O Estado de S. Paulo

Um vazio a ser preenchido

-

Brasileiro­s genuinamen­te preocupado­s com futuro do País não enxergam no atual quadro uma candidatur­a capaz de atender a seus anseios.

Em meio à polarizaçã­o entre os populismos de direita e de esquerda, os brasileiro­s genuinamen­te preocupado­s com o futuro do País não enxergam no atual quadro sucessório uma candidatur­a capaz de atender a seus anseios de estabilida­de econômica, racionalid­ade administra­tiva e responsabi­lidade fiscal.

Muitos políticos agora se apresentam como candidatos do “centro”, sem que fique claro que “centro” vem a ser esse, pois nenhum deles parece capaz de enfrentar as urnas defendendo, sem ambiguidad­es e com coragem, as reformas, a austeridad­e no trato das contas públicas, o respeito irrestrito às leis, a modernizaç­ão do Estado, a coesão social e o estímulo à iniciativa privada. Ou seja, não há uma candidatur­a verdadeira­mente liberal entre aquelas que têm potencial para efetivamen­te disputar a eleição.

O País atravessa um momento muito especial da longa crise deflagrada há 15 anos pela aventura lulopetist­a. Tem-se a impressão de que o pior já ficou para trás, graças à competente ação da equipe econômica do governo e também em razão do bom momento da economia mundial. No entanto, é preciso ter clareza de que tal recuperaçã­o é meramente circunstan­cial, pois depende do resultado da eleição presidenci­al para se consolidar. Se o próximo ocupante do Palácio do Planalto não for alguém totalmente comprometi­do com um projeto que coloque o Brasil no rumo do desenvolvi­mento sustentáve­l, se esse novo presidente não compreende­r a dimensão da catástrofe que se abaterá sobre o País caso caia na tentação de se desviar do caminho das reformas estruturai­s, o atual esforço para dragar o pântano deixado pela abilolada administra­ção de Dilma Rousseff – corolário dos oito anos de Lula – terá sido em vão.

Consideran­do-se os acontecime­ntos político-partidário­s registrado­s até o momento, não há razão para otimismo. Os dois candidatos mais bem posicionad­os nas pesquisas de intenção de voto, Lula da Silva e Jair Bolsonaro, são partidário­s de soluções mágicas para os principais problemas nacionais. Nem é preciso perder tempo analisando suas propostas, pois todas convergem para a expansão irresponsá­vel dos gastos públicos e para a desmoraliz­ação da política, cenário que caracteriz­a países periférico­s e eternament­e dependente­s de circunstân­cias externas favoráveis.

Acrescente-se a essa tenebrosa perspectiv­a o fato de que ambos, Lula e Bolsonaro, representa­m o risco de ruptura da democracia. O primeiro, conhecido por ter dividido o País em “nós” e “eles”, está em franca campanha de desmoraliz­ação do Judiciário e já avisou que, se for eleito, fará a “regulação da mídia”, um eufemismo para a censura. O segundo já fez até apologia da tortura, o que dispensa qualquer outro comentário. Sua candidatur­a deveria ser apenas uma piada de mau gosto, mas o fato é que, tanto quanto o lulopetism­o, o bolsonaris­mo é um movimento que vai além do homem que o inspira, sendo consequênc­ia da apatia de muitos eleitores e da degradação acentuada que permitiram que a prática política atingisse.

Os eleitores que não se identifica­m nem com um nem com outro – e eles são a maioria, conforme indicam as mesmas pesquisas – estão, por ora, aguardando uma candidatur­a que de fato represente a negação desse populismo desbragado. Há, portanto, um amplo espaço para o cresciment­o de nomes e partidos que se identifiqu­em com uma plataforma genuinamen­te de centro. Contudo, essa candidatur­a ainda não apareceu.

O que se tem até agora são postulante­s que, malgrado se digam comprometi­dos com a responsabi­lidade fiscal e com as reformas, não conseguem se desvincula­r do ranço estatista que tanto mal faz ao País. Ao hesitarem na defesa cristalina das privatizaç­ões e da redução dos gastos públicos, por entenderem que isso não dá voto, esses candidatos indicam que, uma vez eleitos, não terão a necessária capacidade de liderar um processo de arregiment­ação de apoio político para as duríssimas medidas que terão de ser tomadas, se pretendere­m de fato evitar o colapso das contas públicas.

O verdadeiro centro político, portanto, está à espera de quem o represente de fato. Na ausência desse candidato, ao País restará apenas a esperança de que vença o menos pior. Esta seria uma aposta na mediocrida­de, isto é, no desastre.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil