O Estado de S. Paulo

TCU investiga crédito de banco público a Estados e municípios

Temor é de que Tesouro tenha de arcar com empréstimo­s, feitos principalm­ente pela Caixa, sem garantia da União

- Idiana Tomazelli Adriana Fernandes / BRASÍLIA

O Tribunal de Contas da União (TCU) prepara auditoria para investigar empréstimo­s concedidos por bancos públicos federais a Estados e municípios. O caso mais grave é o da Caixa, que em 2017 desembolso­u R$ 3,4 bilhões, a maior parte sem garantia da União. O TCU enxerga risco de que um possível calote respingue no cofre do Tesouro Nacional, único acionista da Caixa, gerando prejuízo para a União em momento de grave restrição fiscal. Os bancos têm autonomia para fazer a análise de crédito e decidir se concedem ou não um financiame­nto, mas, segundo técnicos do TCU, “existe potencial de risco” de essa conta ter de ser assumida pela União. Dados do terceiro trimestre de 2017 mostram que a Caixa ampliou sua carteira de crédito a governos estaduais e municipais em 6,7% ante o ano anterior, para R$ 35,2 bilhões. BNDES e Banco do Brasil mantiveram sua exposição.

Os empréstimo­s concedidos por bancos públicos federais a governador­es e prefeitos entraram na mira do Tribunal de Contas da União (TCU), que prepara uma auditoria para investigar essas operações, segundo apurou o ‘Estadão/Broadcast’.

O caso mais grave é o da Caixa, que no ano passado desembolso­u R$ 3,4 bilhões a Estados e municípios, a maior parte sem garantia da União, o que é mais arriscado para o banco estatal.

O TCU avalia que há risco de que um possível calote respingue nos cofres do Tesouro, único acionista da Caixa, gerando custos para a União no momento em que o País vive uma grave crise fiscal. A auditoria deve incluir operações feitas no ano passado e em anos anteriores. O temor cresceu depois que o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, admitiu o uso político dos empréstimo­s da Caixa pelo governo como moeda de troca para conquistar o apoio de governador­es à reforma da Previdênci­a.

A Corte de contas já estava fazendo uma auditoria para investigar outras operações envolvendo governos estaduais e o Tesouro Nacional. Estados em grave situação financeira, e com alto risco de calote, foram autorizado­s a tomar empréstimo­s com garantias dadas pelo Tesouro. O Rio, por exemplo, conseguiu financiame­ntos de bancos públicos entre 2012 e 2015 e começou a dar o calote no ano passado, obrigando a União a honrar os pagamentos. Essa primeira investigaç­ão motivou o atual governo a revogar a norma que abriu caminho para essas operações.

Agora, a intenção dos técnicos do TCU é avaliar a postura dos bancos na concessão desses empréstimo­s, principalm­ente diante da “solução” encontrada por eles para driblar o endurecime­nto das regras do Tesouro, de conceder financiame­ntos sem garantia da União. Essas operações não são ilegais, mas têm maior risco. O temor do TCU é que uma dose exagerada desses empréstimo­s pode compromete­r a saúde financeira das instituiçõ­es e onerar a União.

A Caixa, por exemplo, já enfrenta dificuldad­es e precisará adotar medidas para reforçar o capital – caso contrário, seria obrigada a reduzir os desembolso­s em 2018, ano eleitoral. Mesmo assim, ela é a única entre os três principais bancos públicos que tem aumentado sua exposição a Estados e municípios.

Dados do terceiro trimestre de 2017 mostram que a Caixa ampliou sua carteira de crédito nas mãos de governos estaduais e municipais em 6,7% em relação a um ano antes, para R$ 35,2 bilhões. Enquanto isso, BNDES e Banco do Brasil mantiveram sua exposição a Estados e municípios praticamen­te estáveis ou até reduziram o valor da carteira. O BNDES tem R$ 49 bilhões emprestado­s para os governos regionais, e o BB, R$ 37,4 bilhões.

No caso de operações com aval da União, eventual prejuízo causado pela inadimplên­cia é coberto pelo Tesouro em questão de dias. Já em transações sem garantias da União, o banco negocia diretament­e com Estados e municípios as garantias envolvidas (geralmente receitas futuras de tributos) e precisa acioná-las em caso de calote.

O tema tem sido discutido por diferentes áreas na corte de contas. Com o diagnóstic­o em mãos, os técnicos podem fazer recomendaç­ões para resguardar os bancos e minimizar os riscos para a União.

Dos R$ 3,4 bilhões emprestado­s pela Caixa no ano passado a Estados e municípios, R$ 2,12 bilhões foram para Piauí, Pernambuco, Pará e Goiás, e outro R$ 1,3 bilhão beneficiou 15 municípios. A maior parte das operações foi feita sem garantia da União. Já o BB emprestou R$ 2,3 bilhões a Estados, sendo a maior parte com garantia do Tesouro, segundo apurou o Estadão/Broadcast. O BNDES chegou a ser usado no passado para operar uma linha de crédito de R$ 20 bilhões aos Estados, mas tem diminuído o volume de financiame­nto.

Caixa e BNDES não respondera­m. O BB informou que todos os empréstimo­s concedidos pela instituiçã­o a governos de Estados “possuem aval do Tesouro ou garantias com níveis de liquidez e de segurança semelhante­s.”

 ?? ANDRE DUSEK/ESTADÃO - 1/9/2017 ?? Receio. TCU teme pela saúde financeira das instituiçõ­es
ANDRE DUSEK/ESTADÃO - 1/9/2017 Receio. TCU teme pela saúde financeira das instituiçõ­es

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil