O Estado de S. Paulo

Títulos de dívida de empresa nacional despontam como aposta para 2018

Mercado de debêntures registrou alta de 45% em volume em 2017; investidor deve levar em conta os riscos do papel

- Jéssica Alves Nicholas Shores

À medida que as empresas buscam outras fontes de financiame­nto de longo prazo, após o freio nos desembolso­s do Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES), as debêntures despontam como uma das apostas para 2018. Com mais ofertas, a tendência é que os investidor­es consigam retornos melhores. O risco, porém, tende a aumentar na mesma proporção.

Títulos de renda fixa, as debêntures são instrument­os que as empresas utilizam para captar recursos no mercado. Antes, as companhias encontrava­m taxas bastante atrativas no BNDES, mas, com a torneira do banco de fomento se fechando e o alto custo do capital de giro cobrado pelos bancos, especialis­tas acreditam que as debêntures devem assumir um peso maior – abrindo também oportunida­des para quem quer diversific­ar seus investimen­tos.

No ano passado, as emissões de debêntures somaram R$ 88,2 bilhões – um salto de 45% em relação a 2016, segundo a Associação Brasileira das Entidades do Mercado Financeiro e de Capitais (Anbima). Desse total, 10% foram debêntures incentivad­as, que, por financiare­m projetos de infraestru­tura, são isentas de Imposto de Renda.

Érika Lacreta, gerente de Representa­ção Institucio­nal da Anbima, explica que o retorno desses títulos está atrelado ao risco, ao prazo de vencimento – geralmente longo – e às garantias oferecidas pelas empresas. Porém, o aumento da quantidade de emissores pode trazer uma competição maior, levando companhias a pagar juros mais altos. A remuneraçã­o média das debêntures em 2017, segundo a Anbima, foi de 106,4% do CDI (taxa que anda de mãos dadas com a Selic), mas alguns desses títulos ofereceram retorno de até 150% da taxa. É possível investir a partir de R$ 1 mil.

“Está na cara que o investidor vai ter de tomar mais risco”, resume Marcio Cardoso, presidente da Easynvest. A plataforma passou a oferecer debêntures em 2016, quando as aplicações foram de R$ 30 milhões. Já em 2017, foram investidos R$ 350 milhões.

Riscos. O economista Marcelo Grande começou a investir em debêntures no fim do ano passado em busca de retornos maiores do que os de outras aplicações de renda fixa. A maior preocupaçã­o foi pesquisar as caracterís­ticas da empresa – já que, diferentem­ente da maioria dos papéis de renda fixa, as debêntures não contam com a cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), de até R$ 250 mil por instituiçã­o bancária. Ou seja: se a empresa quebrar, o investidor terá de amargar o prejuízo. À época, Marcelo optou pela Cemig. “Ela não está bem financeira­mente, mas é uma empresa importante para o Estado de Minas.” A rentabilid­ade era de 10% de ganho real (acima da inflação).

Investidor experiente, Wlado Teixeira Nunes alerta ainda sobre outro risco inerente a esse título: a liquidez. “Se precisar vender o papel no meio do caminho, pode haver um deságio gigante. O mercado secundário de títulos no Brasil é quase inexistent­e.”

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FONTE: ANBIMA INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO
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ALEX SILVA/ESTADÃO Pesquisa. Marcelo estudou as caracterís­ticas da empresa

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