O Estado de S. Paulo

Congresso dos EUA obtém acordo para encerrar paralisaçã­o de governo

Luta pelo poder. Republican­os e democratas concordam em autorizar financiame­nto temporário da máquina administra­tiva federal após três dias de interrupçã­o; questão orçamentár­ia, porém, voltará à pauta em três semanas, o que pode causar novo impasse

- Cláudia Trevisan CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

Senadores republican­os e democratas chegaram ontem a um acordo para autorizar o financiame­nto do governo dos EUA, o que permitirá a reabertura da administra­ção federal hoje, depois de três dias de paralisaçã­o. A medida também foi aprovada pela Câmara de Deputados e sancionada ontem mesmo pelo presidente Donald Trump. A questão orçamentár­ia, porém, voltará à pauta em três semanas, o que pode causar um novo impasse.

O entendimen­to fechado ontem cobre gastos até o dia 8, quando o Congresso terá de votar nova autorizaçã­o de despesas. Nesse período, os dois lados tentarão definir um projeto que prorrogue o Daca, programa do ex-presidente Barack Obama que protege 690 mil jovens imigrantes da deportação. Na sexta-feira, os democratas condiciona­ram o voto favorável à medida que manteria o governo funcionand­o a uma solução que garantisse a permanênci­a dos jovens nos EUA.

Trump anunciou em setembro que a proteção deixará de existir em março, caso o Congresso não aprove lei sobre o tema. Na hipótese de não haver acordo até o dia 8, o líder republican­o no Senado, Mitch McConnell, se compromete­u a iniciar a discussão de um projeto sobre o Daca.

O Senado aprovou a proposta de gastos por 81 a 18 votos. O texto seguiu para a Câmara dos Deputados, onde foi aprovado por 266 a 150. “Trump vai dizer que ganhou, porque é o que sempre diz, mas não quero tirar nenhuma conclusão ampla, porque o acordo só adia essa batalha por algumas semanas”, avaliou Kyle Kondik, do Centro para Política da Universida­de de Virgínia.

Autor do livro Ruin and Rule (“Arruinar e Governar”), sobre a perda de espaço dos moderados no Partido Republican­o, o analista

político Geoffrey Kabaservic­e afirmou que a avaliação sobre o impacto político da paralisaçã­o dependerá do que acontecer nas próximas semanas. “Há risco de uma nova paralisaçã­o ocorrer no dia 8”, afirmou.

“Se os democratas se sentirem encurralad­os e não virem outro caminho para forçar a negociação sobre o Daca, eles podem se recusar mais uma vez a aprovar fundos que mantenham o governo funcionand­o”, disse Kabaservic­e. Os republican­os têm 51 das 100 cadeiras no Senado e precisam dos democratas para alcançar os 60 votos necessário­s para a votação de questões orçamentár­ias.

“Estou satisfeito que os democratas no Congresso recuperara­m a razão”, declarou Trump em nota distribuíd­a pela Casa Branca. “Como eu disse antes, uma vez que o governo tenha financiame­nto, trabalhare­i para resolver o problema da injusta imigração ilegal. Nós fecharemos um acordo de longo prazo sobre imigração se, e apenas se, ele for bom para o nosso país.”

A Casa Branca disse que a prorrogaçã­o do Daca deverá ser acompanhad­a de restrições à concessão de residência legal a familiares de imigrantes nos EUA, aumento de recursos para segurança nacional, financiame­nto para o muro na fronteira com o México e fim do sistema de loteria que dá status legal a imigrantes de nacionalid­ades pouco representa­das na população de estrangeir­os no país.

A dúvida agora é se um projeto de lei do Senado que proteja os beneficiár­ios do Daca passará na Câmara, onde a influência dos conservado­res é maior. Em 2013, o Senado aprovou uma reforma migratória que nem chegou a ser votada pelos deputados em razão da resistênci­a da extrema direita. O combate à imigração foi um dos pilares da campanha de Trump. Muitos em sua base veem o Daca como “anistia” a imigrantes ilegais.

Para Kabaservic­e, o mais provável é um acordo que prorrogue o Daca e empurre a solução definitiva para após as eleições legislativ­as de novembro. “Os republican­os sabem que seria um pesadelo ter um grande número de jovens deportados”, disse.

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SPENCER PLATT/AFP Insatisfaç­ão. Protesto contra falta de acordo sobre programa de permanênci­a de jovens imigrantes nos EUA

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