PORTO ALEGRE, UM PALCO DO PETISMO
Após governos do PT, cidade vê desgaste de Lula
Palco de acirradas disputas eleitorais e mobilizações marcadas por fortes divisões políticas e por longos períodos sob comando do PT, Porto Alegre volta a viver nesta semana um papel de destaque na história do partido.
Com o impeachment de Dilma Rousseff, que optou por viver na cidade desde a perda do poder em Brasília, e a condenação por corrupção do principal líder da legenda, Luiz Inácio Lula da Silva, a capital gaúcha acompanha um momento de forte desgaste político do petismo – o julgamento no TRF-4, no dia 24, da sentença do juiz federal Sérgio Moro.
“O Rio Grande do Sul, com a qualidade de sua militância política, foi fundamental para o PT”, avalia o professor de Ética e Filosofia na Unicamp Roberto Romano. Ele argumenta que é preciso observar a existência da educação e da formação política regional bem anterior ao surgimento do PT, criado em 1980.
Para Romano, o Estado tem tradição de uma militância “muitas vezes até exacerbada”, desde os Farroupilha. Mas criou líderes no século 20, como Getúlio Vargas e Leonel Brizola. E o PT se beneficiou disso. Segundo ele, o PT foi formado por três pilares: “Esquerda católica, militância do antigo Partido Comunista Brasileiro e trotskistas”. E na esquerda católica se encontra forte marca do movimento rural, com características patriarcais da agricultura familiar local. Um exemplo é o fortalecimento da militância de colonos, muitos deles desalojados por barragens e que viriam a formar o MST.
Em 1990, outro momento dramático da militância na cidade: o conflito da Praça da Matriz, episódio da morte de um PM que sofreu um corte no pescoço durante confronto com manifestantes pró-reforma agrária.
“O Rio Grande deu sua contribuição ao partido, assim como outros Estados”, diz o deputado federal Pepe Vargas (PTRS), dirigente estadual da legenda. Vargas discorda que o partido tenha raiz principal nos movimentos rurais. Para ele, o petismo teve forte influência do sindicalismo urbano. “Veja a histórica greve dos bancários, que tinha em Olívio Dutra uma forte liderança sindical”, lembrou. Eleito em 1988, Dutra abriu período de 16 anos do PT na Prefeitura. Para Vargas, a morte do PM foi “uma tragédia, resultado da repressão desnecessária da PM contra os colonos.”