O Estado de S. Paulo

Redação do Enem tem 300 mil zeros e só 53 conseguem nota mil

Ao todo, 205 candidatos desrespeit­aram direitos humanos; na parte objetiva, notas subiram em Matemática

- Júlia Marques

Apenas 53 candidatos que fizeram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no ano passado obtiveram nota mil na Redação. O número de participan­tes que conseguira­m nota máxima no teste escrito vem caindo ano a ano. Em relação a 2014, a queda é de quase 80%. Os resultados individuai­s dos estudantes foram divulgados ontem pelo Ministério da Educação (MEC).

A estudante cearense Debora Valença, de 19 anos, foi uma entre os poucos candidatos que comemorara­m a nota máxima ontem. “Fui olhar de manhã e quase não acreditei. Foi muita felicidade”, conta a aluna, que pretende cursar Medicina em uma universida­de federal do Ceará.

Debora explica que fazia, em média, duas redações por semana para treinar. Todos os textos eram corrigidos por professore­s e, assim, ela conseguia identifica­r as falhas. “A Redação faz muita diferença na nota”, diz ela, que estuda no Colégio Ari de Sá, um dos mais bem posicionad­os do Brasil em relação à nota no Enem.

O tema do teste no ano passado, que foi “Desafios para a formação educaciona­l de surdos no Brasil”, não significou problema para Debora. “Já tinha ouvido falar e tinha feito uma redação sobre educação inclusiva.”

Mas, para o coordenado­r do Curso Poliedro em São Paulo, Vinicius Haidar, o assunto pode levar a uma hipótese para explicar a queda no número de notas mil. “Não foi um tema comum, esperado. E para ter uma nota máxima é preciso bagagem cultural”, diz.

Em 2014, 250 candidatos conseguira­m nota mil. Em 2015, foram 104, e em 2016, 77. Para Maria Inês Fini, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educaciona­is (Inep), não se pode comparar os dados. “As populações que fazem o exame são totalmente diferentes.”

Apesar da queda de notas máximas, a média dos participan­tes em Redação subiu em relação a 2016: de 541,9 para 558,0 pontos. Mas o número de participan­tes que zeraram o texto aumentou: foram 309 mil, ante 292 mil no ano passado. O principal motivo foi a fuga ao tema.

Segundo Maria Inês, 205 candidatos desrespeit­aram os direitos humanos na Redação. O Inep, no entanto, foi proibido de zerar esses textos, como ocorria nas edições anteriores do exame, após decisão judicial.

Outras áreas. Houve piora no desempenho médio dos alunos em Linguagens e Códigos, que cobra questões de interpreta­ção de texto, e em Ciências Humanas, com testes de História, Geografia, Filosofia e Sociologia. Por outro lado, as notas subiram em Matemática e Ciências da Natureza, que envolve Biologia, Física e Química. Para Marcelo Dias, coordenado­r do Curso Etapa, é possível que a separação da prova em dois dias tenha causado impacto nas notas. Pela primeira vez, o Enem foi aplicado em dois domingos. No primeiro, alunos realizaram testes de Humanas mais a Redação. Ambos exigem alto grau de leitura, o que contribui, segundo Dias, para o cansaço dos estudantes.

De acordo com Haidar, uma das explicaçõe­s possíveis para a melhora em Matemática é o fato de a prova ter sido realizada no segundo domingo. “Deu tempo para uma revisão, uma descansada.” O MEC ainda divulgou ontem as datas do Enem deste ano. As provas serão aplicadas nos dias 4 e 11 de novembro.

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FELIPE SAMPAIO Esforço. Treino foi decisivo para nota máxima, afirma Debora

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