo de 25% de distribuiç­ão de dividendos aos acionistas (no caso da Caixa, a União é a única acionista), mas pode haver exceção. Se o banco precisar, poderá reter 100%.

Até agosto de 2017, o lucro do banco acumulado estava em R$ 8 bilhões e a expectativ­a é de um resultado recorde muito melhor, superior a R$ 10 bilhões. O maior resultado do banco foi computado em 2015, quando o lucro chegou a R$ 7,3 bilhões.

Em 2016, a Caixa repassou ao Tesouro 25% do lucro de R$ 4,1 bilhões na forma de dividendos. Segundo fontes, ainda não há uma decisão tomada. Na próxima terça-feira, haverá uma reunião do conselho de administra­ção do banco, quando serão discutidas as alternativ­as em substituiç­ão à operação de R$ 15 bilhões com o dinheiro do FGTS. A ideia é anunciar o que for decidido no colegiado, informou um integrante da equipe econômica.

Críticas. O presidente da Caixa, Gilberto Occhi, tem repetidame­nte criticado o alto repasse de dividendos do banco para o Tesouro fechar as contas nos últimos anos dentro da meta fiscal. Para a Caixa, esse é um dos motivos do risco de descumprim­ento do banco nas regras internacio­nais que exigem uma parcela de capital para o montante emprestado. Essas regras vão ficar mais rigorosas em

2019, quando há risco de “desenquadr­amento” da Caixa.

Os repasses de dividendos cresceram a partir de 2010 e chegaram a R$ 7,7 bilhões em 2012.

Em 2016, os dividendos pagos caíram para R$ 738,7 milhões. No ano passado até novembro (último dado disponível), a Caixa não havia pago nada.

Como mostrou o Estadão/Broadcast, a equipe econômica é contrária à operação com o FGTS e diz que o banco tem como se ajustar e fazer o

“dever de casa” para evitar o descumprim­ento da regra de Basileia.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, confirmou ontem que a equipe econômica vai apresentar “nos próximos dias” alternativ­as para capitaliza­r a Caixa sem recursos do FGTS. “Vamos viabilizar a recapitali­zação. A capacidade da Caixa deve ser preservada para continuar emprestand­o onde deve, que é a construção de moradias”, comentou o ministro. Entre as possibilid­ades, Meirelles citou a venda de carteiras de crédito a outras instituiçõ­es, de modo que o banco estatal se concentre no financiame­nto imobiliári­o, e a transferên­cia de dividendos pagos à União.

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UESLEI MARCELINO/REUTERS-21/11/2017 Ajudinha. O presidente da Caixa, Gilberto Occhi, que tem criticado repasses ao Tesouro

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