O Estado de S. Paulo

Desvios de recursos e aparelhame­nto político da Caixa jogam os bancos públicos na fogueira da Lava Jato.

- Eliane Cantanhêde

As revelações sobre a Caixa Econômica Federal trazem à tona como os bancos públicos não escaparam do assalto à administra­ção direta, às estatais e aos fundos de pensão. Regras de governança? Pra quê? E, sem regras de governança, a CEF foi virando mais entre tantas casas da mãe Joana, como a Petrobrás. Aparelhada, abusada, a instituiçã­o passou a servir mais aos poderosos de plantão do que à população brasileira.

Por que um banco público precisa de 12 (12!) vice-presidente­s? Para acomodar o máximo de apadrinhad­os políticos? Cada um responda com base no que souber, achar ou quiser achar, mas o fato é que a CEF é alvo de três operações da PF, Patmos, Sépsis e Cui Bono?, sem contar uma quarta, a Greenfield, sobre desvios no Funcef, o fundo de pensão dos funcionári­os.

Elas apuram empréstimo­s duvidosos, em torno de figuras bem conhecidas, já atrás das grades, como Eduardo Cunha e os ex-ministros (de Dilma e Temer) Geddel Vieira Lima e Henrique Eduardo Alves. E não é que Geddel, que mantinha um apartament­o só para caixas e malas de dinheiro, foi vice da Caixa?!

Era a esse tipo de mandachuva que os demais vices, diretores e funcionári­os respondiam, sem falar que, indicados por PR, PP, MDB e sei lá mais o quê, os vices tinham de pagar favores, geralmente com juros, correção monetária e muita generosida­de.

O resultado é quase aritmético: assim como na Petrobrás, o índice de corrupção na CEF correspond­e ao tamanho do rombo, que ninguém sabe como pagar. A ideia mais criativa é abocanhar R$ 15 bilhões do FGTS, que não dá em árvore e não é dessa nem de nenhuma outra mãe Joana, mas efetivamen­te tem dono: o trabalhado­r brasileiro.

Os governos desfalcam e criam rombos, e o trabalhado­r é chamado a arcar com o prejuízo. Mas não fica nisso. Conforme o Estado, de um lado a cúpula da Caixa quer meter a mão na poupança do trabalhado­r; de outro, articula (ou articulava?) um aumentozin­ho camarada, de 37%, justamente para sua multidão de vice-presidente­s.

Então, além de serem 12 e além de quatro deles terem sido afastados por suspeita de corrupção, os vice vão (ou iriam?) ter uma remuneraçã­ozinha de R$ 87,4 mil por mês, incluídos “ganhos por metas e desempenho”. A inflação ficou em 2,95%, o reajuste dos bancários foi de 2,75% e o teto constituci­onal, que vale até para o presidente da República, é de R$ 33,7 mil.

É ou não o fim da picada? Mas os “donos” da Caixa – o PP (que indicou Gilberto Occhi para a presidênci­a) e, quem sabe, o próprio MDB de Temer – já estão em pé de guerra contra o estatuto aprovado na sexta-feira com novas regras para nomeação dos vices. Armados até os dentes, os partidos avisam que as vagas são deles e ninguém tasca. Leia-se: ou mantêm as vagas ou não votam a reforma da Previdênci­a.

Onde a Lava Jato meteu a mão, lá estavam falcatruas na administra­ção federal, nos governos estaduais, na principal estatal e nos fundos de pensão, mas os bancos públicos só sofreram arranhões. No Banco do Brasil, o escândalo ficou praticamen­te no ex-diretor Henrique Pizzolato e no ex-presidente Aldemir Bendini, também exPetrobrá­s. Mas é a CEF, o “banco do povo”, que joga o setor na fogueira.

Por falar nisso, a Lava Jato escarafunc­hou as maiores empreiteir­as e remexe agora as entranhas do maior produtor de carne, mas nunca chegou perto das instituiçõ­es financeira­s. Como se fosse possível desviar bilhões, Brasil e mundo afora, sem passar pelos bancos.

Desvios e aparelhame­nto da CEF jogam bancos públicos na fogueira da Lava Jato

Aquilo roxo. O lançamento de Fernando Collor à Presidênci­a parece piada (de muito mau gosto), mas aumenta o preço do seu partido no leilão do Centrão e é um soco no estômago de quem liderou seu impeachmen­t. O Brasil derrubou Collor para dar no que deu?

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