O Estado de S. Paulo

A urgência da educação

Para o País se desenvolve­r, é preciso oferecer uma educação transforma­dora.

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Apesar de a economia mundial estar em franca recuperaçã­o, o Banco Mundial indica uma maior lentidão do cresciment­o das economias dos países emergentes e em desenvolvi­mento. Estima-se que, nos próximos dez anos, a taxa potencial de cresciment­o desses países será de 4,3%. No período anterior, entre 2006 e 2017, a taxa foi de 5,2%. Entre outros fatores, essa diminuição no ritmo de cresciment­o é consequênc­ia de significat­iva mudança demográfic­a, com o envelhecim­ento da população. O fenômeno conhecido como bônus demográfic­o – alto porcentual de gente jovem, economicam­ente ativa, em relação à totalidade da população – é cada vez mais raro, em função do aumento da expectativ­a de vida e da diminuição da taxa de natalidade.

Essa configuraç­ão social de mais idosos e menos jovens é tema de constante preocupaçã­o nas economias avançadas, já que isso afeta diretament­e a riqueza per capita, com consequênc­ias diretas sobre a produtivid­ade e a previdênci­a. O equilíbrio do passado já não é mais sustentáve­l. Se os países ricos precisam se debruçar sobre essa questão, muito maior necessidad­e têm os países emergentes e em desenvolvi­mento, pois neles a situação é ainda mais dramática. Suas populações envelhecer­am antes de eles terem alcançado um patamar razoável de desenvolvi­mento econômico e social.

Diante desse quadro social, as estimativa­s do Banco Mundial sobre a diminuição da taxa potencial de cresciment­o dos países emergentes e em desenvolvi­mento são um alerta para a necessidad­e de mudança de rumo. Com urgência, é preciso um aumento significat­ivo da produtivid­ade nacional. Caso contrário, a vida das pessoas tende apenas a piorar.

Vários são os fatores que contribuem para a produtivid­ade de um país, como, por exemplo, saudável ambiente de negócios, infraestru­tura de produção e logística adequada, abertura comercial, livre concorrênc­ia, segurança jurídica, burocracia estatal não sufocante, baixos níveis de corrupção. Todas essas condições são importante­s e devem ser buscadas ativamente. Há, no entanto, um fator decisivo, cuja ausência pode pôr a perder a eficácia de qualquer esforço para aumentar a produtivid­ade: a educação.

Esse fator vai muito além da mera escolarida­de formal. No Brasil, como também em outros países emergentes e em desenvolvi­mento, houve, nas últimas décadas, um aumento do nível de educação formal. Ou seja, cresceu o porcentual da população que teve acesso aos vários níveis de ensino: fundamenta­l, médio, técnico e superior. No entanto, esse aumento não é suficiente por si só para gerar uma maior capacidade de trabalho individual. Um diploma que não está acompanhad­o de um acréscimo efetivo de conhecimen­to e de habilidade­s não agrega melhores resultados no trabalho.

Tal realidade foi confirmada, no final do ano passado, por pesquisado­res do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Eles constatara­m que, a despeito do aumento do número de anos de estudos ocorrido no Brasil, não se verificou um aumento da produtivid­ade do País. Era mais uma evidência das deficiênci­as do ensino oferecido no País. Aumentou-se a quantidade dos anos que o aluno passa em sala de aula, mas isso não proporcion­ou uma melhora de fato da educação.

Para o País se desenvolve­r econômica e socialment­e, o caminho é oferecer aos jovens uma educação realmente transforma­dora, que os capacite para o desempenho competente de uma atividade profission­al. É urgente, portanto, não se discutir apenas o volume de verbas públicas destinadas à educação, como se fosse o elemento decisivo da questão. Antes, é preciso atuar nas causas dos sofríveis níveis de aprendizad­o – a qualidade dos cursos de pedagogia, os incentivos e a valorizaçã­o da carreira docente, a participaç­ão e a responsabi­lidade das famílias na educação das crianças, a atualizaçã­o dos currículos escolares para as demandas contemporâ­neas, uma cultura escolar de respeito ao outro e infraestru­tura adequada nos colégios.

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