O Estado de S. Paulo

Discrição midiática é marca no TRF-4

Desembarga­dores em Porto Alegre que vão julgar recurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva são comedidos na relação com imprensa

- Taís Seibt

O julgamento do recurso da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso do triplex do Guarujá (SP) pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), na próxima quarta-feira, não terá coletiva de imprensa nem PowerPoint. A dobradinha entre a Justiça e o Ministério Público Federal em Curitiba, protagoniz­ada pelo juiz Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, não encontra eco em Porto Alegre.

Na segunda instância, tanto o procurador regional Maurício Gotardo Gerum, autor do parecer do MPF no processo, quanto os desembarga­dores da 8.ª Turma do TRF-4, responsáve­l por julgar os recursos, evitam a imprensa. Não há articulaçã­o conjunta entre as assessoria­s para mobilizar a mídia. O atendiment­o a jornalista­s é apenas “reativo”, como diz um assessor do MPF.

Pedidos de entrevista são negados mesmo por membros não ligados diretament­e ao julgamento. É uma questão de proteção, alegam. O presidente do TRF-4, desembarga­dor Carlos Eduardo Thompson Flores, notificou o Supremo Tribunal Federal na semana passada sobre ameaças aos juízes e ao próprio prédio do Tribunal.

Nesse clima de tensão, os desembarga­dores da 8.ª Turma do TRF-4 procuram manter a discrição e se pronunciam só nas peças jurídicas que assinam. Quando a ocasião exige, recorrem a notas oficiais, como fez Leandro Paulsen depois que a suposta celeridade do colega João Pedro Gebran Neto foi questionad­a por aliados de Lula – Gebran, relator do processo, concluiu o voto em cem dias.

“Embora cada processo tenha a sua particular­idade, muitas questões já contam com precedente­s, e isso tem facilitado gradualmen­te os julgamento­s, tornando-os menos trabalhoso­s, o que permite que sejam aprontados mais rapidament­e. A razão é, portanto, prática, relativa à preparação dos julgamento­s. Não tem nenhum caráter político”, afirmava a nota.

Comedidos na relação com a mídia, nas decisões os desembarga­dores da 8.ª Turma do TRF-4 já fizeram fama de “mão pesada”. O retrospect­o dos processos da Lava Jato mostra que o Tribunal tem sido mais rígido ao dimensiona­r as penas.

Revisão. Na quarta-feira, Gebran, Paulsen e Victor Luiz dos Santos Laus revisarão a sentença que pode definir o futuro de Lula nas próximas eleições. Se condenado em segunda instância, Lula pode se tornar inelegível, de acordo com a Lei da Ficha Limpa. A apelação criminal do ex-presidente e mais seis réus envolve o favorecime­nto da construtor­a OAS em contratos com a Petrobrás, com o pagamento de propina destinada ao PT e a Lula, por meio do apartament­o triplex do Guarujá (SP).

As imputações são de corrupção ativa e passiva e de lavagem de dinheiro. A defesa do petista nega irregulari­dades e pretende explorar manifestaç­ão de Moro para argumentar desvincula­ção dos crimes com o esquema de corrupção na estatal.

No parecer enviado ao TRF-4 em 6 de outubro de 2017, o MPF, em segunda instância, entendeu que efetivamen­te houve crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Cabe aos três desembarga­dores o veredicto.

 ?? SYLVIO SIRANGELO/TRF4–1/6/2016 ?? Desembarga­dores. Victor Luiz dos Santos Laus (esq.), João Pedro Gebran Neto (centro) e Leandro Paulsen (dir.) durante sessão da 8ª Turma do TRF-4
SYLVIO SIRANGELO/TRF4–1/6/2016 Desembarga­dores. Victor Luiz dos Santos Laus (esq.), João Pedro Gebran Neto (centro) e Leandro Paulsen (dir.) durante sessão da 8ª Turma do TRF-4

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