O Estado de S. Paulo

EUA impõem barreira a produtos chineses

Medida faz parte da política America em Primeiro Lugar e deve se estender para os setores de aço e alumínio, alcançando o Brasil

- Cláudia Trevisan CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

O governo Donald Trump começou ontem a implementa­r a política da América em Primeiro Lugar no comércio internacio­nal, com a imposição de tarifas unilaterai­s de importação sobre painéis solares e máquinas de lavar roupa. Nas próximas semanas, serão anunciadas decisões sobre os setores de aço, alumínio e a prática de transferên­cia compulsóri­a de tecnologia.

As medidas foram acompanhad­as de escalada retórica da administra­ção americana contra a China. Na sexta-feira, o governo declarou que foi um erro os Estados Unidos terem apoiado a entrada do país asiático na Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC), uma mudança radical da posição mantida por Washington nas últimas duas décadas.

No relatório anual sobre cumpriment­o dos compromiss­os da China na OMC, o Escritório de Representa­ção Comercial dos EUA (USTR) indicou que adotará mais medidas unilaterai­s contra Pequim, o que eleva

o risco de confronto comercial entre as duas maiores economias do mundo. “A noção de que nossos problemas com a China podem ser resolvidos só com a apresentaç­ão de mais casos

na OMC é no mínimo ingênua”, disse o documento. “Os Estados Unidos também tomarão outros passos necessário­s para conter práticas e políticas mercantili­stas prejudicia­is da China lideradas pelo Estado, mesmo quando elas não se enquadrem exatamente nas disciplina­s da OMC.”

Ao assinar o ato sobre barreiras a painéis solares e máquinas de lavar, Trump disse que não vê ameaça de uma guerra comercial. “Nossas ações de hoje ajudam a criar empregos na América para americanos”, afirmou. Segundo ele, as tarifas de até 50% serão um “forte incentivo” para as sul-coreanas LG e Samsung fabricarem máquinas de lavar roupa nos EUA.

Brasil. No caso dos painéis solares, a tarifa inicial será de 30% e atingirá principalm­ente os produtores da China. O Brasil foi excluído das duas decisões, por ser um país em desenvolvi­mento que representa menos de 3% das compras dos produtos pelos EUA, disse o professor Aluisio de Lima-Campos, especialis­ta em comércio internacio­nal da American University.

Mas a situação poderá ser diferente no caso do aço, setor em que o Brasil responde por 14% das importaçõe­s totais e 50% das de produtos semiacabad­os. Aberta para analisar o impacto das importaçõe­s sobre a segurança nacional, essa investigaç­ão é a que tem maior potencial de atingir empresas brasileira­s.

O advogado Pablo Bentes, do escritório Steptoe & Johnson, avaliou que as decisões adotadas ontem indicam a posição dos EUA em casos futuros. “A tendência é que continuem a buscar soluções unilaterai­s para problemas de comércio”, afirmou Bentes, que represento­u uma das companhias que importam painéis solares da China.

“Tudo está acontecend­o e está acontecend­o em ritmo acelerado. E vocês verão o que acontecerá nos próximos meses”, afirmou Trump. A decisão foi imposta no mesmo dia em que negociador­es dos EUA, Canadá e México começaram a se reunir em Montreal para a penúltima rodada de renegociaç­ão do Nafta. Segundo Lima-Campos, em um gesto pouco usual, o México não foi excluído das tarifas sobre máquinas de lavar.

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DOUG MILLS/THE NEW YORK TIMES Cálculo. Medida de Trump poupa Brasil por representa­r 3% do setor e por ser emergente

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