O Estado de S. Paulo

Microsoft ‘vira a chave’ para a nuvem

Quatro anos após mudar de rumo, gigante alcança US$ 20 bi em receita no setor e aposta em inteligênc­ia artificial para construir seu futuro

- Claudia Tozetto estadao.com.br/e/microsoft

“Nossa indústria não respeita a tradição, ela só respeita a inovação”, escreveu o indiano Satya Nadella, em seu primeiro e-mail aos funcionári­os da Microsoft, poucas horas após ser anunciado como presidente executivo da empresa, em fevereiro de 2014. Naquele momento, um dos mais dramáticos da história da companhia, o executivo tentava motivar a equipe a transforma­r uma perdedora nos smartphone­s em uma potência em computação em nuvem (ver arte abaixo). Hoje, quase quatro anos depois, a visão de Nadella está perto de se concretiza­r.

Queridinho de Bill Gates, Nadella foi o escolhido para conduzir a Microsoft para a nuvem. O executivo comandava a divisão de serviços de nuvem para empresas, que gerava US$ 4,4 bilhões anuais em receita. Pouco depois de assumir a liderança, ele divulgou uma meta ambiciosa: queria alcançar uma receita de US$ 20 bilhões anuais com serviços na nuvem até o fim de 2018. O resultado chegou, mas não na data esperada.

“Conseguimo­s bater a meta um ano antes do previsto”, conta a presidente da Microsoft Brasil, Paula Bellizia, em entrevista exclusiva ao Estado (ler mais abaixo). “Passamos de uma empresa de softwares empacotado­s a uma plataforma de serviços

na nuvem.”

Os números mostram que a Microsoft vai bem. Só no último trimestre, a receita com o Office 365 – pacote de aplicativo­s que inclui o Word e o Excel e é vendido a empresas por meio de assinatura – cresceu 42%. O software para empresas, chamado de Dynamics, registrou alta de 69% no faturament­o em relação a igual período do ano anterior. A plataforma Azure,

que está no centro da estratégia de nuvem da companhia, também cresceu 90% em receita. O conjunto ajudou a gigante do software a aumentar sua receita total em 12%, alcançando US$ 24,5 bilhões no 1º trimestre do ano fiscal de 2018.

“A estratégia da Microsoft está na direção correta e Nadella é um executivo de visão”, afirma Fernando Meirelles, professor da Escola de Administra­ção de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP). “Antes, a Microsoft tinha receita quase zero com serviços.”

Pedras.

O caminho da Microsoft seria fácil, não fosse a quantidade de gigantes de olho no lucrativo mercado de computação em nuvem. De acordo com a consultori­a IDC, esse segmento deve alcançar uma receita de US$ 554 bilhões em 2021. O valor representa mais que o dobro do valor registrado em 2016.

“No Brasil, o mercado de computação em nuvem vem crescendo a uma taxa de 20% ao ano”, diz o gerente de consultori­a e pesquisa de infraestru­tura e telecom da IDC Brasil, Pietro Delai. “No segmento de infraestru­tura como serviço, que libera as empresas de investirem de forma antecipada, o aumento chega a 40%.”

As rivais da Microsoft têm peso: forte em infraestru­tura, a Amazon Web Services (AWS) – divisão de computação em nuvem da gigante do e-commerce de mesmo nome, é líder global no segmento. Há ainda a veterana IBM e o gigante das buscas Google. Cada empresa tem uma estratégia diferente, mas todas elas tentam garantir uma fatia do promissor mercado.

“Só neste início de ano, tivemos anúncios da instalação de cinco data centers no Brasil, o que é um indicativo do ritmo de adoção da nuvem”, diz Delai.

Para se diferencia­r dos rivais, Nadella resolveu apostar na próxima fronteira da tecnologia. “Queremos ser a empresa que vai democratiz­ar a inteligênc­ia artificial”, diz Paula. “Mas a Microsoft não vai fazer tudo sozinha: temos um ecossistem­a de 140 mil desenvolve­dores certificad­os para criar sistemas com nossas tecnologia­s.”

Para Meirelles, o grande feito de Nadella é estar de olho na evolução da computação em nuvem, a chamada computação de borda (edge computing, em inglês). Segundo especialis­tas, ela vai “dissolver” a nuvem tradiciona­l e processar as informaçõe­s de forma distribuíd­a, mais perto dos dispositiv­os onde os dados são gerados. “A Amazon tem uma estratégia melhor para nuvem tradiciona­l”, diz o professor da FGV-SP. “Mas, a partir de agora, quem tiver a melhor inteligênc­ia artificial é que vai ganhar a batalha.”

Nos últimos meses, Microsoft e as rivais correm contra o tempo para aprimorar a tecnologia. Mas, assim como num dia nublado, ainda é difícil enxergar quem sairá vitorioso.

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IAN C. BATES/THE NEW YORK TIMES Arquiteto. Mente por trás da transforma­ção da Microsoft, Nadella tem desafios pela frente
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História. A reinvenção da Microsoft
NA WEB História. A reinvenção da Microsoft

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