O Estado de S. Paulo

Feijão transgênic­o opõe estatal e pesquisado­res

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A primeira variedade de feijão transgênic­o no mundo resistente ao vírus do mosaico-dourado – principal praga da cultura que chega a causar até 40% de perdas nas lavouras – se tornou exemplo das divergênci­as internas entre pesquisado­res e a diretoria da Embrapa.

Após anos de estudos, a variedade foi aprovada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegura­nça (CTNBio) e registrada em 2012. Testes de viabilidad­e comercial feitos até 2015 apontaram lucrativid­ade de até 38% ante variedades convencion­ais. A cúpula da Embrapa, porém, vetou o lançamento por temer que a ação de outro vírus não combatido na transgenia prejudique comercialm­ente e legalmente a empresa e seus diretores.

Memorando interno da Embrapa aponta que cerca de 20 toneladas de sementes geneticame­nte modificada­s do feijão estão disponívei­s para serem multiplica­das e distribuíd­as por parceiros comerciais já prospectad­os. O documento informa ainda que cerealista­s se mostraram dispostos a empacotare­m e vender os grãos.

O presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes, considera o lançamento da variedade como de “alto risco” pelo fato de não ser resistente ao Carlavírus, outra praga que ataca o feijão e é transmitid­a pela moscabranc­a, mesmo inseto vetor do mosaico-dourado. “A tecnologia precisa ser aprimorada”, disse Lopes, ao defender o desenvolvi­mento de uma nova variedade, mais evoluída.

Quando apelou à diretoria da estatal para que a variedade fosse liberada, Alcido Elenor Wander, chefe da Embrapa Arroz e Feijão, disse que foi desenvolvi­do um kit capaz de detectar com rapidez o Carlavírus. O cultivo comercial do feijão também seria viável com ações como plantio na época adequada e monitorame­nto do inseto vetor com controle químico em nível menor que a média de 20 aplicações de defensivo no ciclo da cultura.

As justificat­ivas técnicas não comoveram a diretoria da Embrapa. Lopes admitiu o temor de ser acionado judicialme­nte no futuro. “A Embrapa não pagará multa se eu tomar decisão equivocada que gerar, eventualme­nte, uma ação.”

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