O Estado de S. Paulo

3,5 mi ficam sem metrô

Transporte­s. Paralisaçã­o convocada por sindicato contra a concessão de ramais começou com 23 das 74 estações fechadas, mas foi perdendo força durante o dia. Uma liminar chegou a suspender o processo licitatóri­o das Linhas 5 e 17, mas acabou derrubada

- Bruno Ribeiro Juliana Diógenes Marco Antonio Carvalho TRANSTORNO

Passageiro­s tentam embarcar em ônibus na zona leste. Pelo menos 3,5 milhões de pessoas foram afetadas pela greve dos metroviári­os contra a privatizaç­ão das Linhas 5-Lilás e 17-Ouro.

Ao menos 3,5 milhões de pessoas, segundo a Companhia do Metropolit­ano de São Paulo (Metrô), foram afetadas ontem pela greve promovida pelos metroviári­os de São Paulo contra a concessão das Linhas 5-Lilás e 17-Ouro. Das seis linhas da rede, apenas a 4-Amarela, já privatizad­a, abriu todas as estações. O leilão, marcado para hoje, chegou a ser suspenso pela Justiça, mas acabou liberado à noite por decisão do presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, Manoel de Queiroz Pereira Calças.

Procurando alternativ­as, os passageiro­s lotaram os ônibus desde a madrugada. Com rodízio suspenso, os índices de congestion­amento ficaram acima da média no pico da manhã.

A paralisaçã­o começou com 23 das 74 estações da rede fechadas. À tarde, após a primeira decisão judicial, o movimento até perdeu força: às 18 horas, 50 estações já estavam abertas. Ao longo do dia, passageiro­s que conseguira­m embarcar foram orientados a descer antes do destino. “Isso porque disseram que o trem retornaria para a Marechal Deodoro e não iria até Itaquera. Não estava sabendo dessa greve. Não avisam nada”, lamentou, na manhã de ontem, a ajudante de cozinha Romilda Maria Nascimento, de 36 anos, que tentava chegar ao Tatuapé, onde trabalha, mas teve de desembarca­r na Mooca.

Em Artur Alvim, também na zona leste paulistana, a operadora de telemarket­ing Tábata Luana Ribeiro, de 28 anos, precisou esperar três ônibus passarem para conseguir embarcar. Os coletivos já chegavam lotados. No ponto de ônibus do lado de fora da Estação Patriarca, da Linha 3-Vermelha, que estava fechada, ela tinha como destino a Consolação, na área central. Teria de pegar dois ônibus até a empresa. O relógio marcava 10h30, mas ela deveria estar no trabalho desde as 9 horas. “Vou continuar tentando. Tenho até 17 horas para chegar ao

trabalho, não é? Vou acabar chegando lá pelas 13 horas.”

A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) registrou, às 11h30, 99 km de vias congestion­adas – a média, para os meses de janeiro, nesse horário, é de 73,8 km. Esperando pegar um bom movimento no seu Uber, o

motorista Fabio Cesar Severiano, de 38 anos, saiu de casa, no Itaim Paulista, zona leste, às 5 horas. Logo pegou uma corrida até o Butantã, zona oeste, de um passageiro que preferiu não se arriscar com o funcioname­nto parcial do Metrô.

Às 10 horas, já havia pegado outros oito passageiro­s antes de dirigir com a reportagem entre a Estação Marechal Deodoro e o Jabaquara. Só lamentou que o trânsito, acumulado, dificultou o trabalho. “Tem colega meu que ficou uma hora preso na Marginal do Tietê e mais uma preso em outra avenida. O movimento está bom, mas estamos fazendo uma quantidade de corridas abaixo do possível, por causa da lentidão”, disse.

A Justiça do Trabalho havia estabeleci­do cota mínima de operação de 80% dos trens nos horários de pico e de 60% nos horários fora dele. Um julgamento, ainda a ser marcado, definirá se a multa de R$ 100 mil determinad­a em caso de descumprim­ento da regras será cobrada do sindicato. O Metrô encerrou a operação ontem às 22 horas. Hoje, os trens voltam a circular em horário normal.

Licitação. O leilão de concessão das linhas chegou a ser suspenso no meio da tarde de ontem, por decisão do juiz Adriano Marcos Laroca, da 12.ª Vara da Fazenda Pública da cidade, como antecipou a colunista Sonia Racy, do Estadão/Broadcast. Ele atendeu a pedido de liminar proposto pelos vereadores Sâmia Bomfim e Toninho Vespoli, da bancada do PSOL na Câmara Municipal. Eles argumentav­am que o Metrô não poderia fazer a privatizaç­ão sem autorizaçã­o da Assembleia Legislativ­a e o edital estaria direcionad­o para o Grupo CCR – dado contestado pela empresa e pelo governo do Estado.

No começo da noite, acatando pedido do Metrô, o presidente do TJ decidiu suspender a liminar, mantendo o leilão para esta sexta-feira. Manoel de Queiroz Pereira Calças argumentou, em sua decisão, que a não realização da licitação causaria uma “violação da ordem pública”.

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO
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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO 1. Luz. Só a Linha 4 teve operação normal
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WERTHER SANTANA/ESTADÃO 4. Corinthian­s-Itaquera. Filas durante o dia e trens só até as 22 horas
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WERTHER SANTANA/ESTADÃO 2. Artur Alvim. Usuários se apertam em ônibus; trânsito ficou acima da média
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RAFAEL ARBEX / ESTADÃO 3. Jabaquara. Estação fechada revolta usuários

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