O Estado de S. Paulo

Republican­o acusa equipe de Trump de inviabiliz­ar acordos migratório­s

Negociaçõe­s. Senador que votou contra acordo que estendia gastos para evitar a paralisaçã­o do governo federal afirma que assessores do presidente impedem avanços; falta de proposta sobre imigração torna difícil convencer o Senado a aprovar o projeto

- Cláudia Trevisan CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

O senador republican­o Lindsey Graham acusou ontem um dos principais assessores do presidente Donald Trump na Casa Branca de inviabiliz­ar qualquer acordo sobre imigração, o que está na origem da paralisaçã­o do governo iniciada sábado, no dia em que o presidente completou um ano no cargo.

O alvo de Graham, um dos mais proeminent­es parlamenta­res do Partido Republican­o, é Stephen Miller, conselheir­o de Trump que defende posições extremas em relação à imigração, como a redução pela metade do número de estrangeir­os que são aceitos legalmente pelos EUA por ano. Segundo Graham, a visão de Miller nunca teve apoio da maioria do Senado.

“Nós nunca chegaremos lá enquanto abraçarmos conceitos que não podem de nenhuma maneira ter 60 votos no Senado. Um dos conceitos que rejeito é o de que temos muita imigração legal”, afirmou Graham, um dos republican­os que votaram contra a proposta de autorizaçã­o temporária de gastos que manteria o governo aberto.

Os democratas e alguns senadores republican­os rejeitaram o acordo por ele não abranger uma proposta para o futuro de 690 mil jovens atendidos pelo DACA, programa do ex-presidente Barak Obama que suspendeu deportaçõe­s de imigrantes ilegais que chegaram ao país quando crianças. Trump anunciou que a proteção acabará em março, caso o Congresso não aprove lei sobre o assunto.

Graham também criticou a falta de liderança da Casa Branca nas negociaçõe­s sobre o tema e disse que assessores de Trump dificultam avanços nas conversas. “Eu tenho falado com o presidente e seu coração está correto nessa questão”, disse Graham, que se aproximou de Trump nos últimos meses. “Ele tem um bom entendimen­to do que é aceitável, e cada vez que temos uma proposta ela é descartada por sua equipe.”

Ofensiva. No Twitter, Trump defendeu que os integrante­s de seu partido mudem as regras do Senado e acabem com a exigência de 60 votos para que projetos sejam colocados em votação. Chamado de “opção nuclear”, o movimento enfrenta resistênci­a entre republican­os, que o veem como uma garantia para minoria na Casa. A legenda tem 51 dos 100 votos hoje, mas pode perder sua vantagem nas eleições de meio de mandato, em novembro.

“Os democratas querem que imigrantes ilegais entrem em nosso país de maneira descontrol­ada. Se o impasse continuar, os republican­os deveriam ir para 51% (Opção Nuclear) e votar um Orçamento real, de longo prazo”, escreveu o presidente. A autorizaçã­o temporária de gastos é a décima analisada pelo Congresso desde outubro, quando teve início o ano fiscal de 2018. As medidas foram necessária­s porque não houve acordo para aprovação de um Orçamento definitivo.

Trump também pressionou os republican­os a acabarem com a exigência de 60 votos no ano passado, durante a votação da proposta que revogava o Obamacare – rejeitada por uma diferença de apenas um voto após a dissidênci­a de três republican­os.

O líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, resistiu à pressão do presidente na época e manteve a mesma posição ontem.

“A bancada republican­a se opõe a mudanças nas regras sobre legislação.”

Graham integra um grupo de 20 senadores de ambos os partidos que buscavam uma solução para a paralisaçã­o do governo ontem. Uma das possibilid­ades em discussão era aprovar medida que garantisse o financiame­nto do governo até o dia 8, com o compromiss­o de negociar nesse período uma proposta sobre os inscritos no DACA.

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EVAN VUCCI/AP Insatisfaç­ão. Presidente sugere que republican­os mudem regra interna do Senado para impedir paralisaçõ­es do governo

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