A Cidade Murada de Kowloon
Lar de 33 mil pessoas em seu ápice populacional, distribuídas em apenas dois hectares de terra, espaço um pouco maior que dois campos de futebol, a Kowloon Walled City – A Cidade Murada de Kowloon – era localizada em uma área urbana de Hong Kong e ficou mundialmente conhecida por ser a maior favela vertical da terra. Formada por conglomerados de pequenos apartamentos, uns sobre os outros, seus moradores conviveram com o crime organizado e o comércio informal durante décadas.
O local sempre foi um enclave envolvendo o Japão, a China e o Reino Unido. A cidade de Hong Kong foi cedida e entregue em 1842 aos britânicos quando a China perdeu a primeira Guerra do Ópio, no entanto, Kowloon foi uma exceção, e foi permitido que os chineses permanecessem no local se abstendo de qualquer direito político. Tanto os líderes chineses quanto os da Grã-Bretanha adotaram a política de “pouca interferência” no local. Sem a fiscalização adequada, famílias com poucos recursos financeiros se apossaram do território e iniciaram a construção de suas moradias. As razões para os recém-chegados escolherem Kowloon foram inúmeras, desde a falência financeira e a necessidade de estabelecer a família em algum lugar com baixo custo, até explorar as inúmeras possibilidades de um local sem lei. Com a ocupação de Hong Kong pelo Império do Japão durante a Segunda Guerra Mundial, sua população aumentou rapidamente e, de 1950 até a década de 1970, o espaço foi controlado pelas chamadas tríades, organizações étnicas e regionais que uma parcela de seus integrantes tinha relações com atividades criminosas.
Mais de 8,8 mil residências e 1 mil lojas integravam a estrutura que era repleta de corredores e túneis subterrâneos preque cariamente construídos, casas de ópio, prostituição, médicos não licenciados e vielas em péssimas condições sanitárias. Muitas vezes nos pequenos apartamentos moravam uma família inteira, com mais de oito integrantes em situações precárias de vida. Para agravar as condições, havia apenas um
Mais de 8,8 mil residências e 1 mil lojas integravam a cidade que era repleta de corredores e túneis subterrâneos precariamente construídos e vielas em péssimas condições sanitárias.
ponto de água dentro da cidade murada. O crescimento desenfreado só parou quando chegou ao seu limite: a altura dos apartamentos gerou receio dos moradores ao entrar em conflito com os trajetos dos aviões.
Ainda assim, foi só em 1984 com o acordo para devolver Hong Kong para a China, que o governo decidiu lidar com a situação de uma vez por todas. A solução encontrada foi compensar com cerca de US$ 350 milhões de dólares os 33 mil moradores e demolir toda a estrutura. Em 1995 foi inaugurado no local o Kowloon Walled City Park, preservou vestígios da antiga cidade murada, e oferece aos visitantes a oportunidade de apreciar a beleza da natureza.
O exemplo do que foi feito com Kowloon pode servir para o Brasil. Aqui, existem mais de 6,3 mil favelas, com populações maiores que várias cidades. O renomado urbanista Jaime Lerner, por exemplo, defende que parte da solução é integrar as comunidades às cidades, pois parte dos problemas locais, como a infraestrutura, empregos e segurança poderiam ser resolvidos. Para conter o crescimento desenfreado é necessário que o poder público ofereça alternativas rápidas como financiamentos acessíveis para construção e autoconstrução, transporte público, saúde e educação de qualidade.