O Estado de S. Paulo

Caixa reconduz vice

Para Conselho de Administra­ção do banco, não havia elementos suficiente­s para responsabi­lizar executivo em caso de suspeita de irregulari­dade

- Adriana Fernandes Lorena Rodrigues / BRASÍLIA

Dos 4 vice-presidente­s afastados, a Caixa destituiu três em definitivo e reconduziu ao cargo o vice de Clientes, Negócios e Transforma­ção Digital, José Henrique Marques da Cruz.

A Caixa Econômica Federal devolveu o cargo de vice-presidente de Clientes, Negócios e Transforma­ção Digital a José Henrique Marques da Cruz, que tinha sido afastado na semana passada sob suspeita de cometer irregulari­dades. Os outros três ex-vices foram definitiva­mente destituído­s do cargo: Antônio Carlos Ferreira (Coporativo), Roberto Derziê de Sant’Anna (Governo) e da Deusdina dos Reis Pereira (Fundos de Governo e Loterias).

A decisão foi tomada ontem em reunião do Conselho de Administra­ção do banco, antes do prazo de 30 dias previsto quando os quatro executivos foram afastados por recomendaç­ão inicial do Ministério Publico Federal (MPF) e do Banco Central. Só depois das duas recomendaç­ões, o presidente Michel Temer cedeu e orientou o presidente da Caixa, Gilberto Occhi, a desligar os vices.

José Henrique Marques da Cruz foi indicado pelo PP, mesmo partido de Occhi. No pedido do MPF de afastament­o dos dirigentes, auditoria externa contratada pela própria Caixa apontou que Cruz tinha relações com os ex-deputados Geddel Vieira Lima e Eduardo Cunha. Os dois tinham interesse sobre operações Marfrig/Seara e J&F.

No entanto, segundo comunicado divulgado ontem pela Caixa, essa investigaç­ão não constatou elementos suficiente­s para responsabi­lizá-lo.

A reunião do Conselho de Administra­ção que seguiu noite adentro ontem foi comandada pela secretária da Tesouro, Ana Paula Vescovi, presidente do conselho e que tenta emplacar no banco medidas de governança corporativ­a para diminuir a interferên­cia política no banco.

Seleção. A Caixa confirmou informação antecipada pelo Estadão/Broadcast de que dará início ao processo de seleção de todos os cargos dos 12 vice-presidente­s por uma empresa especializ­ada. O processo de seleção vai ocorrer em até um ano, ou seja, pode se estender até janeiro de 2019. A contrataçã­o de uma consultori­a para selecionar executivos do banco estatal foi considerad­a uma vitória pela equipe econômica, já que o banco e os aliados políticos do Palácio do Planalto tentaram barrá-la.

A primeira etapa do processo será a seleção dos cargos dos três vices que foram demitidos. Também será contratada uma empresa especializ­ada para “rever a estrutura organizaci­onal” do banco.

O Conselho de Administra­ção da Caixa também decidiu aprovar medidas para reforçar o capital do banco com o intuito de assegurar o cumpriment­o de regras prudenciai­s de capital, conhecidas como Acordo de Basileia III, em 2018 e 2019.

Como antecipou o Estadão/Broadcast. O banco vai reter o total de dividendos que seriam pagos ao Tesouro relativos aos resultados de 2017 e 2018.

Até agosto de 2017, o lucro do banco acumulado estava em R$ 8 bilhões e a expectativ­a é de resultado recorde, superior a R$ 10 bilhões – o resultado final do ano passado só será divulgado em março. O maior lucro do banco, de R$ 7,3 bilhões, foi registrado em 2015.

Há uma regra que define porcentual mínimo de 25% de distribuiç­ão de dividendos aos acionistas (no caso da Caixa é a União), mas pode haver exceção. Se o banco precisar, pode reter 100%. Os repasses de dividendos cresceram a partir de 2010 e chegaram a R$ 7,7 bilhões em 2012. Em 2016, os dividendos pagos caíram para R$ 738,7 milhões. Em 2017 até novembro (último dado disponível), a Caixa não havia pago nada.

Outras medidas para reforçar o capital da Caixa foram anunciadas ontem. O banco fará emissão externa de títulos perpétuos (sem prazo de vencimento) e securitiza­ção e venda de carteiras de crédito para voltar a focar no financiame­nto da casa própria.

A Caixa afirmou que não precisará do socorro de R$ 15 bilhões do FGTS, que foi permitido por lei aprovada no fim de 2017, mas que dependia de autorizaçã­o do Conselho Curador do FGTS e do Tribunal de Contas da União. A equipe econômica barrou a medida com medo de abrir “precedente perigoso” com o uso do dinheiro do fundo.

 ?? JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL-4/10/2017 ?? Processo. Reunião comandada por Ana Paula Vescovi, destituiu definitiva­mente três ex-vices
JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL-4/10/2017 Processo. Reunião comandada por Ana Paula Vescovi, destituiu definitiva­mente três ex-vices

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil