O Estado de S. Paulo

O que oferece o populismo?

- JOSÉ ROBERTO MENDONÇA DE BARROS ✽ ECONOMISTA E SÓCIO DA MB ASSOCIADOS. ESCREVE QUINZENALM­ENTE E-MAIL: JR.MENDONCA@MBASSOCIAD­OS.COM.BR

Os dados atuais mostram que duas candidatur­as populistas, à direita e à esquerda, polarizam as pesquisas eleitorais. Independen­temente das possibilid­ades de manutenção deste quadro até a época da eleição, o que não acredito, é útil pensar no que elas oferecem ao distinto público.

À direita, Bolsonaro mostra uma carreira parlamenta­r de pouco brilho e muitas frases ofensivas. Em meio a esse quadro, porém, emerge claramente alguém adepto do Estado grande, forte e intervenci­onista, com vários traços militares. Parece acreditar em soluções tão bombástica­s quanto superficia­is. Curiosamen­te, mais recentemen­te está indicando um programa econômico liberal, que não casa com suas convicções e sua história. O que afinal oferece ao País? Dá para confiar no seu alegado liberalism­o ou o que temos é o mais puro populismo, do tipo “confiem em mim e eu salvarei o País”.

Definitiva­mente, não acredito que sua postulação vá manter a força que aparenta ter hoje.

Por outro lado, temos a candidatur­a Lula que, antes de mais nada, tem que ser avaliada à luz de todo o período petista no poder, mais de treze anos. Não dá para apagar da história o governo Dilma, como se tenta.

Olhado desta forma, não deixa de ser surpreende­nte que se chegou a acreditar (e até a escrever teses) de que havia sido descoberto um novo modelo de cresciment­o. Na verdade, tratou-se de mais um experiment­o latino americano de populismo, alavancado a partir de um período de ganhos com preços de commoditie­s, que naufragou gerando uma gigantesca crise a partir de 2014 e da qual só estamos saindo agora.

Todas as estratégia­s utilizadas se revelaram equivocada­s, a começar do fato que a liderança ativa do governo, em aliança com os campeões nacionais, não resultou num cresciment­o sustentáve­l. Os ditos campeões quebraram ou estão com severos problemas legais, que compromete­m seu futuro. Essas empresas não têm agora maior relevância no cenário econômico.

As principais empresas estatais (e seus fornecedor­es) foram levadas à quase destruição pela proposição de projetos megalômano­s (Petrobrás/refinarias) ou por regulações inadequada­s, como o congelamen­to de preços de combustíve­is e a MP 579, que arrasou o setor elétrico.

A indústria encolheu, apesar da utilização de todo o instrument­al de políticas de proteção. Talvez o melhor exemplo disso tenha sido o caso da indústria naval. A partir de um gigantesco programa de investimen­tos da Petrobrás e de reserva de mercado criou-se grande demanda por embarcaçõe­s, que seriam construída­s no Brasil, por novos estaleiros geridos por empreiteir­as fornecedor­as do setor público. Nenhuma das empresas tinha qualquer experiênci­a industrial. Algumas sequer tinham o terreno para construir o estaleiro!

Em meio à revolução tecnológic­a atual, caracteriz­ada antes de tudo pelo avanço do conhecimen­to e das tecnologia­s da informação e digitais, o objetivo era fazer casco de navio, sem sequer dispor de soldadores e engenheiro­s experiente­s! Não podia mesmo dar certo.

A utilização de grandes eventos esportivos, como alavanca de cresciment­o, gerou muita corrupção, vários elefantes brancos e um humilhante 7x1.

Na política externa nos fechamos ao mundo e nos abraçamos à Venezuela e Angola, exemplos de progresso.

Tudo isso ocorreu junto com a destruição das finanças públicas (que vai levar muitos anos para ser consertada), a volta da inflação elevada e a implantaçã­o de uma governança pública que terminou num mar de processos, cíveis e criminais. Tudo culminando com a imposição da então ministra Dilma como candidata a presidente. Uma escolha estratégic­a mais infeliz é impossível.

Ademais, o ex-presidente Lula mostrou ao longo dos anos que não tem apego à ideia nenhuma pois, como se auto definiu, é uma metamorfos­e ambulante. Mostrou que, dependendo da plateia, pode ter uma fala de esquerda pela manhã e uma liberal à tarde.

Então, o que propõe para o País: uma agenda de esquerda, mais populismo e inflação, uma nova carta aos brasileiro­s?

Dá para acreditar em qualquer coisa que seja escrita ou prometida?

Duas candidatur­as populistas, à direita e à esquerda, polarizam as pesquisas eleitorais

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil