SP restringe vacinação e distribui senha nas casas
Saúde. A nova fase da campanha na capital, com doses fracionadas, tem como objetivo imunizar moradores de 16 distritos; postos deixarão de distribuir senhas. No interior paulista, cidades passam a exigir comprovante de residência para quem procura o servi
A partir de quinta, só serão vacinados contra a febre amarela os moradores de 16 distritos das zonas leste e sul de São Paulo, consideradas áreas de risco. Eles deverão apresentar uma senha, que será distribuída nas casas pela Prefeitura, e receberão a dose fracionada. Cidades do interior estão pedindo comprovante de residência.
Após registrar longas filas em busca da vacina da febre amarela, além de casos de desabastecimento, a Prefeitura de São Paulo passará a distribuir senhas nas casas dos paulistanos na próxima fase da campanha de vacinação, que foi antecipada para quintafeira. Anteriormente, a gestão municipal havia informado que a imunização ocorreria a partir de sexta-feira, por causa do feriado dos 464 anos do Município. No interior, várias cidades também alteraram esquema de imunização.
A nova fase da campanha, que terá somente doses fracionadas, tem como objetivo imunizar os moradores de 16 distritos com prioridade nas zonas leste e sul da capital. Ao contrário do que vinha ocorrendo até agora, não serão distribuídas senhas nas unidades de saúde.
Agentes comunitários de saúde e integrantes de associações de bairro passarão nas casas dos paulistanos dessas regiões entregando as senhas. O morador poderá escolher entre dois ou três dias diferentes para receber a imunização. “Ao longo da campanha, que vai de 25 janeiro a 24 de fevereiro, iremos distribuir progressivamente as senhas para, assim, não ter necessidade de formar filas”, declarou ontem o secretário municipal da Saúde, Wilson Pollara.
As senhas começarão a ser entregues hoje. O site da secretaria trará a lista de endereços por onde os representantes da gestão passarão naquele dia, entregando. Caso o morador não esteja em casa no momento da passagem do agente, poderá procurar a Unidade Básica de Saúde de referência de seu bairro, com comprovante de endereço, para ser imunizado.
Os paulistanos que não moram nesses 16 distritos, mas que vão viajar para área de risco, deverão procurar uma das 17 unidades de referência em saúde do viajante para tomar a vacina. “Pedimos que somente quem vai para área de risco procure essas unidades. Se houver um afluxo muito grande de pessoas, vamos passar a exigir comprovante de viagem”, alertou o secretário. Nessas unidades, será oferecida a vacina fracionada para quem tiver viagem marcada para dentro do Brasil e a dose padrão para os viajantes internacionais.
Na zona norte, onde todos os postos de saúde até agora estão oferecendo a vacina, a oferta do imunizante passará a ser restrita a poucas unidades, somente para os moradores que ainda não foram protegidos. Nesses casos, não haverá distribuição de senha nas residências.
Também ontem a Prefeitura apresentou o cronograma atualizado de vacinação de toda a população. Após finalizar a campanha nos 16 distritos das zonas sul e leste, a secretaria fará outras três fases de imunização, nos meses de março, abril e maio. Em cada uma, a previsão é vacinar cerca de 2 milhões de pessoas. A previsão do secretário é de que todos os paulistanos estejam imunizados até o meio do ano.
Interior. A corrida aos postos de saúde fez prefeituras de municípios do interior também estabelecerem novas regras para a imunização. Depois que um morador de 48 anos morreu, na madrugada de anteontem, com suspeita de febre amarela, Jundiaí decidiu exigir comprovante de residência para quem procura os postos. A mesma medida foi anunciada pelo município de Atibaia, onde um homem de 35 anos morreu na quinta-feira com sintomas da doença. As duas mortes são investigadas e o resultado dos exames devem sair em até dez dias. Outras sete cidades da região, incluindo Campinas e Piracicaba, passaram a exigir comprovante de residência para aplicar a vacina. Em todas há filas nos postos.
Os municípios justificam a medida alegando estar recebendo muitos moradores de outras cidades. Já o Ministério da Saúde informou que Estados e municípios têm autonomia para organizar a distribuição e a aplicação, conforme os critérios de prioridade definidos pela pasta.
O prefeito de Mairiporã, Antonio Aiacyda (PSDB), estará em Brasília hoje para pedir ao Ministério da Saúde auxílio no combate à doença. A cidade mais afetada pela febre amarela até agora já restringiu a oferta de vacinas a quem não é do município. “Apesar de termos atingido 100% da cobertura vacinal, ainda estamos com dificuldades. Precisamos de auxílio de órgãos superiores. Por isso vou à Brasília solicitar apoio”, disse o prefeito. Mairiporã já registra 41 casos e 14 óbitos pela doença desde janeiro do ano passado.
