Grupo Tapa faz mostra de repertório e nova peça
‘Que Absurdo!’ reúne ‘As Criadas’, de Genet, ‘Uma Peça Por Outra’, de Tardieu e ‘A Cantora Careca’, de Ionesco
Não é difícil imaginar que a política brasileira poderia ser muito bem um gênero no mundo do poder. Para o diretor Eduardo Tolentino, as indicações de ministros condenados são exemplos do que entendemos por absurdo. Já no teatro, o termo concebido pelo crítico Martin Esslin é motivo da mostra Que Absurdo!, com duas peças do repertório do Grupo Tapa e uma estreia. Todas apresentadas no Teatro Aliança Francesa, até 15 de abril. “De alguma maneira, trata-se de um ciclo, quando coisas que perderam o sentido há algum tempo voltam a ganhar significado. Se antes o
Brasil vivia o desequilíbrio de sem- pre, hoje o mundo também está imprevisível, enquanto dois malucos não apertam um botão”, diz em relação às investidas nucleares do presidente dos EUA Donald Trump e do líder da Coréia do Norte Kim Jong-un. “Com a mídia, as notícias integram um outro tipo de absurdo, sobretudo na discussão das relações de poder”, afirma o diretor.
Na programação, As Criadas, de Jean Genet, trata dessa dissimulação da realidade por duas mulheres que planejam o assassinato da patroa. “Elas não têm consciência, mas trabalham a forma simbólica do poder. Elas admiram o luxo e a vida da patroa. Desejam o objeto que as oprime.”
Já em Uma Peça Por Outra, do francês Jean Tardieu, as sátiras se dão em torno da comunicação, outro elemento que suscita o sentido do gênero presente nas criações de autores como Harold Pinter, Samuel Beckett e Eugène Ionesco. “Aqui as palavras também perdem o sentido e o significado, quando passamos a falar de outra coisa, uma vez que elas não dão mais conta.”
A estreia fica por conta de A Cantora Careca, no dia 16 de fevereiro. A obra de Ionesco, também circula pela incomunicabilidade e o desconforto provocado entre as personagens. “Em um jantar, diante de um assunto sério, a família passa a discutir o azeite”, conta o diretor. O sucesso da montagem francesa é tão grande que a peça se mantém em cartaz há 60 anos, no la Huchette de Paris, e no ano passado atingiu a marca de 18 mil apresentações.
ESPETÁCULO QUE ENTRA EM CARTAZ DIA 16 É ENCENADA HÁ 60 ANOS EM PARIS