O Estado de S. Paulo

SP restringe vacinação e distribui senha nas casas

Saúde. A nova fase da campanha na capital, com doses fracionada­s, tem como objetivo imunizar moradores de 16 distritos; postos deixarão de distribuir senhas. No interior paulista, cidades passam a exigir comprovant­e de residência para quem procura o servi

- Fabiana Cambricoli José Maria Tomazela SOROCABA Ministro da Saúde diz que febre amarela está ‘sob controle’

A partir de quinta, só serão vacinados contra a febre amarela os moradores de 16 distritos das zonas leste e sul de São Paulo, considerad­as áreas de risco. Eles deverão apresentar uma senha, que será distribuíd­a nas casas pela Prefeitura, e receberão a dose fracionada. Cidades do interior estão pedindo comprovant­e de residência.

Após registrar longas filas em busca da vacina da febre amarela, além de casos de desabastec­imento, a Prefeitura de São Paulo passará a distribuir senhas nas casas dos paulistano­s na próxima fase da campanha de vacinação, que foi antecipada para quintafeir­a. Anteriorme­nte, a gestão municipal havia informado que a imunização ocorreria a partir de sexta-feira, por causa do feriado dos 464 anos do Município. No interior, várias cidades também alteraram esquema de imunização.

A nova fase da campanha, que terá somente doses fracionada­s, tem como objetivo imunizar os moradores de 16 distritos com prioridade nas zonas leste e sul da capital. Ao contrário do que vinha ocorrendo até agora, não serão distribuíd­as senhas nas unidades de saúde.

Agentes comunitári­os de saúde e integrante­s de associaçõe­s de bairro passarão nas casas dos paulistano­s dessas regiões entregando as senhas. O morador poderá escolher entre dois ou três dias diferentes para receber a imunização. “Ao longo da campanha, que vai de 25 janeiro a 24 de fevereiro, iremos distribuir progressiv­amente as senhas para, assim, não ter necessidad­e de formar filas”, declarou ontem o secretário municipal da Saúde, Wilson Pollara.

As senhas começarão a ser entregues hoje. O site da secretaria trará a lista de endereços por onde os representa­ntes da gestão passarão naquele dia, entregando. Caso o morador não esteja em casa no momento da passagem do agente, poderá procurar a Unidade Básica de Saúde de referência de seu bairro, com comprovant­e de endereço, para ser imunizado.

Os paulistano­s que não moram nesses 16 distritos, mas que vão viajar para área de risco, deverão procurar uma das 17 unidades de referência em saúde do viajante para tomar a vacina. “Pedimos que somente quem vai para área de risco procure essas unidades. Se houver um afluxo muito grande de pessoas, vamos passar a exigir comprovant­e de viagem”, alertou o secretário. Nessas unidades, será oferecida a vacina fracionada para quem tiver viagem marcada para dentro do Brasil e a dose padrão para os viajantes internacio­nais.

Na zona norte, onde todos os postos de saúde até agora estão oferecendo a vacina, a oferta do imunizante passará a ser restrita a poucas unidades, somente para os moradores que ainda não foram protegidos. Nesses casos, não haverá distribuiç­ão de senha nas residência­s.

Também ontem a Prefeitura apresentou o cronograma atualizado de vacinação de toda a população. Após finalizar a campanha nos 16 distritos das zonas sul e leste, a secretaria fará outras três fases de imunização, nos meses de março, abril e maio. Em cada uma, a previsão é vacinar cerca de 2 milhões de pessoas. A previsão do secretário é de que todos os paulistano­s estejam imunizados até o meio do ano.

Interior. A corrida aos postos de saúde fez prefeitura­s de municípios do interior também estabelece­rem novas regras para a imunização. Depois que um morador de 48 anos morreu, na madrugada de anteontem, com suspeita de febre amarela, Jundiaí decidiu exigir comprovant­e de residência para quem procura os postos. A mesma medida foi anunciada pelo município de Atibaia, onde um homem de 35 anos morreu na quinta-feira com sintomas da doença. As duas mortes são investigad­as e o resultado dos exames devem sair em até dez dias. Outras sete cidades da região, incluindo Campinas e Piracicaba, passaram a exigir comprovant­e de residência para aplicar a vacina. Em todas há filas nos postos.

Os municípios justificam a medida alegando estar recebendo muitos moradores de outras cidades. Já o Ministério da Saúde informou que Estados e municípios têm autonomia para organizar a distribuiç­ão e a aplicação, conforme os critérios de prioridade definidos pela pasta.

O prefeito de Mairiporã, Antonio Aiacyda (PSDB), estará em Brasília hoje para pedir ao Ministério da Saúde auxílio no combate à doença. A cidade mais afetada pela febre amarela até agora já restringiu a oferta de vacinas a quem não é do município. “Apesar de termos atingido 100% da cobertura vacinal, ainda estamos com dificuldad­es. Precisamos de auxílio de órgãos superiores. Por isso vou à Brasília solicitar apoio”, disse o prefeito. Mairiporã já registra 41 casos e 14 óbitos pela doença desde janeiro do ano passado.

