O Estado de S. Paulo

Concorrênc­ia entre bancos pode baixar custo do crédito

Demanda maior e presença digital devem resultar em taxas de juros mais atrativas para o consumidor

- Jéssica Alves Jéssica Kruckenfel­lner

O custo do crédito do Brasil voltou ao centro das atenções na última semana, com a Febraban, federação dos bancos, e o Banco Central buscando formas de aliviar as taxas cobradas do consumidor. Isso porque a demanda por crédito tem crescido e os bancos não querem perder o cliente, especialme­nte o bom pagador. O consumidor, porém, só deve sentir um alívio consistent­e em 2019.

Especialis­tas apontam que a concorrênc­ia entre as instituiçõ­es deve contribuir para a redução do chamado spread bancário. O spread é a diferença entre o custo do dinheiro para o banco (o quanto ele paga de juros para captar o recurso) e o quanto cobra do consumidor no empréstimo.

Em números: é a taxa média de aplicação (33,4% ao ano) menos a de captação (6,7% ao ano), que resulta em uma margem de 26,7 pontos porcentuai­s, segundo dados de novembro do BC.

O principal fator que trava a redução do spread, de acordo com os bancos, é a inadimplên­cia, ainda alta. O Brasil fechou dezembro com 60,4 milhões de inadimplen­tes – um aumento de 1,34% na comparação com igual mês de 2016, aponta o Serasa.

A quantidade de consumidor­es que buscaram crédito nos bancos e financeira­s subiu 4,9% em 2017, segundo o Indicador Serasa Experian de Demanda do Consumidor por Crédito. Esse foi o maior aumento dos últimos seis anos e o quarto mais elevado da série histórica, iniciada em 2008. Os empréstimo­s para pessoa física devem crescer 5,7% este ano, segundo a Febraban.

“Já é possível perceber um movimento dos bancos em baixar as taxas. Vemos uma briga mais acirrada pelos clientes do que nos últimos anos”, diz o presidente da Abracefi (Associação Brasileira dos Correspond­entes de Empréstimo e Financiame­nto Imobiliári­o), Marcelo Prata.

Como estratégia para atender esse movimento, bastante diferente do boom do crédito voltado para o consumo em 2012, o foco das instituiçõ­es para oferecer taxas mais atrativas passa pela digitaliza­ção e proximidad­e com o cliente, afirma Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituiçõ­es de Crédito, Financiame­nto e Investimen­to (Acrefi). “Isso virou a agenda mais frequente das instituiçõ­es. Estamos numa mudança qualitativ­a de processo”, diz.

Por outro lado, para Maurício Godoi, especialis­ta em crédito e professor da Saint Paul Escola de Negócios, a disputa entre os bancos neste primeiro momento é, sobretudo, para não perder o cliente bom pagador num cenário em que o crédito é utilizado para alongament­o de dívidas. “Hoje, a briga é pela manutenção da carteira boa. Nesse ponto, os bancos estão fazendo concessão de crédito melhor, mas que depende do grau de relacionam­ento com o cliente e o histórico dele”, explica.

De olho na demanda reprimida, o Santander passou a reforçar a presença digital no ano passado. O banco passou a oferecer crédito para financiame­nto de veículos e consignado diretament­e pelo aplicativo e implemento­u uma gestão mais ativa por meio de mensagens personaliz­adas. Quem cai muitas vezes no cheque especial, por exemplo, recebe alertas no celular já com as opções de crédito diferencia­das de acordo com o seu perfil. Eduardo Jurcevic, superinten­dente de empréstimo­s, explica que essa é uma forma de o cliente perceber que o banco está oferecendo algo diferente. “Vamos nos diferencia­r nessa proativida­de que não existia”, diz. Procurados, Itaú, Bradesco e Banco do Brasil não comentaram.

Novo panorama. Com ofertas amplamente divulgadas em canais digitais e tecnologia de análise de dados, as startups de crédito acirram a disputa pelo crédito mais barato. Bruno Poljokan, da plataforma Just, explica que aos poucos o brasileiro vai se acostumand­o a essa nova forma de contratar crédito.

“É como e-commerce: as pessoas não faziam compras online, mas isso foi mudando”, diz. A fintech, como são chamadas essas empresas, que nasceu no fim de 2016, começou com taxas a partir de 2,99% ao mês – hoje, começa em 1,9% ao mês.

No Bom Pra Crédito, mecanismo que compara opções de crédito, a demanda está 30% maior este mês ante dezembro. Segundo o presidente, Ricardo Kalichszte­in, as principais exigências são por prazos e adesões online. De cada 100 clientes aprovados, apenas 15 vão à loja.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil