O Estado de S. Paulo

Turquia ignora EUA e ofensiva na Síria avança

Ancara ataca milícia curda para formar cinturão de segurança próximo à fronteira

- HASSA, TURQUIA

Intensos combates ocorreram ontem em Afrin, enclave curdo no noroeste da Síria, após o avanço das forças da Turquia na região – que encontram resistênci­a da milícia curda Unidades de Proteção do Povo (YPG), apoiada pelos EUA. Washington pediu “comediment­o” a Ancara, mas o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ignorou o apelo e prometeu esmagar seus inimigos curdos.

Ontem foi o terceiro dia de combates em Afrin. Confrontos entre tropas turcas e combatente­s curdos também ocorreram ao leste do território da Síria, o que ameaça ampliar o mais novo front da guerra no país – que opõe a Turquia e os curdos, maiores aliados dos EUA na região.

As Forças Armadas turcas informaram que um de seus soldados morreu. Ancara afirmou também que sua ofensiva, batizada de Operação Ramo de Oliveira, busca criar uma “zona de segurança” de 30 quilômetro­s no território sírio, a partir da fronteira entre os dois países. Afrin fica a 20 quilômetro­s da linha.

“Pedimos à Turquia que demonstre comediment­o em suas ações militares e retórica, garanta que suas operações sejam limitadas em alcance e duração, garanta que a ajuda humanitári­a continue e evite mortes de civis”, declarou a porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders.

Erdogan, porém, afirmou que está determinad­o a seguir com a pressão militar. “Não haverá passo atrás em Afrin”, disse o presidente turco, que considera a YPG aliada dos insurgente­s curdos que lutam na Turquia. “Discutimos isso (a ofensiva) com nossos amigos russos – temos um acordo com eles. E também discutimos isso com outras forças da coalizão e com os EUA.”

O secretário de Estado americano, Rex Tillerson, afirmou que Washington tinha proposto trabalhar conjuntame­nte com o governo turco e as forças em Afrin para ver como eles poderiam estabiliza­r a situação e atender às legítimas preocupaçõ­es da Turquia por sua segurança.

“Se eles (EUA) querem uma cooperação, estamos prontos para essa cooperação. Como primeiro passo a ser tomado, eles podem parar de armar grupos terrorista­s e retomar o armamento que já forneceram”, declarou o vice-primeiro-ministro turco, Bekir Bozdag.

O secretário de Defesa dos EUA, Jim Mattis, confirmou que a Turquia notificou os militares americanos sobre a ofensiva e reconheceu as “preocupaçõ­es legítimas sobre segurança” de Ancara.

Em comunicado, a Otan, aliança da qual a Turquia é membro, afirmou que entrou em contato com Ancara a respeito da ofensiva. Segundo a Otan, o governo turco tem sofrido com o terrorismo e tem direito à autodefesa, mas de uma maneira “proporcion­al e comedida”.

Kremlin. Em 11 de dezembro, o presidente russo, Vladimir Putin, declarou que tinha viajado à Síria e anunciou a vitória de suas forças no país. A Rússia tinha iniciado operações no território sírio, em apoio ao governo de Bashar Assad, em setembro de 2015, em sua maior intervençã­o no Oriente Médio em décadas – o que favoreceu as forças do regime.

Como quase tudo o que ocorre na Síria a partir de então, a ofensiva da Turquia contra os curdos passou a ser um problema para Putin. O Exército russo ajudou Assad a retomar o controle da maior parte do território sírio. A segunda fase da ofensiva seria no campo diplomátic­o, para legitimar o presidente sírio no cargo. Esse esforço corre perigo se a Turquia voltar a desestabil­izar a região.

“Pedimos à Turquia que demonstre comediment­o” Sarah Huckabee Sanders

PORTA-VOZ DA CASA BRANCA

“Não haverá passo atrás. Discutimos isso (a ofensiva) com nossos amigos russos – temos um acordo com eles”

Recep Tayyip Erdogan PRESIDENTE DA TURQUIA

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LEFTERIS PITARAKIS/AP Ofensiva. Tanques e soldados da Turquia na fronteira com a Síria

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