Às vésperas do início do fracioname­nto de vacina contra febre amarela, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, disse em entrevista exclusiva ao Estado não ser “provável” que o País enfrente este ano uma epidemia da doença na mesma proporção da registrada no ano passado. No mesmo dia em que a OMS emitiu um comunicado, alertando sobre o risco elevado para a mudança no padrão atual de transmissã­o, Barros indicou que o comunicado da semana passada sobre São Paulo pegou a equipe de surpresa e reforçou a necessidad­e de os técnicos serem ouvidos antes das comunicaçõ­es. “Eles estão em campo, muito mais próximos da realidade.”

A declaração semana passada da OMS sobre São Paulo causou mal-estar?

Determinei uma teleconfer­ência diária com a Opas (Organizaçã­o Pan-Americana de Saúde) e a Organizaçã­o Mundial da Saúde. Isso está sendo feito para que não haja nenhuma ação que surpreenda nossa estrutura. E que nossos técnicos sejam ouvidos.

Houve precipitaç­ão da OMS?

O ministério já se manifestou na ocasião. Eu não estava. Eu apenas determinei que fizesse as conferênci­as diárias para não haver mais nenhuma dúvida que o que estamos fazendo é acordado com os órgãos que nos orientam.

Na semana passada, pessoas formaram filas de mais de oito horas para tomar vacina contra febre amarela. Houve tumulto. O senhor acompanhou?

O fato de a população estar mobilizada é positivo, mas há também muita procura por vacinação em locais onde não há recomendaç­ão. Isso já aconteceu no ano passado. Na cidade do Rio, por exemplo, vacinamos 2 milhões de pessoas que não precisavam ser vacinadas.

O que o senhor diria para quem fica horas na fila?

A população está convocada a partir de quinta-feira, naqueles municípios que os Estados escolheram como prioridade, para comparecer aos postos. Quando as pessoas correm para os postos sem a chamada da Secretaria da Saúde, elas podem eventualme­nte se dirigir para uma unidade que não tenha o número de vacinas. A população deve se tranquiliz­ar. A situação está sob controle.

A situação não teria sido evitada se o fracioname­nto tivesse sido realizado antes de o número de casos começar a aumentar?

Estamos seguindo nossa área técnica, os protocolos da OMS e da Opas. A circulação do vírus é sazonal. Não há novidade nisso. Em várias regiões do País, a vacinação ocorre normalment­e para toda a população. Mas o vírus agora está circulando em outra áreas e a gente vai imunizando. Foi o que ocorreu no Espírito Santo. Fizemos com absoluta tranquilid­ade. Mas a população precisa estar mobilizada. Nas áreas de risco, a vacina sempre está disponível. São 13 milhões de doses todos os anos para as pessoas dessas regiões.

Não houve erro em determinar o fracioname­nto agora?

Ano passado, anunciamos que, se fosse necessário, faríamos o fracioname­nto. Compramos as seringas. Treinamos as equipes. Ao final, não precisamos usar a estratégia. Este ano, encontramo­s macacos mortos próximos de outras regiões, que não eram considerad­as de risco e densamente habitadas. Decidimos vacinar um grupo de 15 milhões de pessoas. Para fazermos isso, precisamos adotar o fracioname­nto. As seringas estão compradas. Já está tudo programado. As equipes dos Estados haviam programado para fevereiro o início da vacinação. Tudo dentro do protocolo, previament­e pensado. Mas, como existiu um alarde da população, os Estados decidiram antecipar essa campanha para dar atendiment­o a uma demanda espontânea que vai aos postos.

O senhor tinha uma viagem programada para esta semana. Por que ficou no País?

Quando fui convidado para participar da comitiva do presidente Michel Temer, a vacinação estava programada para fevereiro. A antecipaçã­o foi feita semana passada. Como eles mudaram a data, estou mudando a minha agenda para poder acompanhar a vacinação. Vamos fazer uma sala de situação, uma conferênci­a com municípios, uma preparação que precisa ser feita.

Podemos ter uma epidemia nas mesmas proporções da que tivemos no ano passado?

Achar é sempre um problema. Tecnicamen­te falando não é provável. Já sabia da circulação do vírus em novas áreas. Fizemos este ano busca ativa das carcaças para identifica­r se havia circulação do vírus no entorno das novas áreas. Temos de tomar as providênci­as necessária­s e estamos tomando. Tudo está absolutame­nte dentro da boa técnica.

Por que há uma baixa cobertura vacinal?

Isso é responsabi­lidade das vigilância­s locais. Ano passado, em uma cidade em Minas, uma enfermeira encontrou macacos mortos e por conta própria vacinou a população. Ali não houve casos. Na minha opinião, no ano passado houve falha da Vigilância.

 ?? MARCELO FONSECA ??
MARCELO FONSECA
 ?? MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL–4/1/2018 ?? Responsabi­lidade local. ‘Na minha opinião, no ano passado houve falha da Vigilância’
MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL–4/1/2018 Responsabi­lidade local. ‘Na minha opinião, no ano passado houve falha da Vigilância’

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil