EUA impõem barreira a produtos chineses
Medida faz parte da política America em Primeiro Lugar e deve se estender para os setores de aço e alumínio, alcançando o Brasil
O governo Donald Trump começou ontem a implementar a política da América em Primeiro Lugar no comércio internacional, com a imposição de tarifas unilaterais de importação sobre painéis solares e máquinas de lavar roupa. Nas próximas semanas, serão anunciadas decisões sobre os setores de aço, alumínio e a prática de transferência compulsória de tecnologia.
As medidas foram acompanhadas de escalada retórica da administração americana contra a China. Na sexta-feira, o governo declarou que foi um erro os Estados Unidos terem apoiado a entrada do país asiático na Organização Mundial do Comércio (OMC), uma mudança radical da posição mantida por Washington nas últimas duas décadas.
No relatório anual sobre cumprimento dos compromissos da China na OMC, o Escritório de Representação Comercial dos EUA (USTR) indicou que adotará mais medidas unilaterais contra Pequim, o que eleva
o risco de confronto comercial entre as duas maiores economias do mundo. “A noção de que nossos problemas com a China podem ser resolvidos só com a apresentação de mais casos
na OMC é no mínimo ingênua”, disse o documento. “Os Estados Unidos também tomarão outros passos necessários para conter práticas e políticas mercantilistas prejudiciais da China lideradas pelo Estado, mesmo quando elas não se enquadrem exatamente nas disciplinas da OMC.”
Ao assinar o ato sobre barreiras a painéis solares e máquinas de lavar, Trump disse que não vê ameaça de uma guerra comercial. “Nossas ações de hoje ajudam a criar empregos na América para americanos”, afirmou. Segundo ele, as tarifas de até 50% serão um “forte incentivo” para as sul-coreanas LG e Samsung fabricarem máquinas de lavar roupa nos EUA.
Brasil. No caso dos painéis solares, a tarifa inicial será de 30% e atingirá principalmente os produtores da China. O Brasil foi excluído das duas decisões, por ser um país em desenvolvimento que representa menos de 3% das compras dos produtos pelos EUA, disse o professor Aluisio de Lima-Campos, especialista em comércio internacional da American University.
Mas a situação poderá ser diferente no caso do aço, setor em que o Brasil responde por 14% das importações totais e 50% das de produtos semiacabados. Aberta para analisar o impacto das importações sobre a segurança nacional, essa investigação é a que tem maior potencial de atingir empresas brasileiras.
O advogado Pablo Bentes, do escritório Steptoe & Johnson, avaliou que as decisões adotadas ontem indicam a posição dos EUA em casos futuros. “A tendência é que continuem a buscar soluções unilaterais para problemas de comércio”, afirmou Bentes, que representou uma das companhias que importam painéis solares da China.
“Tudo está acontecendo e está acontecendo em ritmo acelerado. E vocês verão o que acontecerá nos próximos meses”, afirmou Trump. A decisão foi imposta no mesmo dia em que negociadores dos EUA, Canadá e México começaram a se reunir em Montreal para a penúltima rodada de renegociação do Nafta. Segundo Lima-Campos, em um gesto pouco usual, o México não foi excluído das tarifas sobre máquinas de lavar.