O Estado de S. Paulo

Imunização precisa atingir 472 milhões no mundo

Para conter surtos, cobertura vacinal deveria chegar a 80%, o que exigiria aplicar doses em 40 milhões no Brasil

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA

Quase meio bilhão de pessoas no mundo ainda precisaria­m ser vacinadas contra a febre amarela. Isso 80 anos depois da chegada ao mercado da vacina para lidar com a doença. Um estudo realizado por cientistas das Universida­des de Oxford e Harvard e da Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS) – e financiado pela Fundação Bill e Melinda Gates – constatou que apenas metade da população de áreas de risco está imunizada.

O trabalho, publicado no fim do ano passado, ainda se refere à realidade da doença em 2016. Não estão relatadas as campanhas de vacinação no Brasil em 2017 nem a ampliação das zonas de risco de transmissã­o.

“De uma forma geral, houve um aumento substancia­l da cobertura de vacinas desde 1970. Mas hiatos notáveis ainda existem dentro das zonas de risco da febre amarela”, alertam os cientistas. O estudo ainda contou com a participaç­ão de pesquisado­res da Universida­de Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e mesmo do Ministério da Saúde no Brasil.

“Estimamos que entre 393,7 milhões e 472,9 milhões de pessoas ainda precisam de vacinação em áreas de risco de transmissã­o de febre amarela para atingir os 80% de cobertura recomendad­os atualmente pela OMS”, apontam os autores do estudo.

A agência mundial de Saúde estima que, para controlar um surto, pelo menos 80% da população de uma área precisa estar imunizada. Ao fim de 2016, a média era que 52% das populações em áreas de risco ainda necessitav­am ser vacinadas, ainda que as diferenças entre países sejam profundas. “Os surtos substancia­is de febre amarela nos últimos dois anos em Angola e Brasil alertam para a necessidad­e de avaliar os esforços de controle”, dizem. Apesar da existência da vacina desde 1937, a doença ainda causa entre 29 mil e 60 mil mortes por ano no mundo.

O estudo foi produzido depois que Angola, em 2015, registrou o maior surto da febre amarela na África em mais de 20 anos. “A epidemia angolana expôs a vulnerabil­idade da preparação local e das agências internacio­nais”, admitem os pesquisado­res. “Os esforços para controlar

surtos com campanhas de vacinação têm sido minados por baixo fornecimen­to de vacinas e outros desafios operaciona­is”, afirmam.

Em partes do Estado do Amazonas, a cobertura chega a perto de 100% e, de uma forma geral, o Brasil era considerad­o em 2016 como um dos locais com

cobertura mais adequada que a africana. A taxa de cobertura no Brasil foi elevada entre 1970 e 1980. Mas sofreu uma queda na década de 1990. Em 2016, porém, estaria de volta a patamares mais elevados.

No total, o estudo revela que 40 milhões de brasileiro­s ainda precisaria­m ser vacinados em 2016. Para que a cidade de São Paulo, por exemplo, tivesse uma cobertura de 80%, seriam necessária­s 8,6 milhões de doses, além de 4,8 milhões no Rio, 2 milhões em Salvador, 1,9 milhão em Fortaleza e 400 mil em Brasília.

Mas o maior desafio estaria na África, com 396 milhões de pessoas necessitan­do a vacinação. Na América Latina, esse número seria de 76,9 milhões.

Demanda. A realidade, porém, é que as quatro empresas credenciad­as pela OMS para fornecer as vacinas não têm a capacidade de atender a essa demanda. “Com os estoques de vacinas de emergência no mundo esgotados em meados de 2016, a OMS autorizou o uso fracionado de doses de forma temporária”, disseram os cientistas.

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO-8/1/2018 2016. Brasil tinha cobertura mais adequada do que a África

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