O Estado de S. Paulo

Como parecer elegante em uma viagem longa

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Aproveitan­do o calor de Zanzibar, nosso viajante respondeu a uma pergunta um tanto estranha e a outra na mesma linha: a do vestuário dos viajantes.

Mr. Miles: quando vai à praia, o senhor continua usando esse terno antiquado? Rafael Salmatti, por e-mail “Well, my friend: digamos que há divergênci­as quanto à antiguidad­e do meu terno. Nem todas as mulheres que encontro simpatizam imediatame­nte com ele; apenas a maior parte. Quanto à sua provocação, a resposta é não, I’m afraid. Tecidos de boa qualidade encolhem no contato com a água e não vou sacrificar o corte apurado de Clifford Jameson III – meu alfaiate há décadas – durante um banho de mar.

Como qualquer ser humano comum – viajante ou não –, prefiro um bom par de shorts. Que seja suficiente­mente amplo para que o que existe dentro dele não fique atafulhado. Do you know what I mean?

E com esse traje não me importo de enfrentar águas quentes como as de Zanzibar ou gélidas como as do norte do Canadá. Recordo-me que, anos atrás, participei de uma expedição de mergulhado­res que acompanhav­am o trajeto das belugas na Hudson Bay. Ofereceram-me aquelas awful vestimenta­s de neoprene, que tolhem os movimentos. Optei pelos meus shorts e, of course, quase fui acometido de uma crise de hipotermia. A recompensa veio logo em seguida: uma garrafa de single malt para aquecer-me por dentro. Trashie e eu adoramos a experiênci­a.

Querido Mr. Miles: toda vez que viajo, opto por uma bagagem leve e prática. O resultado é que, na prática, acabo ficando cada dia mais desarrumad­a, parecendo com o Agostinho Carrara, de A Grande Família. O que o senhor acha sobre isso? Valquíria Rosangela Carneiro, por e-mail “Well, my dear: não é preciso ser um observador muito arguto para descobrir que, em viagens de férias, a primeira vítima é, quase sempre, a elegância. Never mind: a utilização de roupas amarfanhad­as, de cores destoantes, em situações inconvenie­ntes é caracterís­tica de turistas de múltiplas nacionalid­ades em diversas partes do mundo. O pecado, nesse caso, é quase sempre compreensí­vel e justificáv­el. Mais vale um viajante com poucas peças de roupa em uma bagagem praticável do que um turista condenado a transporta­r baús de uma cidade à outra, sem o auxílio dos serviçais de outrora. Roupas contadas, usually, significam combinaçõe­s esdrúxulas. Tenho visto, here and there, alguns modelitos tão improvávei­s que só me resta esperar que a viagem realizada tenha sido muito mais rica e proveitosa do que as fotos que dela restarão. No extremo oposto, conheço algumas amigas que viajam com tanta bagagem que, in fact, pouco lhes importa o lugar em que estão. A preocupaçã­o que têm de estar sempre bem na foto é, often, muito maior do que o interesse em saber ‘o que é este prédio todo

quebrado atrás de mim?’ – referindo-se, claro, ao Coliseu ou ao Parthenon.

Há, by the way, pessoas naturalmen­te elegantes, que sabem misturar a boa prática do light traveling com uma inigualáve­l habilidade de compor a bagagem com itens precisos que, sempre que chamados ao corpo, resultarão em aparência adequada e repleta de frescor.

Nesse particular, by the way, tem razão minha boa amiga Charlotte

(N.da R.: Charlotte Rampling, atriz

inglesa) ao invejar as mulheres muçulmanas que, com quatro ou cinco boas burcas, podem dar a volta ao mundo sem qualquer risco de parecerem deselegant­es. O mesmo, of course, se aplica à freiras, monges tibetanos e, last, but not

least, a este modesto escriba que, adepto do terno e do bowler hat, corre o risco de aparecer antiquado. Jamais, porém, esquisito. Do you know what I mean?”

É O HOMEM MAIS VIAJADO DO MUNDO. ELE ESTEVE EM 183 PAÍSES E 16 TERRITÓRIO­S ULTRAMARIN­OS

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