Às vésperas do início do fracionamento de vacina contra febre amarela, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, disse em entrevista exclusiva ao Estado não ser “provável” que o País enfrente este ano uma epidemia da doença na mesma proporção da registrada no ano passado. No mesmo dia em que a OMS emitiu um comunicado, alertando sobre o risco elevado para a mudança no padrão atual de transmissão, Barros indicou que o comunicado da semana passada sobre São Paulo pegou a equipe de surpresa e reforçou a necessidade de os técnicos serem ouvidos antes das comunicações. “Eles estão em campo, muito mais próximos da realidade.”
A declaração semana passada da OMS sobre São Paulo causou mal-estar?
Determinei uma teleconferência diária com a Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) e a Organização Mundial da Saúde. Isso está sendo feito para que não haja nenhuma ação que surpreenda nossa estrutura. E que nossos técnicos sejam ouvidos.
Houve precipitação da OMS?
O ministério já se manifestou na ocasião. Eu não estava. Eu apenas determinei que fizesse as conferências diárias para não haver mais nenhuma dúvida que o que estamos fazendo é acordado com os órgãos que nos orientam.
Na semana passada, pessoas formaram filas de mais de oito horas para tomar vacina contra febre amarela. Houve tumulto. O senhor acompanhou?
O fato de a população estar mobilizada é positivo, mas há também muita procura por vacinação em locais onde não há recomendação. Isso já aconteceu no ano passado. Na cidade do Rio, por exemplo, vacinamos 2 milhões de pessoas que não precisavam ser vacinadas.
O que o senhor diria para quem fica horas na fila?
A população está convocada a partir de quinta-feira, naqueles municípios que os Estados escolheram como prioridade, para comparecer aos postos. Quando as pessoas correm para os postos sem a chamada da Secretaria da Saúde, elas podem eventualmente se dirigir para uma unidade que não tenha o número de vacinas. A população deve se tranquilizar. A situação está sob controle.
A situação não teria sido evitada se o fracionamento tivesse sido realizado antes de o número de casos começar a aumentar?
Estamos seguindo nossa área técnica, os protocolos da OMS e da Opas. A circulação do vírus é sazonal. Não há novidade nisso. Em várias regiões do País, a vacinação ocorre normalmente para toda a população. Mas o vírus agora está circulando em outra áreas e a gente vai imunizando. Foi o que ocorreu no Espírito Santo. Fizemos com absoluta tranquilidade. Mas a população precisa estar mobilizada. Nas áreas de risco, a vacina sempre está disponível. São 13 milhões de doses todos os anos para as pessoas dessas regiões.
Não houve erro em determinar o fracionamento agora?
Ano passado, anunciamos que, se fosse necessário, faríamos o fracionamento. Compramos as seringas. Treinamos as equipes. Ao final, não precisamos usar a estratégia. Este ano, encontramos macacos mortos próximos de outras regiões, que não eram consideradas de risco e densamente habitadas. Decidimos vacinar um grupo de 15 milhões de pessoas. Para fazermos isso, precisamos adotar o fracionamento. As seringas estão compradas. Já está tudo programado. As equipes dos Estados haviam programado para fevereiro o início da vacinação. Tudo dentro do protocolo, previamente pensado. Mas, como existiu um alarde da população, os Estados decidiram antecipar essa campanha para dar atendimento a uma demanda espontânea que vai aos postos.
O senhor tinha uma viagem programada para esta semana. Por que ficou no País?
Quando fui convidado para participar da comitiva do presidente Michel Temer, a vacinação estava programada para fevereiro. A antecipação foi feita semana passada. Como eles mudaram a data, estou mudando a minha agenda para poder acompanhar a vacinação. Vamos fazer uma sala de situação, uma conferência com municípios, uma preparação que precisa ser feita.
Podemos ter uma epidemia nas mesmas proporções da que tivemos no ano passado?
Achar é sempre um problema. Tecnicamente falando não é provável. Já sabia da circulação do vírus em novas áreas. Fizemos este ano busca ativa das carcaças para identificar se havia circulação do vírus no entorno das novas áreas. Temos de tomar as providências necessárias e estamos tomando. Tudo está absolutamente dentro da boa técnica.
Por que há uma baixa cobertura vacinal?
Isso é responsabilidade das vigilâncias locais. Ano passado, em uma cidade em Minas, uma enfermeira encontrou macacos mortos e por conta própria vacinou a população. Ali não houve casos. Na minha opinião, no ano passado houve falha da Vigilância.