O Estado de S. Paulo

Campo petista ainda não tem alternativ­as

- Lincoln Secco

Sob qualquer perspectiv­a o julgamento de Lula será histórico. Se condenado num processo marcado por inevitável politizaçã­o, será a primeira vez que um candidato importante é impedido judicialme­nte de concorrer à Presidênci­a da República no Brasil em eleições diretas.

Essa é uma situação nova para o PT. Desde o seu aggiorname­nto nos anos 1990, ele jamais concebeu outro caminho que não fosse o eleitoral e um candidato que não fosse Lula. Ainda não surgiram alternativ­as reais no campo liderado pelo PT.

Há uma ilusão em se questionar o sistema pelas suas aparições espetacula­res e não pela sua essência. Lula foi se ancorando no establishm­ent durante 40 anos e depois de um governo conciliado­r poderia hoje representa­r a estabiliza­ção das instituiçõ­es. No entanto, ele aparece como outsider, tanto quanto (guardadas as devidas escalas de importânci­a histórica) o seu antagonist­a Bolsonaro, frequentad­or do baixo clero do Parlamento há sete legislatur­as.

Com um partido redivivo e a popularida­de nas alturas, Lula atuará no palco de 2018 de qualquer maneira. Legalmente aceito, como um fator de forte polarizaçã­o dentro das regras de um jogo que se tornou incapaz de absorver as lutas ideológica­s que dividem a sociedade civil. Se inabilitad­o, como fator de crise permanente numa batalha judicial dramática e na expectativ­a de transferir votos a outro candidato.

HISTORIADO­R E PROFESSOR DA USP

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