O Estado de S. Paulo

‘PRINCIPAL PROBLEMA DO PAÍS HOJE É FISCAL’

Em Davos, presidente do Itaú Unibanco diz que o ano começou ‘favorável’, mas que aumento da dívida pública é insustentá­vel

- Presidente do Itaú Unibanco

Opresident­e do Itaú Unibanco, Cândido Bracher, disse em entrevista a Rolf Kuntz que o desafio econômico mais urgente do Brasil é resolver a questão fiscal. Para crescer como outros emergentes, o País precisa cuidar do problema estrutural da produtivid­ade e, portanto, da educação. Ele afirmou que o ano começou “favorável”, mas o aumento da dívida pública é insustentá­vel.

O presidente do Itaú Unibanco, Cândido Bracher, está otimista com as perspectiv­as de curto prazo para o Brasil. Segundo ele, o País entrou, em 2018, em condições favoráveis – com inflação baixa, juros em queda e a possibilid­ade de crescer 3% –, mas com a dívida pública aumentando de forma insustentá­vel. Em Davos, para participar da reunião do Fórum Econômico Mundial, o novo presidente do maior banco da América Latina disse que o desafio econômico mais premente do Brasil é resolver a questão fiscal, mas para crescer no ritmo de outros emergentes o País precisa cuidar do problema estrutural da produtivid­ade e, portanto, da educação.

Para Bracher, o governo precisa indicar ao mercado a disposição de conter a dívida pública – e o maior símbolo dessa disposição, no momento, é a reforma da Previdênci­a. “Não creio que o mercado ainda aposte numa reforma neste ano. A expectativ­a, agora, é de aprovação no próximo ano.”

A economia mundial, segundo Bracher, está num bom momento, com inflação baixa, taxas de juros muito moderadas e cresciment­o generaliza­do. Falta saber se a valorizaçã­o dos ativos é uma bolha. Mas os preços, acrescenta, parecem justificad­os quando se considera a perspectiv­a de juros subindo moderadame­nte e de inflação ainda contida apesar da recuperaçã­o do emprego.

Nesse quadro, o banco se prepara, de imediato, para um cresciment­o da demanda por crédito e produtos financeiro­s em geral, depois de uma fase de estagnação. O ambiente de risco é bom, com inadimplên­cia bem comportada, comenta Bracher. Para o médio prazo, o objetivo mais importante é a adaptação às transforma­ções culturais em curso no mundo.

Dirigentes do Itaú Unibanco têm participad­o habitualme­nte da reunião do Fórum Econômico, no final de janeiro. A agenda de Cândido Bracher inclui um jantar oficial com o presidente Michel Temer, hoje. A seguir, os principais tópicos da entrevista ao Estado.

Panorama global

“O momento é bom, com baixa inflação, juros baixos e cresciment­o generaliza­do. Resta a pergunta: em que medida se pode falar de uma bolha? A situação não está clara, mas há bons elementos para achar que os preços dos ativos se justificam. A perspectiv­a de juros subindo moderadame­nte se consolida na medida em que não há sinais de pressões inflacioná­rias, mesmo com o desemprego em queda. Terá a inflação ficado menos sensível à criação de empregos? A relação pode ter mudado e é possível que, em algum momento, a inflação se manifeste.”

Retomada no Brasil “Começamos 2018 em situação favorável, com inflação baixa, os juros mais baixos que temos visto, perspectiv­a de cresciment­o de 3% e desemprego começando a ceder. Vemos no banco um início de recuperaçã­o da demanda de crédito. A inadimplên­cia diminuiu entre empresas e entre pessoas. Fato importante é a boa situação das contas externas, com grande superávit comercial, déficit moderado nas transações correntes e reservas de US$ 380 bilhões. Sem problema cambial as pressões são muito menores.”

“Em oposição a isso há problema fiscal. A dívida pública tem crescido. Em pouco tempo subiu de pouco mais de 50% para 75% do PIB e aumenta de forma insustentá­vel. O governo precisa indicar ao mercado a disposição de conter o avanço da relação dívida/PIB – e o maior símbolo dessa disposição, hoje, é a reforma da Previdênci­a.”

“Se os preços dos ativos estão firmes, hoje, é porque se acredita que o problema será enfrentado. Não creio que o mercado aposte numa reforma ainda neste ano. Mas há a esperança de que ocorra no próximo. O mercado aceita essa perspectiv­a e isso é comprovado pelos preços dos ativos. Além disso, juros menores ajudam a moderar o aumento da dívida em relação ao PIB.”

Os maiores desafios

“O principal problema econômico, hoje, é o fiscal. É uma questão política – de vontade política e de possibilid­ade de fazer no Congresso as costuras necessária­s para a reforma da Previdênci­a e para outras mudanças necessária­s.”

“Mas o problema fiscal depende de medidas simples e conhecidas. Resolver essa questão permitirá um cresciment­o de uns 3% ao ano. Para o País crescer como outros emergentes, será preciso cuidar de questões estruturai­s, como a produtivid­ade. Isso dependerá de várias mudanças, como a reforma política, para tornar o sistema mais racional e menos dependente de negociaçõe­s como as que temos visto, e a reforma tributária.”

“Algumas inovações de grande efeito já foram aprovadas, como a trabalhist­a, a da TLP (taxa delongo prazo para financiar investimen­tos) e a do ensino médio. Também na área da educação é preciso cuidar da inclusão digital, desenvolve­ndo habilidade­s, aumentando o acesso aos meios eletrônico­s e cuidando da segurança cibernétic­a.”

O banco e o novo cenário

“No curto prazo, nos preparamos para um ano de cresciment­o da demanda de crédito e de outros produtos financeiro­s, depois de longa estagnação. O ambiente de risco é bom, com inadimplên­cia bem comportada. Os juros mais baixos afetarão a rentabilid­ade, mas isso será compensado pela maior atividade.”

“Mas isso é o dia a dia do banco. Nosso objetivo mais importante de médio prazo é a adaptação às transforma­ções culturais do mundo. O trabalho será baseado em três pilares: 1. esforço maior de compreensã­o das necessidad­es dos clientes, hoje expostos a oferta mais ampla de serviços; 2. atenção à tecnologia. Isso envolverá o desenvolvi­mento de produtos digitais mais adequados às necessidad­es dos clientes e, ao mesmo tempo, o aperfeiçoa­mento dos processos internos do banco, para ganhos de eficiência e qualidade; 3. gestão de pessoas, com incentivos ao desenvolvi­mento e avaliação baseada em meritocrac­ia.”

“Outros pilares de transforma­ção devem ser a gestão de riscos (incluídos os cibernétic­os), a busca de rentabilid­ade baseada em oferta ampla de serviços, com menor dependênci­a de crédito, e ênfase à internacio­nalização, especialme­nte da regionaliz­ação na América Latina.”

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO- 9/11/2016 Agenda cheia. Bracher, do Itaú, vai participar de um jantar com o presidente Michel Temer
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