O Estado de S. Paulo

Sede do tribunal onde Lula será julgado é isolada por terra e ar

Área ficará inacessíve­l por via aérea, terrestre e pelo Rio Guaíba; defesa de Lula pede prescrição de pena e que recurso, em caso de condenação, seja feito em liberdade

- Ricardo Galhardo ENVIADO ESPECIAL / PORTO ALEGRE Taís Seibt ESPECIAL PARA O ESTADO PORTO ALEGRE

A partir do meio-dia de hoje, o acesso ao perímetro do prédio do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), em Porto Alegre, onde amanhã será julgado o recurso do ex-presidente Lula contra sua condenação por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro no caso do apartament­o triplex do Guarujá, ficará isolado por via aérea, terrestre e naval. Aeronaves farão o monitorame­nto do espaço aéreo e embarcaçõe­s das forças de segurança estão sendo posicionad­as no Rio Guaíba. O esquema é semelhante ao que foi adotado durante visita do ex-presidente dos EUA Barack Obama, em 2016. Lula confirmou que vai participar de ato em sua defesa, hoje à noite, na capital gaúcha,

para “agradecer a solidaried­ade do povo”. Em memoriais da apelação do caso, a defesa solicitou, caso seja mantida a condenação de 9 anos e 6 meses de prisão imposta pelo juiz Sérgio Moro, o direito de Lula recorrer em liberdade. Os advogados também pediram o reconhecim­ento da prescrição de pena para os dois crimes.

Atos

“Vou a Porto Alegre agradecer à solidaried­ade do povo que está se manifestan­do.” Luiz Inácio Lula da Silva

EX-PRESIDENTE

“Vamos estar preparados para identifica­r quem queira fazer qualquer manifestaç­ão que contrarie a legislação.” Cezar Schirmer

SECRETÁRIO DE SEGURANÇA PÚBLICA

DO RIO GRANDE DO SUL

O Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), onde será julgado amanhã, a partir das 8h30, o recurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra a condenação a 9 anos e 6 meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, será isolado por via “aérea, terrestre e naval” do meio-dia de hoje até as 7 horas de quinta-feira. Atiradores de elite também vão atuar na operação. O petista viajará hoje a Porto Alegre para participar à noite de um ato em sua defesa, mas vai acompanhar o julgamento de São Paulo.

Lula foi condenado pelo juiz Sérgio Moro, da Lava Jato, no caso do triplex do Guarujá (SP), acusado de ter recebido R$ 2,2 milhões da empreiteir­a OAS como propina por meio da reforma do imóvel. Para o juiz, ele beneficiou a construtor­a em contratos com a Petrobrás. O petista alega inocência, pede para responder em liberdade e requer a prescrição da pena, caso a sentença seja confirmada (mais informaçõe­s na pág. A6).

“Vou a Porto Alegre agradecer à solidaried­ade do povo que está se manifestan­do”, disse ontem o petista durante ato com sindicalis­tas no Instituto Lula, em São Paulo. Uma equipe de segurança, à qual tem direito como ex-presidente, esteve na capital gaúcha para vistoriar os locais que ele visitará.

A expectativ­a é de que 50 mil militantes pró-Lula participem amanhã de manifestaç­ões na capital gaúcha. O esquema de segurança é semelhante ao adotado quando da visita do ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama ao Brasil, em 2016.

“Vamos estar preparados para identifica­r quem queira fazer qualquer manifestaç­ão que contrarie a legislação, até mesmo os mascarados”, disse o secretário de Segurança Pública do Rio Grande do Sul, Cezar Schirmer. Ele afirmou também que há acordo estabeleci­do com movimentos sociais para cooperação e eventual responsabi­lização em caso de atos de violência ou depredação. Para evitar atos de violência, a orientação dos organizado­res dos protestos é para que os militantes não cubram seus rostos.

Porto Alegre tem recebido manifestan­tes pró e contra o petista desde domingo. Ontem, cerca de 3 mil integrante­s da Via Campesina começaram a chegar de Estados vizinhos, de acordo com a organizaçã­o de atos.

No início da manhã, os manifestan­tes participar­am de uma marcha com a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), o ex-ministro e vice-presidente do PT Alexandre Padilha, o senador Lindbergh Farias (RJ), o ex-governador do Rio

Grande do Sul Olívio Dutra, o deputado Paulo Pimenta (RS) e o líder do Movimento Sem Terra (MST), João Pedro Stédile – que aconselhou Lula a não ficar em Porto Alegre.

O ato com o ex-presidente está previsto para as 17 horas na Esquina Democrátic­a, tradiciona­l local de manifestaç­ões políticas no centro da capital gaúcha e ainda hoje ele deve voltar para São Paulo, conforme antecipado pelo Estado em 2 de janeiro. Na capital paulista, onde o petista vai assistir ao julgamento, há previsão de atos contrários e favoráveis a ele na Avenida Paulista e na Praça da República.

Operação. Em Porto Alegre, aeronaves farão o monitorame­nto do espaço aéreo e embarcaçõe­s das forças de segurança já estão posicionad­as na Orla do Rio Guaíba, nas imediações do Tribunal, para evitar qualquer tipo de acesso à zona restrita. Há a possibilid­ade do uso de helicópter­os para o transporte dos desembarga­dores até a Corte, caso haja risco ou impediment­o rodoviário.

Por via terrestre, a restrição ao perímetro do TRF-4 será demarcada por meio de gradis, além da presença de efetivo policial. Haverá apenas um acesso

ao local. O bloqueio da área afetará o expediente de órgãos públicos, que ficarão fechados a partir do meio-dia. Cerca de 20 linhas de ônibus terão rota desviada a partir da meia-noite.

A circulação até mesmo de pedestres será controlada no local a partir de hoje à tarde, sem horário definido para desbloquei­o. Além do entorno do TRF-4, também a Avenida da Legalidade, no acesso à capital gaúcha, terá o trânsito desviado a partir das 5 horas de amanhã.

O secretário de Segurança Pública disse que atiradores de elite vão ficar no topo de edifícios próximos ao perímetro com a função de observador­es, filmando e fotografan­do os manifestan­tes. “A presença de atiradores de elite faz parte de qualquer processo de prevenção”, afirmou Schirmer. As ações em apoio a Lula estão marcadas no centro da capital. Os atos contrários devem ocorrer no Parque Moinhos de Vento, o Parcão.

 ?? NILTON FUKUDA/ESTADÃO ?? À espera. Entorno do Tribunal Federal da 4ª Região (TRF-4) tem segurança reforçada para o julgamento de ex-presidente
NILTON FUKUDA/ESTADÃO À espera. Entorno do Tribunal Federal da 4ª Região (TRF-4) tem segurança reforçada para o julgamento de ex-presidente

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil