O Estado de S. Paulo

Governo capta US$ 1,5 bi no exterior

Para o Tesouro, resultado evidencia interesse de investidor e confiança na recuperaçã­o da economia, mesmo após rebaixamen­to da nota de risco

- Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

O rebaixamen­to da nota de crédito do Brasil ocorrido há uma semana teve influência praticamen­te nula na emissão externa feita ontem pelo governo brasileiro, que reabriu o bônus denominado Global 2047, com prazo de 30 anos. Além de a emissão ter sido mais barata do que na data original de lançamento do papel, a demanda ficou em torno de quatro vezes maior que o volume emitido (US$ 1,5 bilhão), segundo informaçõe­s do Tesouro Nacional.

Inicialmen­te a expectativ­a era emitir cerca de US$ 1 bilhão em bônus, mas as condições favoráveis do mercado proporcion­aram a ampliação desse volume.

O resultado, considerad­o um sucesso pelo governo, foi recebido como evidência do apetite dos investidor­es e também da confiança na recuperaçã­o da economia. A avaliação é de que as taxas cobradas na operação foram bastante favoráveis ao País.

Embora não sejam as mínimas históricas, as taxas foram melhores do que em emissões de títulos de mesmo prazo (30 anos) feitas no passado, quando o País ainda detinha o selo de bom pagador, o chamado grau de investimen­to, perdido em 2015.

A taxa de retorno ao investidor (yield) na emissão de ontem ficou em 5,6% ao ano, ante 5,875% ao ano no lançamento do papel, em julho de 2016. Em 2009, com grau de investimen­to, o governo brasileiro emitiu o Global 2041, com prazo de 30 anos, a uma taxa de 5,8% ao ano.

A captação de ontem foi um teste depois do rebaixamen­to da nota de crédito do Brasil pela agência de classifica­ção S&P Global Ratings, anunciado no dia 11. Com a decisão, o País está três níveis abaixo do grau de investimen­to.

Já havia a expectativ­a de que o downgrade não tivesse papel determinan­te na operação porque a reação dos preços dos ativos brasileiro­s nos mercados foi praticamen­te nula após o anúncio da piora da nota.

Reconhecim­ento. Na avaliação do governo, o resultado dessa última emissão é um reconhecim­ento do mercado a fatores que a própria S&P mencionou em seu comunicado, como a perspectiv­a de retomada do cresciment­o e o controle da inflação, fatores positivos da economia brasileira.

O papel brasileiro também se mostrou um investimen­to atrativo diante das demais opções do mercado. Entre países emergentes, México, Equador e Argentina acessaram o mercado neste início de ano.

Com a captação de ontem, o governo quer reforçar a taxa de referência (benchmark) com prazo de 30 anos. A taxa dos juros da emissão soberana serve de parâmetro para as operações corporativ­as. O mês de janeiro é tradiciona­lmente bom para as emissões externas.

O governo brasileiro não precisa captar recursos no exterior para honrar seus compromiss­os com a dívida. O espírito dessas operações é dar a referência de taxa de juros para os dois prazos de vencimento­s para as emissões das companhias: 10 anos e 30 anos. A ultima captação externa foi em outubro, com a oferta do Global 2028.

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