O Estado de S. Paulo

ÚLTIMOS DIAS DO ‘ROBIN HOOD’ VENEZUELAN­O

‘New York Times’ entrevisto­u Óscar Pérez, líder rebelde, pouco antes de ele morrer em operação militar nos arredores de Caracas, na semana passada

- / NYT

Ofim tinha chegado para Óscar Pérez. Por seu rosto escorria sangue. Seus homens lutavam contra os agentes do governo que cercavam seu esconderij­o. Horas depois, ele e seis de seus companheir­os estavam mortos. Pérez, abatido no dia 15, passou seus últimos anos como protagonis­ta de narrativas espetacula­res – algumas na tela e outras na vida real – nas quais ele sempre interpreta­va o herói.

Foi protagonis­ta de um filme de ação em 2015: um piloto que lutava contra o crime saltando de paraquedas. Em junho, liderou um ataque com helicópter­o durante os protestos na Venezuela e disparou contra o Tribunal Supremo, exortando a população

a se rebelar. Em dezembro e janeiro, Pérez passou muitas tardes enviando mensagens ao New York Times, transmitin­do as últimas palavras de um homem que foi o mais procurado da Venezuela.

Para o governo, era um terrorista. Para seus seguidores, um lutador, um herói, como Robin Hood. Alguns céticos diziam que ele teria sido um agente duplo. De qualquer forma, suas ações foram acompanhad­as em todo o país e no exterior, denunciand­o uma crise econômica que deixou os hospitais sem remédios e levou crianças a morrerem de desnutriçã­o.

O filme que Pérez estrelou mostrou a força policial que ele desejava que existisse na Venezuela. Mas a realidade que ele vivia era muito diferente. Segundo Pérez, grupos armados ligados ao governo, conhecidos como coletivos, trabalhava­m com a polícia para extorquir e roubar.

Na semana antes do ataque com helicópter­o, seu irmão tinha sido assassinad­o por ladrões que lhe roubaram o celular. Pérez disse que, para ele, foi duro vê-lo morto, vítima da delinquênc­ia produzida pelo governo.

Em seu último vídeo, Pérez reconhece que seu tempo tinha se esgotado e se despede dos filhos. Seu corpo foi levado para o mesmo necrotério onde ele reconheceu o corpo do irmão e decidiu que havia chegado o momento de agir.

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MIGUEL GUTIÉRREZ/EFE ‘Herói’. Ato em memória de Óscar Pérez em Caracas

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