Senado rejeita plano e ‘congela’ gestão Trump
Sem acordo sobre programa migratório, democratas conseguiram votos para bloquear medida que estendia financiamento ao Estado
O governo Donald Trump completou um ano ontem com o fechamento do governo por falta de acordo no Congresso para aprovação de uma autorização temporária de gastos. Essa é a primeira paralisação da administração em quatro anos e a única da era moderna de uma gestão que controla a Casa Branca e as duas Casas do Legislativo.
Senadores democratas e alguns republicanos se recusaram a votar a proposta que manteria o governo em funcionamento depois da meia-noite de sexta-feira. A oposição condicionou seu apoio à medida à aprovação de lei que regularize a situação de 690 mil jovens beneficiados pelo DACA, o programa do ex-presidente Barack Obama que suspendeu deportações de imigrantes ilegais levados aos EUA quando eram criança.
Trump anunciou em setembro que a proteção a esse grupo será extinta em março, a menos que o Congresso aprove lei sobre o assunto.
A autorização de gastos foi aprovada na Câmara dos Deputados, mas não obteve votos suficientes no Senado, onde os republicanos têm 51 das 100 cadeiras. As duas Casas tiveram sessões ontem, na tentativa de buscar um acordo que permita a volta do funcionamento do governo amanhã.
Uma das possibilidades em discussão é encurtar o prazo da autorização de gastos de 16 para 8 de fevereiro. Os dois lados usariam esse período para tentar chegar a um acordo sobre o DACA. A autorização temporária de gastos é a décima a ser analisada pelo Congresso desde o início do ano fiscal, em outubro. Ela é necessária porque os dois partidos não chegaram ainda a um acordo para votar o Orçamento definitivo.
O líder democrata no Senado, Chuck Schumer, disse ontem que via possibilidade de avanço nas negociações. “O presidente e os quatro líderes deveriam se reunir imediatamente e terminar esse acordo, para que todo o governo possa voltar ao trabalho na segundafeira”, afirmou.
Sem negociação. Mas a Casa Branca disse que não discutirá o DACA enquanto o governo estiver paralisado. “Nós não vamos negociar o status de 690 mil imigrantes ilegais enquanto centenas de milhões de contribuintes americanos, incluindo centenas de milhares de nossas tropas e agentes de fronteira que protegem nosso país, são mantidos reféns pelos democratas no Senado”, afirmou o diretor de Assuntos Legislativos da Casa Branca, Marc Short.
Em uma tentativa de atrair democratas a votar a favor da medida que estendia o financiamento do governo até o dia 16 de fevereiro, a medida aprovada na Câmara também ampliava o financiamento por seis anos de um programa popular de saúde destinado a crianças. No entanto, os democratas não abriram mão de ter uma solução definitiva aos imigrantes prevista no acordo.
“Os democratas estão muito mais preocupados com imigrantes ilegais do que estão com a nossa grande Forças Armadas e a segurança de nossa perigosa fronteira do Sul. Eles poderiam facilmente fazer um acordo, mas em vez disso decidiram jogar a política do fechamento (do governo)”, escreveu Trump no Twitter.
“Esse será conhecido como o #TrumpShutdwon. Não há ninguém que mereça mais a culpa pela posição em que nos encontramos do que o presidente Trump”, escreveu Schumer na mídia social.
Pesquisa divulgada sexta-feira pela CNN mostrou que 84% dos americanos são favoráveis à permanência dos beneficiários do DACA nos EUA. O apoio é de 96% entre os democratas e de 72% entre os republicanos. Para 63%, resolver essa questão deve ser uma das prioridades do Congresso. Mas 56% disseram que evitar o fechamento do governo era mais importante do que aprovar a prorrogação do DACA.
Com a paralisação do governo, apenas serviços considerados “essenciais” serão prestados – Correios, hospitais que atendem veteranos, pagamentos do seguro social e programas de saúde para idosos e mais pobres continuarão em operação. Monumentos e grande parte dos parques nacionais permanecerão abertos – eles foram fechados em 2013, na paralisação ocorrida durante o governo Barack Obama e imposta pelos congressistas republicanos.