O Estado de S. Paulo

Militar pesa 16 vezes mais que segurado do INSS em déficit

Aposentado­ria. Buraco nas contas da Previdênci­a chegou a R$ 268,8 bi no ano passado, em meio às discussões sobre a votação da reforma no Congresso; déficit per capita de militares é de R$ 99,4 mil por ano, enquanto no INSS não passa de R$ 6,25 mil

- Idiana Tomazelli Adriana Fernandes / BRASÍLIA

O rombo na Previdênci­a atingiu o recorde de R$ 268,8 bilhões em 2017. O déficit é 18,5% maior do que o de 2016 e inclui os regimes do INSS e dos servidores da União. Os dados mostram que as aposentado­rias dos servidores continuam tendo, proporcion­almente, peso maior nas contas. Um beneficiár­io militar federal custa 16 vezes mais do que um segurado do INSS. O déficit per capita anual dos militares ficou em R$ 99,4 mil no ano passado, ante R$ 6,25 mil no INSS.

O rombo na Previdênci­a atingiu a marca recorde de R$ 268,8 bilhões em 2017 – ano marcado por sucessivos adiamentos na votação da reforma proposta pelo governo para endurecer as regras de aposentado­ria e pensão no País. O déficit é 18,5% maior que o de 2016 e inclui os regimes do INSS e dos servidores da União. Os dados foram revelados ontem pelo governo e mostram que a Previdênci­a dos servidores segue tendo um peso maior nas contas proporcion­almente. A participaç­ão de um militar federal nesse rombo, por exemplo, tem é 16 vezes maior que a de um segurado do INSS.

O chamado déficit per capita anual dos militares ficou em R$ 99,4 mil no ano passado, ante R$ 6,25 mil no INSS. Entre os servidores civis da União, a necessidad­e de financiame­nto do rombo também é mais elevada, de R$ 66,2 mil. Embora tenham um peso maior, os militares ficaram de fora da reforma que está em discussão. Os dados foram calculados com base no déficit de 2017 e no número de beneficiár­ios de 2016, que são os mais recentes sobre a quantidade de benefícios em todos os regimes.

Em termos absolutos, o déficit na Previdênci­a aumentou R$ 41,9 bilhões no ano passado. Para o secretário de Previdênci­a, Marcelo Caetano, o resultado lança mais um alerta sobre a necessidad­e de aprovar a reforma. Segundo ele, sem o enfrentame­nto do problema, o Brasil poderá viver uma situação semelhante ao que aconteceu com Grécia e Portugal, onde a solução acabou sendo a redução dos benefícios.

O governo ainda não tem os votos necessário­s para aprovar a proposta, mas Caetano demonstrou confiança na capacidade de negociação. “O governo trabalha com a aprovação da reforma em meados de fevereiro”, disse diversas vezes durante a entrevista coletiva. O secretário defendeu que a reforma é essencial para o equilíbrio das contas públicas. “Observem os números. Os déficits crescem na ordem de dezenas de bilhões por ano. Temos que enfrentar.”

O avanço do déficit não é o único dado alarmante na avaliação do consultor legislativ­o do Senado Pedro Nery. O ritmo de cresciment­o da despesa previdenci­ária é o que mais preocupa, segundo ele. O aumento foi de 6,7% no ano passado, já descontada a inflação do período. “Mesmo em um ano em que praticamen­te não houve reajuste no benefício, ela continuou aumentando porque o cresciment­o vegetativo (maior número de beneficiár­ios) é muito forte.”

Caetano alertou que o processo de envelhecim­ento populacion­al tende a se acelerar na próxima década, um indicativo de que a janela para o Brasil fazer mudanças nas regras previdenci­árias sem cortar benefícios pode estar se fechando.

O forte cresciment­o do déficit previdenci­ário urbano reforça essa mensagem. O aumento do rombo foi de 54,7% no ano passado, para R$ 71,7 bilhões. Até 2015, essa conta era positiva, mas a avaliação do secretário é que há uma tendência estrutural de resultados negativos a partir de agora. “O envelhecim­ento populacion­al acontece em ritmo muito acelerado.”

O governo espera uma economia de cerca de R$ 588 bilhões nas despesas com aposentado­rias e pensões em 10 anos com a aprovação da reforma da Previdênci­a, a maior parte do impacto concentrad­a no longo prazo.

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO - 18/1/2018 Exceção. Mesmo tendo um peso maior nos cofres públicos, militares estão fora da reforma em debate

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