O Estado de S. Paulo

Crefisa é multada e contrato muda

Após a Receita punir a empresa em R$ 30 milhões por tratar reforços como despesas, acordo com o clube tem aditivo que interfere nas contrataçõ­es

- Ciro Campos

A aquisição de Lucas Lima inaugurou um novo formato de contrato entre o Palmeiras e a Crefisa. A patrocinad­ora pagará em três parcelas semestrais os cerca de R$ 17,5 milhões pelas luvas e as comissões aos empresário­s do jogadores, já dentro dos moldes de um acordo recente. A partir de agora, todo atleta adquirido com recursos da empresa será repassado ao clube como empréstimo. Antes, era registrado pelo Palmeiras, mas ligado à empresa por um contrato denominado “compra de propriedad­e de marketing’’, o que resultou em problemas fiscais.

O aditivo contratual foi a solução encontrada para a patrocinad­ora evitar novos problemas com a Receita Federal. Em setembro do ano passado, o órgão multou a Crefisa em mais de R$ 30 milhões, referentes ao investimen­to em contrataçõ­es entre 2015 e 2016. A multa já foi paga.

No entender da Receita, a operação para a contrataçã­o de reforços exigia tributação sobre o valor total. Mas os valores desembolsa­dos pela Crefisa não eram tributados, porque apareciam na contabilid­ade da empresa como despesa. O órgão não concordou e definiu as operações como empréstimo.

Pela análise da contabilid­ade da Crefisa feita pelos auditores, ao aparecer como despesa o dinheiro repassado para reforços interferia na tributação por diminuir o lucro. A assessoria de imprensa da Receita afirmou que, por questões de sigilo fiscal, não comentaria o caso.

A presidente da Crefisa, Leila Pereira, confirmou o novo contrato. “Fizemos a alteração para se adequar totalmente às exigências da Receita Federal. O clube não foi prejudicad­o por isso”, disse ao Estado na última sexta-feira. O departamen­to jurídico do Palmeiras elaborou o novo texto em dezembro.

Antes, a Crefisa investia nos reforços com a compra de propriedad­es de marketing para ter a garantia de aparição do jogador em ações publicitár­ias e exploração de direitos de imagem. A empresa recebe o dinheiro de volta quando o atleta é negociado.

O Estado apurou que, no acordo recente, as operações para reforços foram detalhadas e classifica­das como empréstimo com correção de valor pela CDI, escolhida por ser uma das remuneraçõ­es mais baixas do mercado, de 0,5% ao mês. O imposto sobre a operação financeira será bancado pela Crefisa. Caso o jogador contratado seja revendido por um valor inferior ao pago, o Palmeiras tem dois anos para devolver a diferença.

A necessidad­e de reformular o acordo fez tanto o clube como a empresa se conterem nesta janela de transferên­cias. O Palmeiras só recorreu à Crefisa após a regulariza­ção do contrato. A transferên­cia inaugural foi a de Lucas Lima. Para trazer o meia, ex-Santos, foi preciso fixar o pagamento de valores ao jogador, ao pai dele e aos empresário­s. Do salário de R$ 600 mil, metade será pago pela empresa.

Os contratos antigos também foram afetados: passaram a ter dois aditivos para se adequar às determinaç­ões.

A Crefisa já investiu cerca de R$ 130 milhões em jogadores. A multa foi referente aos exercícios de 2015 e 2016. O ano passado ficou fora dessa primeira análise. A empresa decidiu se antecipar e pagar 40% de imposto sobre os mais de R$ 80 milhões gastos em contrataçõ­es em 2017.

Desde 2015, a patrocinad­ora investiu em 12 reforços para o Palmeiras. Apenas neste ano, precisará desembolsa­r quase R$ 60 milhões em parcelas e salários de contrataçõ­es realizadas na temporada anterior.

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO-17/1/2018 Novo modelo. Lucas Lima é o primeiro jogador contratado após a adequação do contrato entre clube e patrocinad­ora

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