Filme forma trilogia sobre funcionamento da democracia
Assim como construiu uma trilogia informal com O Terminal, Guerra dos Mundos e Munique para oferecer a mais séria e densa reflexão cinematográfica sobre os EUA após o 11 de Setembro, Steven Spielberg agora encerra com The Post – Guerra Secreta outra trilogia que demorou mais tempo para elaborar, e que nem realizou de forma contínua. O filme forma com Amistad e Lincoln outra enérgica discussão sobre as instituições e o funcionamento da democracia na “América”.
O Post do título refere-se ao The Washington Post, e a guerra secreta às pressões sofridas pelo jornal para não publicar documentos confidenciais do governo norte-americano sobre a Guerra do Vietnã. Encomendado pelo secretário de Estado Robert McNamara, o estudo aponta para a derrota militar no Sudeste Asiático, mas nem por isso os EUA, sob Eisenhower, Kennedy, Lyndon Johnson e Nixon, desistiram de enviar centenas de milhares de jovens para o sacrifício. Nixon tentou quanto pôde barrar a publicação, e o caso foi para o Supremo.
Essa é a história, não o tema de The Post. Numa era de empoderamento feminino, Spielberg dá nova contribuição ao tema, que já abordara com A Cor Púrpura. Na redação do Post, o editor-chefe (Tom Hanks) e seu batalhão de repórteres e redatores correm para impedir que o The New York Times seja o único a cutucar o governo por causa do Vietnã, e também para fazer do Post um grande jornal nacional. Hanks faz o que fazem os bons jornalistas, mas a decisão de publicar é de Katharine Graham, que herdou a publicação do pai e do marido.
Graham começa vista com desconfiança – é amiga de McNamara –, mas Spielberg faz da excepcional Meryl Streep a sua Mulher-Maravilha, mostrando como Katharine enfrentou tudo e todos para fazer prevalecer um princípio. Amistad é sobre a escravatura, e a igualdade entre os homens. Lincoln é sobre a Guerra Civil, a relação entre poderes (e até a corrupção como moeda de troca). The Post é sobre uma mulher que se agiganta e a liberdade de informar – em benefício dos governados, não dos governantes. Uma bela lição de ética num grande Spielberg.