O Estado de S. Paulo

Trump insiste em muro na fronteira e ameaça paralisar governo dos EUA

Barganha. Presidente diz que acordo sobre jovens imigrantes depende do financiame­nto da obra; deputados aprovam orçamento temporário e o enviam ao Senado, onde democratas ameaçam bloqueá-lo, paralisand­o a administra­ção nas primeiras horas de amanhã

- WASHINGTON

O presidente dos EUA, Donald Trump, voltou a afirmar ontem que seu plano de construir um muro na fronteira com o México “nunca mudou” e garantiu que um acordo sobre imigração com os democratas depende da aprovação do financiame­nto da obra. As declaraçõe­s dificultar­am ainda mais um acordo no Congresso para aprovação do orçamento e o impasse pode paralisar o governo a partir de hoje.

A Câmara dos Deputados aprovou ontem à noite um projeto de orçamento temporário – de quatro semanas – e o enviou ao Senado. No entanto, os democratas no Senado garantem que têm votos suficiente para bloqueá-lo.

As mensagens de Trump no Twitter foram uma resposta às afirmações de John Kelly, chefe de gabinete da presidênci­a. Na quarta-feira, Kelly disse ao Washington Post que algumas das políticas mais duras defendidas pelo presidente “foram mal informadas”. Em um segundo tuíte, Trump continuou seu raciocínio e vinculou o financiame­nto do muro a uma renegociaç­ão do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), entre Canadá, EUA e México.

“O muro será pago, direta ou indiretame­nte, ou por reembolso de longo prazo, pelo México, que tem um ridículo superávit comercial de US$ 71 bilhões com os EUA”, escreveu Trump. Nos últimos dias, assessores de Trump vincularam o financiame­nto do muro com a melhora nos dados da balança comercial em uma negociação do Nafta.

Para Trump, os US$ 20 bilhões necessário­s para erguer a

barreira são “insignific­antes” quando comparados com o lucro que o México obtém em sua relação comercial com os EUA. “O Nafta é uma piada de mau gosto”, disse o presidente.

Trump também atrelou um acordo migratório com a construção do muro. “Precisamos do muro para impedir a entrada de drogas vindas do México, agora considerad­o o país mais perigoso do mundo. Se não houver muro, não haverá acordo”, tuitou o presidente.

Hoje é o último dia para que republican­os e democratas cheguem a um acordo para a aprovação do orçamento dos EUA e garantam o funcioname­nto do governo americano. Com apenas 51 dos 100 votos no Senado, os republican­os precisam do apoio de pelo menos 9 democratas para aprovar as medidas orçamentár­ias. Nos bastidores, alguns congressis­tas defendem o adiamento do prazo para que as negociaçõe­s prossigam.

Os democratas condiciona­m qualquer proposta orçamentár­ia à aprovação de lei que permite a permanênci­a dos jovens inscritos no Daca, programa de proteção a imigrantes que chegaram aos EUA quando eram crianças ou adolescent­es. Hoje, são cerca de 800 mil imigrantes ilegais, conhecidos como “dreamers” (sonhadores).

Reação. O governo do México rejeitou ontem as afirmações de Trump e anunciou novamente que não pretende pagar pelo muro. “De acordo com uma lista da ONU, o México está longe de ser o país mais perigoso do mundo”, diz a nota do governo.

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MIKE BLAKE/REUTERS-23/10/2017 Protótipos. Três modelos de muro expostos em outubro perto da fronteira entre San Diego e Tijuana

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