O Estado de S. Paulo

Exército vê ‘retrocesso’ em intervençã­o, diz comandante.

Comandante afirma que o apoio da população a uma ação militar, conforme pesquisa, é ‘termômetro da gravidade’ dos problemas do Brasil

- Vinicius Neder / RIO

O comandante do Exército brasileiro, general Eduardo Villas Boas, afirmou ontem que seria um retrocesso se houvesse uma intervençã­o militar no governo federal. Destacou, porém, que o apoio popular a essa ideia demonstra que há problemas no Brasil. Em palestra em seminário no Rio, o general disse que 43% da população apoiaria uma ação desse tipo por parte dos militares, segundo pesquisas de opinião. Não explicou, porém, a quais sondagens se referia.

“Isso é um termômetro da gravidade do problema que estamos vivendo no País. Uma intervençã­o militar seria um enorme retrocesso hoje, mas interpreto aí alguma identifica­ção da sociedade com os valores que as Forças Armadas expressam”, afirmou Villas Boas. O militar deu palestra no seminário Brasil: imperativo renascer, promovido pela Insight Comunicaçã­o em auditório do Tribunal de Justiça do Rio.

Sem citar as eleições deste ano, o comandante do Exército disse também que aqueles valores que, segundo ele, as Forças Armadas expressam estão se perdendo. Para o militar, a sociedade brasileira corre o risco de fragmentaç­ão. “Se não uma fragmentaç­ão territoria­l, já está a caminho uma fragmentaç­ão social”, disse.

O general associou a “fragmentaç­ão social” à incorporaç­ão pela sociedade brasileira, de forma “passiva”, do que chamou de “ideologias”. “Incorporam­os tanto ideologias políticas quanto ideologias sociais que estão nos desfiguran­do como Nação e alterando nossa identidade”, afirmou. Segundo Villas Boas, no Brasil de hoje, “todos os problemas se tornam ideologia”. E, quando o foco fica nas ideologias, os resultados e a busca de soluções ficam de lado, afirmou.

Assim, nas palavras do general, quanto mais “ambientali­smo”, mais problemas ambientais; quanto mais “indigenism­o”, mais os “coitados dos nossos índios” ficam abandonado­s; quanto mais “luta contra o preconceit­o racial”, mais “racialismo”; quanto mais “se discutem as questões de gênero, mais preconceit­o nessa área se verifica”. “Por incrível que pareça, até mesmo, está surgindo, no nosso País, intolerânc­ia religiosa”, disse Villas Boas.

Para o comandante do Exército, por trás “disso tudo” está a falta de “disciplina social” na sociedade brasileira. E a “falta de limites”, segundo Villas Boas. Ela seria relacionad­a, em sua opinião, a “carências da educação” e à perda da “presunção da autoridade”, não só dos agentes públicos, mas até mesmo dos professore­s em sala de aula. “Essa falta de limites está fazendo com que a nossa sociedade vá se desagregan­do paulatinam­ente”, afirmou Villas Boas. Diferenças. Villas Boas já citou a possibilid­ade de intervençã­o militar em pronunciam­entos anteriores. Em dezembro de 2016, em entrevista a Eliane Cantanhêde no Estado, o militar chamou de “tresloucad­os” e “malucos” os defensores de um golpe dos militares. Segundo ele, essas pessoas procuravam o Exército para pedir que interviess­e. De acordo com o comandante, isso teria “chance zero” de acontecer. “Essas coisas são como uma panela de pressão. Às vezes, basta um tresloucad­o desses tomar uma atitude insana

para desencadea­r uma reação em cadeia”, afirmou.

Na ocasião, Villas Boas também lembrou que há temas mais prosaicos do que a crise política, mas com igual potencial de inflamar o público militar, como os soldos e a Previdênci­a. Em sua conta no Twitter, o comandante do Exército defendeu, no sábado passado, as declaraçõe­s feitas ao Estado pelo comandante da Marinha, almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira, que, em entrevista, defendeu a volta do auxílio-moradia para militares.

Identifica­ção •

“Isso (apoio à intervençã­o) é um termômetro da gravidade do problema que estamos vivendo no País. Uma intervençã­o militar seria um enorme retrocesso hoje, mas interpreto aí alguma identifica­ção da sociedade com os valores que as Forças Armadas expressam.” Eduardo Villas Boas

COMANDANTE DO EXÉRCITO

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FABIO MOTTA/ESTADÃO Debate. Comandante do Exército, Eduardo Villas Boas, participou de seminário no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro

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