Contra ‘regalias’, Moro transfere Cabral do Rio para Curitiba
MPF vê irregularidades em cadeia de Benfica; juiz do Paraná diz que político ‘possui conexões com autoridades do Rio’
O ex-governador do Rio Sérgio Cabral (MDB) foi transferido no fim da tarde de ontem da Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, na zona norte do Rio, para a Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba. A transferência foi determinada pelo juiz Sérgio Moro, que aceitou denúncia do Ministério Público Federal após a descoberta de regalias e privilégios para Cabral na prisão.
Aparentando abatimento, vestindo calça jeans e camiseta, Cabral foi acomodado na caçamba de um carro da Polícia Federal pelos agentes que o escoltaram para a Base Aérea do Galeão. O procedimento diferiu de outras ocasiões, quando o ex-governador, ao ser deslocado para depoimentos, seguia sentado no banco traseiro, ao lado dos policiais. O emedebista embarcou às 19h19 em avião descaracterizado da PF. Pouco depois das 19h40, a aeronave decolou para Curitiba. Ele chegou à capital paranaense às 21h30. Cabral dormiria na sede da Superintendência da PF. Ele deverá ser levado hoje para o Complexo Penitenciário de Pinhais.
A remoção foi autorizada ontem pela juíza Caroline Vieira Figueiredo, da 7.ª Vara Federal, que decretou a imediata remoção após a constatação de regalias oferecidas ao preso na cadeia fluminense. Cabral tinha acesso a comida congelada, vídeos, além de acomodações fora dos padrões da prisão. O ex-governador está condenado a 87 anos de prisão na Lava Jato. Deste total, 14 anos e dois meses de reclusão são por corrupção e lavagem de dinheiro.
Ao pedir a transferência, o Ministério Público Federal apontou uma investigação do Ministério Público do Estado do Rio que identificou “diversas irregularidades no tratamento carcerário concedido” ao ex-governador. Segundo Moro, “alega o Ministério Público Federal que o próprio estabelecimento prisional da Cadeia Pública José Frederico Marques teria padrões diferentes dos demais cárceres do Rio de Janeiro, aventando suspeita de que teria sido reformado, com benesses, exatamente para abrigar o ex-governador daquele Estado”.
O magistrado registrou que detém competência para mandar remover Cabral para o Paraná em virtude do mandado de prisão preventiva ordenado por ele em novembro de 2016. “É praxe competir ao Juízo da preventiva a análise de incidentes a ela relativos”, anotou Moro.
Para o juiz da Lava Jato, manter Cabral no Rio “constituirá um verdadeiro desafio às autoridades prisionais ou de controle (para) prevenir a ocorrência de irregularidades e privilégios”.
Segundo o despacho de Moro, o político “vinculado ao Estado do Rio de Janeiro e que já exerceu mandatos naquele Estado de deputado estadual, presidente da Assembleia Legislativa e governador, possui relevantes conexões com autoridades públicas daquele Estado”.
“O ex-governador nunca gozou de benesses indevidas nas unidades em que esteve acautelado.” Rodrigo Roca
ADVOGADO DE SÉRGIO CABRAL