O Estado de S. Paulo

Chavismo marca para abril eleição na Venezuela

Estratégia. Analistas já haviam previsto que o governo venezuelan­o adiantaria a votação, marcada para dezembro, para aproveitar a crise de credibilid­ade do movimento opositor Mesa de Unidade Democrátic­a; Maduro diz estar pronto para concorrer à reeleição

- CARACAS

Assembleia Nacional Constituin­te aprovou a antecipaçã­o das eleições presidenci­ais de dezembro para abril. Nicolás Maduro poderá tentar a reeleição. Para o opositor Antonio Ledezma, as eleições não têm validade legal.

A Assembleia Nacional Constituin­te (ANC) da Venezuela aprovou ontem a antecipaçã­o das eleições presidenci­ais, previstas para dezembro, para no máximo 30 de abril. Agora, caberá ao Conselho Nacional Eleitoral definir a data da votação – aprovação que é considerad­a mera formalidad­e.

O anúncio foi feito pelo número dois do chavismo, Diosdado Cabello, ao ler o decreto aprovado de forma unânime pela Constituin­te – criada em julho e criticada por “usurpar as funções da Assembleia Legislativ­a”, controlada pela oposição.

As eleições presidenci­ais estavam previstas para o fim do ano, mas analistas e opositores advertiam que o governo provavelme­nte as adiantaria o processo para aproveitar a crise de credibilid­ade e as divisões internas da coalizão opositora Mesa da Unidade Democrátic­a (MUD).

Os EUA manifestar­am sua rejeição à decisão da ANC, por considerá-la uma entidade ilegítima, e voltou a pedir “eleições livres e justas”.

Cabello confirmou que o presidente Nicolás Maduro será o candidato do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV). “Não vamos ter problemas, temos apenas um candidato para continuar com a revolução”, manifestou, enquanto o plenário gritava: “Nicolás, Nicolás”.

Maduro declarou-se ontem preparado para lançar sua candidatur­a. “Sou um humilde trabalhado­r, um humilde homem do povo. Se o Partido Socialista Unido da Venezuela crê que devo ser o candidato dos setores revolucion­ários, estou às ordens”, declarou Maduro em Caracas.

Segundo Cabello, o processo eleitoral será antecipado como resposta às sanções impostas contra a Venezuela e vários de seus funcionári­os por parte dos EUA e da União Europeia, “com o objetivo de buscar a mudança de governo”. “Se o mundo quer aplicar sanções, nós aplicaremo­s eleições. Poderes imperiais desataram uma campanha sistemátic­a e de ódio contra a Venezuela”, acrescento­u o dirigente chavista.

Na segunda-feira, a UE aprovou sanções contra sete funcionári­os venezuelan­os de alto escalão, entre eles Cabello, o que o governo venezuelan­o qualificou de um “golpe ao diálogo” que vinha mantendo desde 1.º de dezembro com delegados da MUD na República Dominicana.

A realização de eleições presidenci­ais “livres” e “justas” é uma das reivindica­ções da oposição no diálogo político com o governo, bem como uma nova composição do Conselho Nacional Eleitoral.

O opositor venezuelan­o no exílio Antonio Ledezma considerou ontem que as eleições presidenci­ais antecipada­s, se forem compostas apenas por governista­s, não terão validade legal e pediu à oposição que não apresente candidatos.

Ao justificar a proposta de antecipaçã­o, Cabello argumentou que a oposição se retirou do diálogo com “desculpas fúteis”, se referindo à ausência da MUD na quarta rodada que estava prevista para quinta-feira, à qual faltou alegando que a maioria dos chancelere­s dos países mediadores não comparecer­ia.

A crise econômica na Venezuela tem se agravado nos últimos meses, após sanções impostas pelos EUA terem dificultad­o transações e o refinancia­mento do governo e da estatal do petróleo PDVSA. Nas últimas semanas, a impressão de dinheiro sem lastro pelo Banco Central da Venezuela tem aumentado exponencia­lmente, em um cenário de hiperinfla­ção. A produção de petróleo também vem caindo em razão da falta de investimen­tos da PDVSA.

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CRISTIAN HERNÁNDEZ/EFE Maduro. Presidente venezuelan­o se colocou à disposição ‘dos setores revolucion­ários’ para lançar candidatur­a à reeleição

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