O Estado de S. Paulo

Mario Vargas Llosa

É provável que os EUA nunca empobrecer­am tanto, política e intelectua­lmente.

- AFRIN, SÍRIA /

Em rota de colisão com os Estados Unidos, a Turquia continuou ontem sua ofensiva a milícias curdas apoiadas pelos americanos na Síria, e iniciou uma invasão terrestre. Tanques e blindados seguiram pela fronteira e entraram na província de Afrin, no norte da Síria. A ação marcou o segundo dia de luta. No sábado, a Turquia bombardeou diversas posições da milícia YPG para abrir caminho para a invasão terrestre. Ao menos 21 civis morreram.

“A Operação Olive Branch está acontecend­o como planejado, e a operação terrestre começou”, disse o Exército turco, segundo maior da Organizaçã­o do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Segundo o primeiro-ministro Binali Yildirim, a operação criaria uma “zona segura” de 30 quilômetro­s. Facções rebeldes do Exército Sírio Livre apoiadas pela Turquia capturaram uma aldeia curda sem resistênci­a e retiravam minas terrestres.

A YPG disse que havia repelido as forças turcas. “Eles foram forçados a recuar”, afirmou Nouri Mahmoudi, membro da YPG. Ontem, durante todo o dia, os combatente­s trocaram tiros

e bombardeio­s e entraram em confronto ao longo de várias linhas de frente.

A Turquia decidiu atacar as forças curdas Unidades de Proteção Popular (YPG) em Afrin pela região ser um enclave curdo dominado pelo grupo. O governo de Recep Tayyip Erdogan vê a YPG como uma extensão do proibido Partido dos Trabalhado­res do Curdistão (PKK), formado em 1978, com o objetivo original de criar um Estado independen­te, o Curdistão. Hoje,

o PKK pede autonomia para os curdos, mas é perseguido pelos turcos, que os consideram uma organizaçã­o terrorista.

Tensões. Considerad­a terrorista pelos EUA até a ascensão do Estado Islâmico (EI), a YPG se tornou uma aliada dos americanos na luta contra o EI em cidades-chave do norte da Síria. A aproximaçã­o provocou irritação da Turquia com seu aliado na OTAN. Na semana passada, o governo americano anunciou a criação de uma força fronteiriç­a na Síria, com 30 mil soldados, que seria comandada pela coalizão militar liderada pela YPG. Erdogan acusa a milícia curda de tentar criar um “corredor de terror” na fronteira.

O ataque turco em Afrin também reflete as frustraçõe­s cada vez maiores do governo turco com o apoio dado por Washington às forças curdas, que atualmente controlam cerca de 25% do território sírio.

A Rússia, que apoia o regime do presidente sírio Bashar Assad, retirou seus militares da área onde acontece a ofensiva turca, em sinal de consentime­nto, mas pediu “moderação” às autoridade­s de Ancara.

Ontem, Assad acusou a Turquia de apoiar o terrorismo. “A brutal agressão turca contra a cidade síria de Afrin não se pode dissociar da política do regime turco desde o primeiro dia da crise síria, que tem se baseado principalm­ente no apoio ao terrorismo”, disse Assad em comunicado. Damasco ameaçou derrubar aviões turcos em seu território.

Os EUA afirmam que foram avisados pela Turquia antes dos ataques aéreos. Segundo o secretário de Defesa americano, Jim Mattis, Washington está em contato com Ancara sobre o caminho a seguir. Ontem, o governo americano pediu que a Turquia “exerça contenção” em suas operações militares. O Conselho de Segurança da ONU abordará o tema hoje.

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BULENT KILIC/AFP Avanço. Turcos observam forças na fronteira com a Síria, onde ocorre ação contra curdos

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