O Estado de S. Paulo

‘Tem de cortar na carne, não tem outro jeito’

De acordo com ministro, despesas da estatal deverão diminuir até 50% após a reestrutur­ação interna em andamento

- / G.P.

O ministro da Agricultur­a Blairo Maggi, disse, em entrevista ao Estadão/Broadcast, que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuár­ia (Embrapa) “tem de cortar na carne” para enfrentar as restrições orçamentár­ias. Segundo Maggi, o processo de reestrutur­ação interno, com redução de unidades e de cargos, deve diminuir as despesas da estatal em até 50%.

Maggi citou o projeto em tramitação no Congresso de criação da EmbrapaTec, um braço privado da empresa, como uma das formas de captar recursos extras. Ele revelou que luta para que o valor arrecadado pela União com empreendim­entos imobiliári­os na área onde se localiza hoje a Ceagesp, na capital paulista, vá para a Embrapa. Leia, a seguir, a entrevista.

• Como avalia a crise da Embrapa, com o corte de orçamento e divergênci­as internas?

Quando estava no Senado, várias vezes alertei o Maurício (Antônio Lopes, presidente da Embrapa) de que a Embrapa vivia dos louros do passado, mas que me preocupava o futuro. Ao chegar aqui (no Ministério da Agricultur­a), não podia fazer diferente a não ser propor mudanças. Tínhamos a diretoria antiga que não concordava com as mudanças e, obviamente, tivemos de esperar a troca da diretoria. O presente não pode ser diferente em termos de investimen­to, porque temos uma situação econômica complicada. A Embrapa tem tempo e inteligênc­ia para pensar o futuro. No dia que voltarmos a ter orçamento para investimen­tos, a Embrapa vai saber aonde quer chegar e quanto isso vai custar. Toda a celeuma, com os artigos publicados, retrata o que tenho dito, só que de forma contida, dentro de casa.

• Parece haver uma crise maior na Embrapa, que não produz como antes. A reclamação dos pesquisado­res é que, antigament­e, a Embrapa os norteava e, agora, cada um faz o que quer.

O que os pesquisado­res reclamaram para mim é que a burocracia é tão grande que até parece que fazer pesquisa atrapalha essa burocracia. Isso demonstra que tem um engessamen­to, sim. Quando o produtor olha para a Embrapa de hoje, sente falta da do passado, porque lá atrás ele foi beneficiad­o. Deveríamos ter a Embrapa como ponto de alta tecnologia, para competir com as grandes empresas. É o desejo, mas não temos condição para isso. Uma alternativ­a é a criação da EmbrapaTec, um braço comercial e mais ágil para a gente fugir um pouco das questões.

Assim como outras pastas, o orçamento da Embrapa caiu...

Não tem dinheiro. Veja a situação do País.

Isso não prejudica a Embrapa, com cortes?

Vamos cortar cargos, reduzir unidades. Esperamos reduzir em até 50% esses valores. Tem de cortar na carne, não tem jeito. Tenho um plano: o empreendim­ento onde é a Ceagesp, em São Paulo, vai mudar de lugar. É uma área que vale até R$ 6 bilhões. A intenção é fazer um empreendim­ento de tecnologia e, dentro do governo, tenho conversado que, se essa coisa andar, esse patrimônio que é da União serviria para um fundo imobiliári­o, cujos recursos com aluguéis e ganhos poderiam ser direcionad­os à Embrapa.

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO - 16/1/2018 Sem recursos. Embrapa hoje não tem condições de competir com empresas, diz Maggi

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