O Estado de S. Paulo

CANTORAS FALAM SOBRE FUNK DE MC DIGUINHO

- MARILIA NEUSTEIN

Depois de ter ocupado o primeiro lugar na lista “Brazil Viral 50”, do Spotify, na terça-feira, a música Só Uma

Surubinha de Leve foi removida da plataforma no dia seguinte. A letra, de MC Diguinho – cujos os versos sugerem embriagar uma mulher, violentá-la e abandoná-la na rua – foi criticada na internet e considerad­a apologia ao estupro. A coluna ouviu três cantoras a respeito.

• Na visão de Alice Caymmi, a música “por si só já é um gatilho”. “Confesso ter tido que retomar o rumo dos pensamento­s depois de ouvir. Muito por saber que há solo fértil para o sucesso dessas palavras. Acredito também ser muita ingenuidad­e nossa achar que é a canção que incita a violência. Ela é provenient­e da violência. Existe porque o estupro é endêmico. Precisamos combater não só a propagação das ideias mas a sua fonte”, afirmou. “O foco do momento é o MC, mas assim como esse, outros aparecerão. E aí o que vamos fazer? Atacar um por um e só? É preciso não abrir mais nenhuma concessão sequer, é preciso diálogo”, concluiu.

• Para Ana Cañas, a música faz apologia “ao estupro, ao assédio, à misoginia, sexismo e machismo”. “É uma colocação infeliz e equivocadí­ssima, que não deve ser confundida jamais com licença poética. No Brasil, a cada 11 minutos uma mulher é estuprada. É muito triste que um homem, compositor e cantor, não consiga enxergar a triste realidade de mulheres violentada­s, abusadas e estupradas no país”.

• Vanessa da Mata compartilh­a da mesma opinião: “Quando andar pelas ruas e ouvir uma música dessas, não fique parado. Proteste, isso é propaganda que vai influencia­r o menino perdido da escola e que vai bater de alguma forma no geral de uma sociedade que poderia estar em paz”.

O cantor se defendeu das críticas em dois momentos, pelo Instagram: “A mídia manipulou os pensamento­s onde um negro canta funk é crime/estupro, agora beijo gay em novela das 9 é lindo (...) Parabéns Brasil! Minha música foi retirada das plataforma­s digitais”. Posteriorm­ente, publicou nota afirmando que jamais iria denegrir “a honra e moral das mulheres” e que vai lançar a música em formato mais “light”. /

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MARCOS ARCOVERDE/ESTADÃO Vanessa da Mata
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LUCIANA PREZIA/ESTADÃO Alice Caymmi
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MARINA MALHEIROS/ ESTADÃO Ana Cañas

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