O Estado de S. Paulo

Tribunal que vai julgar Lula só absolveu 5 condenados por Moro

Apesar da reforma de algumas decisões da primeira instância, TRF-4 manteve pena de prisão em 93,5% dos casos

- Julia Affonso Ricardo Brandt ENVIADO ESPECIAL / PORTO ALEGRE

O Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) absolveu apenas cinco dos 77 condenados pelo juiz Sérgio Moro em quase quatro anos de Operação Lava Jato. Nesta quarta-feira, a Corte de segunda instância vai analisar o primeiro recurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Caso seja confirmada a pena de 9 anos e 6 meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro na ação do triplex do Guarujá (SP), o petista poderá ficar inelegível.

As estatístic­as revelam obstáculos impostos aos advogados de Lula. Apesar das reformas de decisões, 93,5% dos condenados não conseguira­m escapar da pena de prisão imposta na primeira instância. O criminalis­ta Carlos Eduardo Scheid, doutor em Direito, prevê “um desafio muito grande” para Cristiano Zanin Martins e sua equipe, uma vez que, ao longo de 20 anos, a jurisprudê­ncia do TRF-4 considera “o Estado frágil em relação à criminalid­ade econômica”. Lula foi condenado por Sérgio Moro por envolvimen­to no esquema de cartel e desvios na Petrobrás.

O Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) absolveu apenas cinco dos 77 condenados pelo juiz federal Sérgio Moro em quase quatro anos de Operação Lava Jato. Nesta quarta-feira, a Corte de segunda instância vai analisar o primeiro recurso do expresiden­te Luiz Inácio Lula da Silva. Caso seja confirmada a pena de 9 anos e 6 meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro na ação do triplex no Guarujá (SP), o petista poderá ficar inelegível.

O resultado do julgamento terá impacto na disputa pelo Palácio do Planalto e vai mexer com o xadrez da eleição deste ano. A dificuldad­e jurídica de Lula se reflete em seu futuro político e no de seu partido. Ontem, o Estado mostrou que o PT teme encolher na Câmara, no Senado e nos governos estaduais caso o petista seja impedido pela Lei da Ficha Limpa de disputar a Presidênci­a mais uma vez.

A defesa do petista alega inocência. As estatístic­as do TRF-4, porém, revelam obstáculos impostos a Lula. O índice de absolvição na 8.ª Turma Criminal da Corte – responsáve­l em Porto Alegre por julgar os recursos contra as sentenças de Moro, da 13.ª Vara Criminal Federal, de Curitiba – é de 6,5%. Apesar das reformas das decisões, 93,5% dos condenados não conseguira­m escapar da pena de prisão (mais informaçõe­s no quadro ao lado).

O criminalis­ta Carlos Eduardo Scheid, doutor em Direito, prevê “desafio muito grande” para Cristiano Zanin Martins e equipe, uma vez que, ao longo de 20 anos, a jurisprudê­ncia do TRF-4 considera “o Estado frágil em relação à criminalid­ade econômica”. Lula foi condenado por envolvimen­to no esquema de cartel e desvios na Petrobrás.

“Normalment­e um processo que tem uma prova indiciária e um processo cuja prova traz dúvidas é um processo que conduz à absolvição. Mas, em alguns casos especiais, o TRF-4 entende que essa dúvida não é uma dúvida razoável, porque eles aplicam a teoria do domínio do fato e aplicam a questão da cegueira deliberada”, explicou Scheid, que atua na Corte, mas não defende nenhum acusado na Lava Jato.

Segundo o criminalis­ta, Moro conhece bem a jurisprudê­ncia do Tribunal. “As ações que são analisadas pelo TRF-4 são processos que tendem a ter um afrouxamen­to das garantias constituci­onais e uma valoração das posições do juiz de primeiro grau. Por isso, o índice de reversão das decisões de Moro é baixíssimo”, afirmou Scheid.

O procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima, da Lava Jato em Curitiba, comemorou os números e a coesão entre primeira e segunda instâncias. “O mais relevante é o grau de sucesso das acusações. Como o TRF-4 é o último grau de avaliação probatória, podemos dizer que o convencime­nto das provas levantadas nas acusações é superior a 90%”, afirmou Lima, um dos integrante­s da força-tarefa.

Absolviçõe­s. Até o momento, 98 decisões de Moro – um condenado por ter mais de uma sentença – foram analisadas pelo TRF-4 em 23 recursos. Foram absolvidos o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto (duas vezes), os executivos da empreiteir­a OAS Mateus Coutinho de Sá Oliveira e Fernando Augusto Stremel Andrade, o operador André Catão de Miranda e também Maria Dirce Penasso, mãe da operadora Nelma Kodama.

Preso desde abril de 2015, Vaccari foi condenado em cinco ações penais a 45 anos e 6 meses, por crimes como corrupção e lavagem de dinheiro. Três sentenças de Moro já foram analisadas pela Corte – uma de 15 anos e 4 meses, outra de 9 anos e a terceira de 10 anos. Nas duas primeiras, a defesa conseguiu a absolvição. Na terceira, a pena foi aumentada para 24 anos.

A primeira vitória de Vaccari na 8.ª Turma Criminal ocorreu em junho do ano passado e a

segunda, em setembro. Os desembarga­dores federais entenderam que “a existência exclusiva de depoimento­s” de delatores não era capaz “de subsidiar a condenação”.

“A lei brasileira exige provas que confirmem a palavra do delator”, disse Luiz Flávio Borges D’Urso, defensor de Vaccari e ex-presidente da OAB-SP. “A reforma de decisões proferidas pelo juiz da Lava Jato repousa, exclusivam­ente, no aspecto técnico. Aliás, é para isso que servem os recursos: para que as instâncias superiores possam rever as decisões de primeiro e segundo graus, e corrigi-las”, afirmou.

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO Expectativ­a. Ex-presidente foi condenado a 9 anos e 6 meses de prisão; decisão de quarta-feira terá impacto na eleição
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