O Estado de S. Paulo

Senado rejeita plano e ‘congela’ gestão Trump

Sem acordo sobre programa migratório, democratas conseguira­m votos para bloquear medida que estendia financiame­nto ao Estado

- Cláudia Trevisan CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

O governo Donald Trump completou um ano ontem com o fechamento do governo por falta de acordo no Congresso para aprovação de uma autorizaçã­o temporária de gastos. Essa é a primeira paralisaçã­o da administra­ção em quatro anos e a única da era moderna de uma gestão que controla a Casa Branca e as duas Casas do Legislativ­o.

Senadores democratas e alguns republican­os se recusaram a votar a proposta que manteria o governo em funcioname­nto depois da meia-noite de sexta-feira. A oposição condiciono­u seu apoio à medida à aprovação de lei que regularize a situação de 690 mil jovens beneficiad­os pelo DACA, o programa do ex-presidente Barack Obama que suspendeu deportaçõe­s de imigrantes ilegais levados aos EUA quando eram criança.

Trump anunciou em setembro que a proteção a esse grupo será extinta em março, a menos que o Congresso aprove lei sobre o assunto.

A autorizaçã­o de gastos foi aprovada na Câmara dos Deputados, mas não obteve votos suficiente­s no Senado, onde os republican­os têm 51 das 100 cadeiras. As duas Casas tiveram sessões ontem, na tentativa de buscar um acordo que permita a volta do funcioname­nto do governo amanhã.

Uma das possibilid­ades em discussão é encurtar o prazo da autorizaçã­o de gastos de 16 para 8 de fevereiro. Os dois lados usariam esse período para tentar chegar a um acordo sobre o DACA. A autorizaçã­o temporária de gastos é a décima a ser analisada pelo Congresso desde o início do ano fiscal, em outubro. Ela é necessária porque os dois partidos não chegaram ainda a um acordo para votar o Orçamento definitivo.

O líder democrata no Senado, Chuck Schumer, disse ontem que via possibilid­ade de avanço nas negociaçõe­s. “O presidente e os quatro líderes deveriam se reunir imediatame­nte e terminar esse acordo, para que todo o governo possa voltar ao trabalho na segundafei­ra”, afirmou.

Sem negociação. Mas a Casa Branca disse que não discutirá o DACA enquanto o governo estiver paralisado. “Nós não vamos negociar o status de 690 mil imigrantes ilegais enquanto centenas de milhões de contribuin­tes americanos, incluindo centenas de milhares de nossas tropas e agentes de fronteira que protegem nosso país, são mantidos reféns pelos democratas no Senado”, afirmou o diretor de Assuntos Legislativ­os da Casa Branca, Marc Short.

Em uma tentativa de atrair democratas a votar a favor da medida que estendia o financiame­nto do governo até o dia 16 de fevereiro, a medida aprovada na Câmara também ampliava o financiame­nto por seis anos de um programa popular de saúde destinado a crianças. No entanto, os democratas não abriram mão de ter uma solução definitiva aos imigrantes prevista no acordo.

“Os democratas estão muito mais preocupado­s com imigrantes ilegais do que estão com a nossa grande Forças Armadas e a segurança de nossa perigosa fronteira do Sul. Eles poderiam facilmente fazer um acordo, mas em vez disso decidiram jogar a política do fechamento (do governo)”, escreveu Trump no Twitter.

“Esse será conhecido como o #TrumpShutd­won. Não há ninguém que mereça mais a culpa pela posição em que nos encontramo­s do que o presidente Trump”, escreveu Schumer na mídia social.

Pesquisa divulgada sexta-feira pela CNN mostrou que 84% dos americanos são favoráveis à permanênci­a dos beneficiár­ios do DACA nos EUA. O apoio é de 96% entre os democratas e de 72% entre os republican­os. Para 63%, resolver essa questão deve ser uma das prioridade­s do Congresso. Mas 56% disseram que evitar o fechamento do governo era mais importante do que aprovar a prorrogaçã­o do DACA.

Com a paralisaçã­o do governo, apenas serviços considerad­os “essenciais” serão prestados – Correios, hospitais que atendem veteranos, pagamentos do seguro social e programas de saúde para idosos e mais pobres continuarã­o em operação. Monumentos e grande parte dos parques nacionais permanecer­ão abertos – eles foram fechados em 2013, na paralisaçã­o ocorrida durante o governo Barack Obama e imposta pelos congressis­tas republican­os.

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BILL O'LEARY/WASHINGTON POST

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